O Ministério de Relações Exteriores da Turquia revelou um “roteiro de execução” para o retorno dos refugiados sírios a seu país, incluindo “zonas neutras” e territórios sob controle do governo, a despeito da continuidade da guerra civil.
O esquema foi preparado após um encontro realizado em Moscou no começo de maio, entre os chanceleres de Rússia, Turquia, Síria e Irã.
Laços entre a Turquia e o regime sírio de Bashar al-Assad devem melhorar como parte do plano, em coordenação com os Ministérios da Defesa e da Inteligência dos quatro países. Os ministros enfatizaram o “retorno voluntário, digno e seguro dos refugiados sírios a sua terra”.
Em entrevista concedida à Haber Turk TV, o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, reconheceu que a questão dos refugiados sírios se tornou uma “ferramenta eleitoral” no pleito presidencial na Turquia, cujo segundo turno será realizado no próximo domingo (28).
No entanto, advertiu que a matéria não pode ser solucionada pelo “populismo da oposição”, de modo que demanda “soluções práticas”.
As acirradas eleições na Turquia puseram o candidato à reeleição, Recep Tayyip Erdogan – no poder há 20 anos – contra seu maior rival, Kemal Kilicdaroglu.
“Cerca de 500 mil sírios retornaram ao país, mas não basta”, insistiu Cavusoglu. “Entramos em diálogo com o regime em Damasco e decidimos instaurar uma infraestrutura para seu retorno. Estamos desenvolvendo um roteiro de execução que inclui retomar o processo político, limpar a Síria do terrorismo e garantir retorno seguro aos refugiados”.
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Conforme o ministro, é preciso coordenar com Assad o retorno dos refugiados. “A ONU pode se envolver neste quesito. Além disso, a União Europeia e a comunidade internacional podem nos conceder seu apoio ao programa”.
Cavusoglu destacou os acordos recentes entre Damasco e países do Golfo, sobretudo Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita. “O retorno do regime de Assad à Liga Árabe é algo favorável no momento”, argumentou, ao negligenciar a oposição do Catar ao suposto “consenso”.
O cronograma de retorno dos refugiados cobre o período de reconstrução da infraestrutura de base. Alguns países árabes, apontou o ministro, apoiam o plano.
A questão dos refugiados se tornou uma ferramenta eleitoral por ambas as partes nas eleições da Turquia.
Segundo estimativas oficiais, cerca de 3.5 milhões de sírios têm asilo no país. Parte da oposição alega que o número real é dez vezes maior e defende deportação. Erdogan ameniza o discurso, mas compartilha o mesmo resultado, isto é, o retorno dos refugiados a regiões instáveis.
Organizações de direitos humanos alertam que os refugiados que retornam à Síria permanecem sob risco de perseguição, prisão e tortura.
Durante a entrevista, Cavusoglu – homem forte do governo – acusou Kilicdaroglu de apelar aos refugiados para instilar medo na população. Além disso, negou acusações de ingerência russa nas eleições nacionais da Turquia. “Perguntamos ao líder da oposição se ele tem evidências de suas alegações; ele nos disse ter apenas uma impressão”, concluiu o ministro.
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