Nesta segunda-feira, 15 de maio, protestos ocorrerão em São Paulo, no Brasil e em todo o mundo contra uma das maiores injustiças da era contemporânea: a Nakba, catástrofe palestina, desde a formação do Estado de Israel na data, no ano de 1948, mediante limpeza étnica planejada, cujo mais novo capítulo são a nova onda de bombardeios massivos a Gaza desde dia 8 do mesmo mês.
Nos 75 anos da Nakba são milhares e milhares de vidas palestinas perdidas. Somente em 2023 já são mais de 130 assassinados, entre os quais mulheres e crianças, pelas forças de ocupação israelenses. Nessa conta estão os 31 estilhaçados pelas bombas disparadas sobre suas cabeças na Faixa de Gaza. Sob cerco criminoso há 16 anos – que tem matado inclusive bebês como Fatma al-Masri em março de 2022, por impedimento sionista de que deixem a estreita faixa até para receber tratamento médico –, os 2,4 milhões de habitantes de Gaza enfrentam uma dramática crise humanitária e bombardeios massivos como agora ou a conta-gotas, sob os olhos e negócios cúmplices de governos com o apartheid. Não à toa, o que os palestinos sob ocupação mais pedem quando recebem alguma visita é “contem ao mundo o que viram, porque a comunidade internacional nos abandonou”
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Na Nakba de 1948, e em apenas seis meses, as gangues paramilitares sionistas expulsaram violentamente 800 mil palestinos de suas terras e destruíram cerca de 500 aldeias. Algo como 20 mil foram assassinados em genocídios em dezenas de vilarejos que serviram de propaganda à limpeza étnica. Lamentavelmente essa lista não para de crescer e inclui demolições de casas, derrubada e destruição de milhares de oliveiras, novas ordens de expulsão em uma situação em que todos os direitos humanos fundamentais são violados.
Na contínua Nakba, a sociedade encontra-se inteiramente fragmentada. Hoje são 13 milhões de palestinos, metade em campos de refugiados ou na diáspora, impedidos do legítimo direito de retorno. A outra metade – em áreas ocupadas em 1948 ou em 1967 – enfrenta apartheid, racismo institucionalizado, além da colonização e limpeza étnica ainda em curso. Resistir não é uma escolha para o povo palestino. É existir, sob constante ameaça de apagamento.
A morte segue à espreita desde o nascimento. E Israel tem assassinado de diversas formas: no começo do mês de maio, o sheikh Khader Adnan pereceu após 87 dias de greve de fome, na cela em que foi jogado sem qualquer acusação formal – no sistema de detenção administrativa em que mais de mil presos políticos palestinos estão submetidos, de um total de 4.900, incluindo mulheres e crianças. Era sua 12ª passagem pelos sórdidos cárceres israelenses e sua sexta greve de fome contra a injustiça que, como seu povo, vivia. Bastante popular, o sheikh Khader Adnan – que era padeiro em sua aldeia, Arraba, e distribuía pão para as crianças – morreu de fome.
Sionismo em declínio
Israel não apenas promove assassinato deliberado como este, mas utiliza a resistência à morte de mais esse mártir palestino como a desculpa da vez de que Israel está se defendendo. Na verdade, para o apartheid e aliados, vidas palestinas não importam; o massacre em curso na estreita faixa de Gaza visa desviar a atenção para a crise interna enfrentada pelo sionismo sem máscaras, com a “extrema direita” no governo, numa tentativa também de reverter a queda livre de apoio a Benjamin Netanyahu e sua coalizão. A busca de ganhos políticos às custas do sangue palestino não é novidade.
Segundo reportagem publicada na Al Jazeera, uma pesquisa da TV pública sionista Canal 2 revelou que 74% dos israelenses considera que o governo vai mal. São meses de protestos gigantescos contra pretendida reforma judicial proposta pelo governo de Netanyahu, em que têm se juntado reconhecidos assassinos do povo palestino. No último dia 6 de maio foram mais de 100 mil às ruas de Tel Aviv, que levantam a bandeira sionista sob o mote de que a tal democracia israelense está ameaçada – uma farsa. Não há democracia sob apartheid. Qualquer denúncia, mesmo que mínima, da segregação e do racismo intrínsecos a um estado colonial como Israel, enclave militar do imperialismo na região do Oriente Médio e Norte da África, não é bem-vinda entre aqueles que defendem sua “democracia” etnocrática.
A crise interna se espraia para o coração do imperialismo, os Estados Unidos. Milhares de jovens e organizações judaicas, como Jewish Voice for Peace e Rede de Judeus Antissionistas, dizem: “Não em nosso nome.” Somam-se àqueles e àquelas que se recusam a silenciar, como as mais de duas dúzias de jornalistas exigindo justiça em Washington no caso do assassinato há um ano de sua colega palestino-americana Shireen Abu-Akleh, durante cobertura de operações de Israel em Jenin, na Cisjordânia ocupada, baleada por um franco-atirador israelense.
Emblemático dessa crise é o fracasso do congressista republicano Kevin McCarthy em conseguir impedir a realização no mesmo dia 11 de maio de um ato pelos 75 anos da Nakba promovido pela congressista democrata americano-palestina Rashida Tlaib, juntamente com o Jewish Voice for Peace, no campus do Capitólio. A sala, próxima ao Senado americano, lotou.
Tlaib apresentou uma resolução à Câmara dos Representantes dos Estados Unidos pelo reconhecimento da Nakba. A proposta diz que, sem enfrentá-la e “remediar suas injustiças contra o povo palestino”, não pode ser estabelecida uma “paz justa e duradoura. O texto evidencia que a Nakba está na raiz da questão.
No evento desta quarta, Tlaib foi categórica: “Digo alto e claro ao apresentar uma resolução histórica no Congresso: a Nakba aconteceu em 1948 e nunca terminou.” A ação é parte do processo de declínio do sionismo no seio da sociedade, sendo cada vez mais difícil obliterar seus crimes contra a humanidade. Há no Congresso americano pressão crescente contra o envio dos bilhões de dólares anuais em ajuda militar dos Estados Unidos a Israel.
Reflexo disso é a ampliação de vitórias do movimento BDS (boicote, desinvestimento e sanções) inclusive na América Latina e no Brasil, como o cancelamento da Feira das Universidades Israelenses na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que estava programada para 3 de abril último.
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Na esteira dessa vitória simbólica, urge fortalecer o movimento de BDS, exigindo dos governos brasileiro e estaduais o reconhecimento do apartheid israelense e então a ruptura dos acordos com o Estado racista de Israel, a começar pelo imediato embargo militar. São as mesmas armas testadas sobre as “cobaias” palestinas, como se vê agora em Gaza e na Cisjordânia, que promovem no Brasil o genocídio pobre e negro nas periferias e o extermínio indígena.
É preciso denunciar os crimes contra a humanidade promovidos pelo apartheid, já reconhecido inclusive pela Anistia Internacional. Para tanto, é fundamental a participação em atividades e manifestações marcadas para 15 de maio. Em São Paulo, na data, ocorrerá o ato unificado “75 anos da Nakba, a catástrofe palestina”, às 17h30, na Praça Oswaldo Cruz (perto do metrô Paraíso). O mote é “basta de limpeza étnica, colonização e apartheid”. No dia 16, às 19h, será a vez de audiência na Assembleia Legislativa de São Paulo, esta última chamada pela Frente em Defesa do Povo Palestino e Fórum Latino-Palestino. Solidariedade internacional efetiva é questão de vida ou morte.
Texto publicado originalmente no website do Instituto da Cultura Árabe (ICArabe), em 14 de maio de 2023
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