A França chegou a sua terceira noite de protestos após um policial matar a tiros um cidadão franco-argelino de 17 anos. A primeira-ministra Élisabeth Borne confirmou avaliar todas as alternativas para “restaurar a lei e a ordem”, incluindo um estado de emergência.
Borne afirmou à imprensa nesta sexta-feira (30) que realizará uma reunião emergencial com o presidente Emmanuel Macron durante a tarde. O jornal Le Figaro observou que o governo deve adotar medidas “sem tabu”, enquanto Macron deixava às pressas uma cúpula da União Europeia em Bruxelas.
O presidente deve ser informado sobre a crise por Borne e pelo ministro do Interior, Gerald Darmanin, após a situação escalar desde terça-feira (27), quando um oficial de polícia matou à queima roupa o jovem Nahel M., na periferia de Nanterre, em Paris.
A promotoria indiciou o policial por homicídio doloso, ao colocá-lo em detenção preventiva.
Desde a deflagração dos protestos, no entanto, centenas de pessoas foram presas em todo o país, incluindo nas cidades de Paris, Bordeaux, Lyon, Roubaix, Marselha, Lille e outras.
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Manifestantes atearam fogo a edifícios públicos e montaram barricadas. Cidades e subúrbios de Paris impuseram toque de recolher para conter os protestos. Estima-se que 942 prédios foram alvejados e dois mil veículos incendiados, segundo Macron.
Mãe denuncia crime racial
A mãe do jovem morto no trânsito por um agente da polícia crê que o assassinato do filho se deu por motivações racistas, reportou a agência de notícias Anadolu.
Mounia, mãe de Nahel, relatou em entrevista à emissora de televisão France 5 que o policial “viu o rosto de um árabe, de um menino” e se sentiu tentado a “tomar sua vida”. A mãe não quis culpar a instituição, mas o agente a serviço. Porém, pediu justiça.
Segundo as autoridades, Nahel violou uma série de leis de trânsito e desacatou ordens para parar seu veículo. O episódio, no entanto, culminou em sua morte.
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Laurent-Franck Lienard, advogado da polícia, alegou à emissora BFMTV que seu cliente está “devastado” e pede “perdão” aos familiares do jovem assassinato. “Meu cliente não acorda de manhã para matar ninguém”, insistiu o advogado.
Repressão e confrontos
A França é conhecida pela intensidade de seus protestos.
O Ministério do Interior reportou no Twitter que ao menos cem pessoas foram presas nesta quinta-feira (29).
Manifestantes tentaram incendiar o prédio da prefeitura de Clichy, no subúrbio noroeste de Paris, conforme um vídeo que viralizou nas redes sociais.
Meudon, a 9.1 km do centro da capital, impôs um toque de recolher das 22h00 às 6h00 da manhã. Jean-Didier Berger, prefeito da comuna de Clamart, a 8.7 km de Paris, impôs um toque de recolher das 21h00 às 6h00 até segunda-feira (3).
Valérie Pécresse, presidente do conselho regional de Île-de-France, anunciou a suspensão de serviços de transporte público em Paris e arredores, após as 21h00 desta quinta.
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A polícia parisiense recebeu aval para usar drones durante a madrugada desta sexta, assim como os departamentos de segurança dos distritos de Hauts-de-Seine, Seine-Saint-Denis e Val-de-Marne.
Um agente foi ferido em Marselha, afirmou uma fonte policial. Cinco pessoas foram presas. Em Lille, seis pessoas foram presas. Barricadas foram montadas na cidade de Toulouse.