Na história da Palestina existem muitos grandes líderes que sacrificaram tudo para defender sua terra e sua causa. No entanto, sabemos muito pouco sobre eles e sua história quase esquecida. É claro, há muitas razões para isso: ignorância, indiferença e negligência das autoridades responsáveis. Infelizmente, em alguns casos, tamanha negligência é deliberada. Por décadas, a história de sua luta desapareceu das páginas dos livros e não obteve seus direitos de divulgação na imprensa. Portanto, como pesquisadores e profissionais de mídia, temos o dever de estudar e pesquisar a biografia desses heróis para transmitir seu legado às novas gerações e erguer um farol para a libertação da Palestina.
(Episódio 9)
Sheikh Abdel Fattah Zaben
O sheikh Abdel Fattah Zaben foi um influente líder da região central de Ramallah e arredores, durante a Grande Revolução Palestina contra o Mandato Britânico, entre 1936 e 1939, e da resistência armada contra gangues sionistas durante a Nakba – ou “catástrofe”, como ficou conhecida a criação o Estado de Israel, mediante limpeza étnica, em 1948.
Zaben se tornou um dos símbolos da resistência naquele período, como testemunha de todas as etapas da luta palestina. Era conhecido por sua coragem, inteligência e dedicação à libertação de seu país. Considerava a revolução como um modo de vida e um verdadeiro dever, sem jamais buscar crédito ou ganhos financeiros.
Sua vida começou como órfão, vitimado pela pobreza e pela fome, mas culminou na construção de um líder em defesa da dignidade de seu povo. Após décadas de luta e perseguição, faleceu enquanto cultivava sua terra.
Abdel Fattah Zaben nasceu em 1907 na cidade de al-Mazraa al-Sharqiah, a nordeste de Ramallah. Sua infância foi bastante árdua, pois sua família de agricultores sofreu duramente com as crises então impostas ao Oriente Médio, sobretudo problemas econômicos, políticos e administrativos que infligiram a Palestina nos últimos anos de Império Otomano. Seu pai faleceu quando Zaben era apenas criança. O menino foi então adotado por uma família jordaniana, com quem viveu por seis anos, perto do rio Jordão. Devido às circunstâncias, Zaben cresceu longe de parentes de sangue. Entretanto, tais atribulações desempenharam um papel crucial na construção de seu caráter, que culminaria em um proeminente papel de liderança nacional.
Zaben trabalhou como agricultor na região de Ramallah, mas se mudou para Haifa, onde serviu como operário na construção das novas ferrovias. Na cidade costeira, passou a frequentar a chamada Mesquita da Independência, onde conheceu e se tornou companheiro do sheikh Izz al-Din al-Qassam. Zaben logo se tornou comandante de um esquadrão de resistência cuja missão era eliminar agentes que colaboravam com as tropas coloniais britânicas.
Zaben participou ativamente da Grande Revolução Palestina, entre 1936 e 1939, e assumiu a liderança da insurreição na região de Ramallah e oeste do rio Jordão, sob recomendação de Hajj Amin al-Husseini. Neste entremeio, passou a viajar por diversas partes do território com intuito de mobilizar o maior número possível de pessoas para lutar nas fileiras revolucionárias. Sua filosofia era construir uma revolução em favor dos interesses do povo, sem jamais subjugá-lo, ao combater a sedição e o faccionalismo, robustecer o tecido social e unificar a resistência. Zaben foi consideravelmente bem-sucedido ao combater o colonialismo britânico e as gangues sionistas que antecederam a Nakba.
Após o fim da revolução, partiu para o Iraque e juntou-se à revolução de Rashid Ali al-Gaylani contra a colonização britânica no país. Em seu caminho de retorno à Palestina, foi detido por tropas coloniais francesas na Síria e transferido à prisão de Mezzeh. Contudo, conseguiu escapar e chegar a sua terra, onde viveu entre 1941 e 1947, apesar da persistente perseguição do Mandato Britânico. Forças coloniais costumavam invadir a casa de sua família para procurá-lo, mas sua vigilância e planejamento – além da constante colaboração popular – antecipavam os movimentos de seu adversário.
Zaben participou de diversas batalhas, incluindo Shuafat e al-Qastal, onde combateu ao lado de Abdul Qadir al-Husayni contra as gangues sionistas. Zaben foi posteriormente creditado como líder da resistência na região central e nas áreas montanhosas que conectam Nablus e Ramallah.
Após a Nakba, no início da década de 1950, sob veemente perseguição sionista, emigrou ao Brasil. No entanto, não conseguiu se adaptar e regressou à Palestina para trabalhar como agricultor em sua terra, até sua morte em 1999. Abdel Fattah Zaben foi sepultado em sua cidade natal – al-Mazra’a al-Sharqiya – após uma biografia extensa de sangue e suor em nome da libertação da Palestina. Um funeral solene foi realizado em sua homenagem; milhares de palestinos viajaram à cidade para celebrá-lo.
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