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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Israel matou 20 jornalistas desde 2001, ninguém foi punido, alerta órgão da categoria

Protesto em memória do assassinato da jornalista palestina Shireen Abu Akleh, em Tel Aviv, em 20 de maio de 2023 [Ahmad Gharabli/AFP via Getty Images]

Após um ano da execução da jornalista palestina Shireen Abu Akleh por um franco-atirador israelense, no campo de refugiados de Jenin, na Cisjordânia ocupada, está claro que o assassinato não representa um caso isolado, advertiu o Comitê de Proteção aos Jornalistas (CPJ).

A organização documentou em relatório 20 incidentes nos quais Israel executou profissionais de imprensa na Faixa de Gaza sitiada e na Cisjordânia ocupada, sem jamais assumir responsabilidade pelos crimes – portanto, ninguém foi punido.

Diversas agências ocidentais conduziram investigações independentes sobre a execução de Abu Akleh, dentre as quais, os americanos New York Times, Washington Post e Associated Press, além do coletivo de pesquisa holandês Bellingcat e o próprio CPJ.

Todas concluíram que o disparo letal partiu do exército israelense.

A CNN encontrou evidências de ataque deliberado, enquanto o grupo de pesquisa Arquitetura Forense, radicado em Londres, e o grupo de direitos humanos Al-Haq, em Ramallah, descobriram indícios de que um soldado israelense disparou contra Abu Akleh e seus colegas com intenção de matá-los.

LEIA: Shireen Abu Akleh e a defesa da causa palestina

De acordo com Amir Ben David, correspondente militar do jornal Times of Israel: “Meses após a tragédia que incorreu a Shireen, um inquérito militar israelense concluiu que havia ‘alta probabilidade’ de que um de seus soldados havia disparado ‘por engano’ contra ela, durante uma suposta troca de tiros com militantes palestinos”.

Em reportagem traduzida ao árabe pela rede Arabi21, Ben David confirmou que Israel matou ao menos 18 jornalistas palestinos e europeus sem indiciar nenhum soldado ou reconhecer a responsabilidade pelas mortes.

“O exército israelense alega consistentemente que seus soldados estão sob ataque, ao justificar seus disparos letais como retaliação”, acrescentou. “O exército, porém, não apresenta evidências. Em alguns casos, classifica os jornalistas como terroristas; em outros casos, sequer abre uma investigação”.

Guillaume Lavalle, chefe da Associação de Imprensa Estrangeira em Israel, destacou: “A maioria dos israelenses não se importa com a morte de palestinos, mesmo jornalistas”.

Conforme seu relato, isso criou um ambiente de risco a correspondentes locais e estrangeiros, muitos dos quais receosos de que se tornem alvo das agressões israelenses. “Se é possível executar um repórter com passaporte americano, como Shireen, sem quaisquer consequências legais, todos os jornalistas temem então o mesmo destino”.

Após o ataque israelense contra a Flotilha da Liberdade, em 2010, quando nove cidadãos turcos foram mortos a bordo do Mavi Marmara, o então promotor-chefe do exército israelense, Avichai Mandelblit, percebeu um problema ascendente junto ao Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia.

Sob receios de que agentes de alto escalão fossem julgados e presos, Mandelblit estabeleceu uma comissão de peritos em direito internacional. “Israel foi obrigado a cumprir certos padrões”, comentou Lavalle. No entanto, sem medidas na prática.

Quando Abu Akleh foi morta, a pressão internacional foi tamanha que Israel não pôde empregar suas táticas evasivas. Desta forma, reconheceu – relutantemente – um incidente culposo e chegou a lamentar o caso. Contudo, novamente, não indiciou nenhum oficial.

O relatório do CPJ confirma, não obstante, que os ataques de Israel a jornalistas palestinos e estrangeiros refletem um meticuloso cálculo político e estratégico da ocupação.

Acesse aqui o relatório completo (em inglês).

LEIA: Israel atacou 215 jornalistas em Jerusalém e Cisjordânia em 2022, confirma relatório

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