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Sob pretexto de demarcar ‘parque nacional’, Israel anexa complexo religioso na Cisjordânia

Forças israelenses demolem prédio palestino no bairro de Jabel Mukaber, em Jerusalém ocupada, em 24 de maio de 2023 [Mostafa Alkharouf/Agência Anadolu]

O complexo histórico de Nebi Sanwil (Túmulo de Samuel), na Cisjordânia ocupada, que abriga uma mesquita, uma igreja e uma sinagoga, foi anexado ilegalmente por Israel sob pretexto de demarcar um “parque nacional”, em detrimento da população árabe nativa, reportou o jornal Haaretz.

Designar aldeias e cidades varridas do mapa como “parques nacionais” representou a primeira fase dos esforços de colonização e limpeza étnica da Palestina histórica, em curso até hoje.

Durante a Nakba (“catástrofe”), em maio de 1948, quando foi criado o Estado de Israel, mais de 750 mil palestinos – ou três quartos da população nativa – foram expulsos de suas terras; seiscentas aldeias e cidades foram destruídas. Muitos lugares foram transformados em reservas naturais como parte do memoricídio imposto pelo projeto sionista.

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Um destino semelhante parece aguardar os residentes palestinos remanescentes da aldeia milenar de Nebi Samwil.

De acordo com as tradições abraâmicas, a área é local de sepulcro do Profeta Samuel, sagrado tanto a muçulmanos quanto judeus e cristãos. A mesquita local recebe preces durante todo o dia, assim como sua igreja erguida no tempo das Cruzadas.

Até a Guerra dos Seis Dias, em 1967, a mesquita e o túmulo eram guardados pelos cerca de mil residentes da aldeia palestina de Nebi Samwil. No entanto, a maior parte das famílias foi expulsa de suas terras durante a brutal captura militar israelense da Cisjordânia. Desde então, os palestinos nativos e seus descendentes são proibidos de retornar à aldeia.

O plano de expropriação de Nebi Samwil se consolidou em 1971, quando a então premiê de Israel, Golda Meir, ordenou a seu exército que demolisse as 46 casas da aldeia.

Arquivos oficiais mostram que as residências palestinas foram destruídas para dar lugar a um assentamento composto por mil casas de campo, destinadas a “judeus abastados”.

O plano, não obstante, jamais chegou a seu estágio final, à medida que entidades ambientais contestaram as obras como risco iminente ao ecossistema. Com o tempo, tornou-se evidente também que as terras em questão pertenciam legalmente aos palestinos nativos.

Em alusão às famílias palestinas ainda radicadas nos arredores de sua aldeia ancestral, o então procurador-geral de Israel, Meir Shamgar, afirmou em 1973 que “caso os proprietários da terra estejam presentes, não é possível expropriá-las”.

Vinte e dois anos depois, duas semanas antes da assinatura do segundo acordo de Oslo, líderes israelenses decidiram estabelecer à força “fatos em campo”, ao assumir medidas para impossibilitar que a anexação ilegal fosse revertida. Em franca violação do direito internacional, a região de Nebi Samwil foi então declarada “parque nacional”.

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“Criar o parque foi uma admissão de que a terra não poderia ser tomada”, explicou a jornalista Amira Hassa ao Haaretz. “Ao reconhecer que a área não poderia ser tomada tampouco desenvolvida, Israel recorreu a um truque político para que absolutamente ninguém realizasse quaisquer obras no local”.

“Na prática, [Israel] criou uma espécie de Disneylândia sobre as terras palestinas, ao remover até mesmo a placa que diz Nebi Samwil”, prosseguiu Hassa. “Criou-se, desta forma, um novo enclave judaico na Cisjordânia ocupada”.

Residentes palestinos que ainda vivem no “parque” nada podem fazer para melhorar suas vidas. Não podem construir em seus terrenos de direito tampouco reformar seus lares. Não podem cultivar árvores ou plantações, instalar redes de esgoto ou cercar suas propriedades.

Há duas décadas, desde a construção do Muro do Apartheid – que separa colonos judeus dos palestinos nativos –, os residentes são completamente isolados de comunidades irmãs. Numerosas aldeias e cidades palestinas, como Nebi Samwil, vivem ainda hoje sob um sistema israelense análogo aos bantustões sul-africanos, marcados pela segregação racial.

Ao descrever o sofrimento dos palestinos de Nebi Samwil, o professor israelense Idan Landau comentou: “Os 250 residentes da aldeia vivem hoje em uma gaiola intolerável. São separados por barreiras militares do restante da Cisjordânia, além de uma rodovia cuja exclusividade de uso [a colonos ilegais] equivale ao apartheid”.

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