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Conheça a primeira mulher do Kuwait a caçar tornados e capturar relâmpagos

Sarah Al-Sayegh [Sarah Al-Sayegh]
Sarah Al-Sayegh [Sarah Al-Sayegh]

Nos dias escuros e chuvosos, a maioria das pessoas espera por ficar em casa, enroladas sob as cobertas. Muitos até consideram isso um dos maiores prazeres da vida.

Mas para Sarah al-Sayegh (39) sua ideia de diversão está literalmente no olho da tempestade.

Como uma caçadora de tempestades, Sarah fica empolgada ao perseguir tornados ferozes e registrar relâmpagos. No Colorado, Sarah sentiu o calor de um raio que caiu a poucos metros de sua posição. Em sua terra natal, foi atingida por ventanias estrondosas ao observar as grandes tempestades de chuva dançarem sobre o mar no Kuwait.

“Sinto a descarga de adrenalina como em nenhum outro momento, ao capturar a natureza em seus momentos mais estonteantes. Vemos isso nos filmes, mas nada se compara a testemunhar pessoalmente. Você quer ver mais e mais! Quer registrar mais e encontrar mais!”, disse Sarah.

Uma única tempestade pode criar mais de mil raios em questão de horas – enormes descargas elétricas que podem se espalhar, de maneira geral, por dois a três quilômetros. De acordo com a National Geographic, a carga contida em cada raio chega a atingir 30.000°C, uma temperatura cerca de cinco vezes mais quente que a superfície do sol.

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O calor tropical intenso, combinado com as brisas do mar e umidade costeira, cria uma mistura perfeita para formar tempestades, explicou Sarah.

Beco dos Tornados é um termo colonial a uma área entre EUA e Canadá onde a incidência de tornados é mais frequente. O termo foi usado pela primeira vez em 1952 como título de uma tese sobre tempestades nos estados do Texas, Oklahoma, Kansas, Dakota do Sul, Iowa, Illinois, Missouri, Novo México, Colorado, Dakota do Norte  e Minnesota. Trata-se de um termo adotado pela imprensa, embora o climatologistas identifiquem picos de atividade em diversas áreas e reconheçam o cinturão de tornados das Grandes Planícies [Sarah Al-Sayegh]

Beco dos Tornados é um termo colonial a uma área entre EUA e Canadá onde a incidência de tornados é mais frequente. O termo foi usado pela primeira vez em 1952 como título de uma tese sobre tempestades nos estados do Texas, Oklahoma, Kansas, Dakota do Sul, Iowa, Illinois, Missouri, Novo México, Colorado, Dakota do Norte  e Minnesota. Trata-se de um termo adotado pela imprensa, embora o climatologistas identifiquem picos de atividade em diversas áreas e reconheçam o cinturão de tornados das Grandes Planícies [Sarah Al-Sayegh]

“Tempestades são totalmente diferentes nos Estados Unidos e no Kuwait, devido às variações de temperatura na atmosfera, o que também afeta sua intensidade. Nos Estados Unidos, elas ocorrem constantemente, com potencial para destruir tudo em seu caminho, porque decorrem do encontro entre temperaturas árticas vindas do Canadá e o ar quente vindo do México. [No Kuwait], as tempestades tendem a ser mais brandas porque não há montanhas para empurrar o vento frio da Europa de encontro direto com o ar quente do Mar Arábico.”

O Oriente Médio, no entanto, sempre foi atingido por tempestades de areia e sedimentos.

Sarah, no entanto, reiterou que há casos registrados de danos graves no Kuwait decorrentes de chuvas fortes e inundações repentinas. Ela recordou das tempestades de poeira que varreram boa parte do Kuwait e da Arábia Saudita em 2011 e em 2018, acompanhada por chuvas intensas e enchentes em áreas residenciais. As chuvas torrenciais e os ventos devastadores resultaram em ao menos uma morte e 409 feridos no Kuwait, segundo o jornal The Kuwait Times.

Sua tempestade mais intensa e memorável ocorreu em 2016 no Texas. Enquanto Sarah e seus companheiros – dentre os quais, o renomado fotógrafo e videomaker, Mike Olbinski, vencedor do prêmio Emmy – estavam posicionados sob um conjunto de linhas de energia próximas a uma tempestade, prontos para capturar algumas imagens, um estrondoso trovão de raios atingiu a área poucos metros.

