O célebre professor anglo-israelense Avi Shlaim, do departamento de Relações Exteriores da Universidade de Oxford, descobriu “provas irrefutáveis” de que sionistas foram responsáveis por alvejar judeus no Iraque para obrigá-los a fugir e se assentar no Estado de Israel.
Shlaim apresentou sua tese em sua autobiografia, que detalha sua infância como um judeu iraquiano e seu subsequente exílio em Israel. A obra foi publicada na última semana, com o título Three Worlds: Memoirs of an Arab-Jew (Três mundos: Memórias de um árabe judeu).
A revista Spectator publicou uma resenha no sábado (17), dando enfoque à tese chocante de Shlaim. A razão pela qual judeus árabes deixaram o Iraque e outros países da região rumo ao novo Estado, após dois mil anos de convivência com muçulmanos, ocasiona controvérsias há décadas.
Em meados de 1948 e nos anos seguintes, nos eventos da Nakba – ou “catástrofe”, quando foi criado o Estado de Israel, mediante limpeza étnica – colonos foram exortados a migrar à Palestina histórica para substituir a população árabe nativa.
Uma combinação de fatores buscou estimular a imigração de árabes judeus, incluindo promessas bíblicas e de congregação comunitária.
Israel e ideólogos do incipiente Estado de apartheid costumam declarar que a perseguição das comunidades judaicas por seus vizinhos árabes os levou a deixar suas terras nativas. A alegação, não obstante, é bastante refutável.
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De fato, como reportou Shlaim, Israel realizou uma série de operações sob bandeiras falsas para “coagir” a migração. A episódio mais infame é o “Caso Lavon”, no qual judeus egípcios foram alistados pela inteligência militar sionista para plantar bombas em alvos britânicos e americanos, incluindo igrejas e bibliotecas.
De 1950 a 1951, conforme as informações, a agência de espionagem Mossad orquestrou ao menos cinco atentados a bomba contra judeus em uma operação conhecida como Ali Baba, para alimentar o pânico entre os judeus iraquianos.
Neste contexto, mais de 120 mil judeus – 95% da comunidade no Iraque – deixaram o país rumo a Israel, por meio das operações de transporte aéreo Ezra e Nehemiah.
Tel Aviv costuma minimizar o papel do Mossad no processo de migração. Shlaim – nascido em Bagdá em 1945, em uma família próspera de árabes judeus – contesta a narrativa. Em sua memória, o professor recorda como sua vida piorou drasticamente após uma série de ataques a bomba atingirem a comunidade judaica iraquiana em 1950.
Sob perigo, a família de Shlaim tomou a difícil decisão de fugir a Israel, deixando para trás seu conforto para ter de se adaptar a uma nova existência.
Segundo Shlaim, ao contrário do mito de refúgio aos árabes judeus, o movimento sionista eurocêntrico e seu regime segregacionista de fato agravaram divisões na comunidade, ao favorecer a nova “identidade hebraica” em detrimento do árabe e incitar inimizade entre judeus e muçulmanos.
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Além disso, as forças divisivas israelenses trabalharam ativamente para apagar o que Shlaim descreve como um patrimônio antigo de “pluralismo, tolerância religiosa, cosmopolitismo e coexistência”. “Acima de tudo, o sionismo nos desencorajou de buscar uns aos outros como seres humanos”, acrescenta sua obra.
Shlaim reitera ainda que judeus mizrahim, como ele, originários do Oriente Médio, sempre enfrentaram discriminação dos asquenazes, oriundos da Europa. Cidadãos mizrahim ainda estão dentre as comunidades mais pobres de Israel, vivendo em bairros subdesenvolvidos.