O presidente Recep Tayyip Erdogan venceu o segundo turno das eleições presidenciais da Turquia, realizadas neste domingo, 28 de maio de 2023, após a campanha mais acirrada na história da República.
Mais de 64.1 milhões de pessoas estavam registradas para votar, incluindo 1.76 milhão no exterior e 4.9 milhões de eleitores de primeira viagem.
Erdogan, no poder desde 2003, conquistou um novo mandato de cinco anos. Três vezes premiê, Erdogan mudou a Constituição para se manter no poder como presidente por dois mandatos. Esta é a primeira vez na história da Turquia que uma eleição ao executivo vai ao segundo turno.
Com 97% das urnas apuradas, o presidente confirmou sua vitória com 52.1% dos votos, à frente do adversário, Kemal Kilicdaroglu, com 47.9% dos votos. Os números foram divulgados pela agência de notícias Anadolu, reportou a Al Jazeera. Os números finais devem ser corroborados nas próximas horas pelo Supremo Tribunal Eleitoral da Turquia.
No primeiro turno, em 14 de maio, Erdogan saiu à frente, com 49.52% dos votos contra 44.88% de Kilicdaroglu. O candidato de extrema-direita Sinan Ogan ficou com 5.17% dos votos. Nas eleições parlamentares, realizadas simultaneamente, o bloco governista obteve a maioria, com 323 assentos das 600 vagas ao Congresso Nacional.
Mais de 30 partidos e 150 candidatos independentes ao parlamento competiram nas eleições, distribuídos em cinco blocos: a Aliança Popular, liderada pelo Partido Justiça e Desenvolvimento (AK), de Erdogan; a Aliança Nacional, encabeçada pelo Partido Republicano do Povo (CHP), de Kilicdaroglu; a Aliança Ancestral, de Ogan, de extrema-direita; a Aliança Trabalho e Liberdade; e a Aliança da União das Forças Socialistas, ambas de esquerda.
Na última segunda-feira (22), Erdogan obteve o apoio declarado do terceiro colocado, considerado crucial para determinar os resultados do pleito.
As eleições na Turquia atraíram atenção internacional. O país é membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), muito embora o atual governo seja considerado aliado do presidente da Rússia, Vladimir Putin, em detrimento dos Estados Unidos e da União Europeia.
Após perder popularidade, devido à crise econômica no país, Erdogan assumiu uma guinada aberta à direita conservadora, incluindo movimentos ultranacionalistas. Apesar de o país ter acolhido 3,5 milhões de refugiados sírios, conforme acordo estratégico com a Europa de 2016, a pauta dos imigrantes se tornou bode expiatório a ambos os lados na disputa eleitoral.
Na última semana, Kilicdaroglu – na tentativa de flertar com o voto ultranacionalista – prometeu deportar todos os refugiados do país, ao exagerar o índice a dez milhões de pessoas. Erdogan adotou um discurso semelhante, embora mais ameno, ao insistir no “retorno seguro e voluntário” dos requerentes de asilo.
Grupos de direitos humanos advertem que o retorno dos refugiados não é seguro, dado que a Síria continua sob guerra civil, sem solução política no horizonte. Relatos de perseguição, encarceramento e tortura nas mãos do regime de Bashar al-Assad – incluindo contra refugiados que retornam ao país – ainda são comuns.
Erdogan e Kilicdaroglu votaram com as esposas em torno das 12h00 (6h00 de Brasília), em Istambul e Ancara, respectivamente. Os colégios eleitorais da Turquia fecharam as portas às 17h00 locais.
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