“Foi nossa pior experiência nos Estados Unidos, mas ainda assim tão emocionante! Mike nos alertou para sermos cuidadosos, pois estávamos sob linhas de energia, o que é muito perigoso durante tempestades de trovões. Um amigo fazia um giro de 360 graus com sua câmera durante uma chamada de vídeo com sua esposa, quando um enorme raio iluminou repentinamente o céu, a pouquíssimos metros de nós. Ouvimos estalos do outro lado da estrada e sentimos os pelos de nossas mãos e braços se arrepiarem. Estávamos tão perto de sermos atingidos por um raio! Tão assustadoramente perto!”, acrescentou.

Sarah começou a fotografar paisagens marítimas em 2005, depois de experimentar a câmera de seu pai. Questionada sobre o que faz uma boa foto, Sarah reiterou a importância da preparação completa. O perigo é inevitável ao perseguir tempestades. Portanto, é fundamental monitorar a meteorologia da área para uma semana, por meio de previsões do tempo e mapas de radar.

“Primeiramente, você precisa saber o que identificar nos mapas de previsão metereológica”, ela explicou. “Existem diversos modelos, como os modelos europeus, britânicos e americanos, que preveem as chances de chuvas intensas, trovões, etc. Eu monitoro os meus por uma semana e, no dia anterior, ligo para as autoridades locais e informo onde vou me posicionar e quais são os planos de saída. Há muito estudo, planejamento e análises antes de nossas operações. Devido às variações do nível do mar, tenho também de ler os pontos até 5.000 pés acima da superfície, o que consome bastante tempo.”

Ao posicionar-se, Sarah evita deslizamentos de terra e estradas não pavimentadas nas quais seu veículo pode atolar. “Em 2018, houve uma tempestade enorme no mar do Kuwait e eu estava tão animada para tirar uma fotografia dos raios contra o mar. No entanto, de repente, um vento poderoso soprou contra mim e jogou todas as minhas câmeras e lentes no chão. Aquilo destruiu todo o meu equipamento.”

A subcultura dos caçadores de tempestades abrange entusiastas de diversas profissões, desde meteorologistas e cientistas até milhares de pessoas que fazem isso por hobby. Nascida e criada no Kuwait, um pequeno país localizado no topo do Golfo, Sarah ganha a vida como contadora de um banco, mas realiza uma viagem anual aos Estados Unidos, país conhecido por ter a maior incidência de tornados no mundo, para exercer sua verdadeira paixão.

Tempestade [Sarah Alsayegh]

Tempestade [Sarah Alsayegh]

Porém, não é somente a emoção que atrai Sarah, mas também a responsabilidade que assumiu ao observar os efeitos das mudanças climáticas no planeta e os benefícios que suas descobertas trazem ao Centro Meteorológico do Kuwait. “Grandes momentos exigem grande paciência e preparação”, reafirmou.

Apesar de formações de nuvens e tempestades estruturadas serem frequentemente muito mais impressionantes, nos últimos tempos, devido ao impacto das mudanças climáticas nos padrões meteorológicos e no equilíbrio da natureza, Sarah tomou nota da maior frequência de eventos extremos no Oriente Médio.

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“Recentemente, nos últimos cinco ou seis anos, tenho visto tornados ocorrendo até mesmo na Arábia Saudita, todos os quais devem ser documentados adequadamente para que possam ser estudados, porque o clima vai se tornar cada vez mais severo devido às mudanças climáticas, e os sistemas de alerta e previsão precisam melhorar e operar de forma mais eficiente em toda a região”, advertiu Sarah. “As advertências ocorrem muito em cima da hora, em comparação com os sistemas nos Estados Unidos, onde todos os aspectos da atmosfera são discutidos, incluindo os níveis de altitude dos aviões. Isso ainda falta no sistema do Kuwait.”

“Há muitas mudanças acontecendo, algo bastante drástico em relação à natureza e ao clima, e precisamos estar preparados. Trata-se de uma emergência.”

Para Sarah, perseguir tempestades é uma forma eficaz de avançar em estudos meteorológicos, pois os dados coletados durante suas ações podem ajudar em pesquisas multidisciplinares. Ela também espera que suas operações de campo inspirem mulheres da região a se envolverem de forma mais ativa nas áreas de ciência e tecnologia.

“Meu maior objetivo é superar os estereótipos das mulheres do Oriente Médio. Nós podemos perseguir tempestades, podemos escalar montanhas. E se temos uma paixão, podemos dedicar todo o tempo e energia para persegui-la”, concluiu Sarah. “Quero ver mais mulheres árabes em nossa comunidade, para que estejam perto da natureza como pouquíssimas pessoas. É uma sensação muito poderosa.”

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