A Rússia lançou esforços para tomar controle do “império global” construído pelo grupo de mercenários Wagner, reportou na quarta-feira (28) o Wall Street Journal. Representantes do Ministério de Relações Exteriores entraram em contato com os governos da Síria, República Centro-Africana e Mali, segundo as informações.
O vice-chanceler russo, Sergey Vershinin, viajou a Damasco para contactar o presidente sírio Bashar al-Assad e instá-lo a manter tropas do grupo Wagner na Síria. Em nota, o gabinete de Assad confirmou que o assunto foi debatido “à luz dos recentes eventos”.
Conforme duas fontes próximas à matéria, forças do grupo Wagner – que operam na Síria de maneira independente – foram enviadas a uma base aérea na cidade portuária de Latakia, sob gestão do Ministério da Defesa da Rússia, à espera de instruções.
Telefonemas à África
Para conter o motim em potencial e manter suas operações na África, o Kremlin telefonou a seguir ao presidente da República Centro-Africana, Faustin-Archange Touadera, cuja guarda pessoal inclui combatentes do grupo Wagner.
LEIA: Wagner passa das sombras para os holofotes
Diplomatas asseguraram à presidência em Bangui que a crise deflagrada no sábado (24) não afetaria atividades na África. Fidele Gouandjika, assessor de Touadera, descreveu a questão como assunto interno da Rússia, ao minimizar o impacto em seu país.
“É animador saber que nada mudou”, afirmou Gouandjika. “Caso Moscou decida chamá-los de volta e nos enviar Mozart ou Beethoven em seu lugar, está tudo bem”.
Jatos no Mali
Jatos do Ministério de Situações Emergenciais da Rússia voaram da Síria ao Mali e vice-versa, para assegurar a continuidade da presença do grupo Wagner no país africano, em nome de seus interesses geopolíticos na região.
No Mali, mercenários sob escolta de aeronaves e helicópteros militares da Rússia, ajudam a combater a persistente insurgência desde 2012.
“O grupo Wagner ajudou Moscou a ampliar influência”, explicou J. Peter Pham, ex-enviado especial dos Estados Unidos para o Sahel. “O governo reluta agora em desistir disso”.
LEIA: Tensões com grupo Wagner são ‘questão interna’ da Rússia, afirma Teerã
Cerca de seis mil mercenários provêm serviços fora da Rússia e da Ucrânia, desde segurança privada à limpeza de minas na República Centro-Africana, cuja guerra civil supera dez anos, a defesa de poços de petróleo e territórios do governo na Síria – em situação análoga.
Países ocidentais tomaram medidas para conter atividades e influência do grupo Wagner no exterior. Nesta semana, Washington anunciou sanções a mineradoras sediadas na África que eventualmente ajudem a financiar operações na Ucrânia.
Oficiais americanos confirmaram que novas sanções contra a empreiteira militar russa serão anunciadas nos próximos dias.
Prigozhin versus Putin
Yevgeny Prigozhin, fundador do grupo Wagner, acusou o exército russo de conduzir ataques a seus agentes e ameaçou retaliar. Seus soldados deixaram a Ucrânia e ocuparam a cidade de Rostov-on-Don, no sul da Rússia.
Em resposta, o Serviço de Segurança Federal da Rússia (FSO) abriu um processo penal contra Prigozhin, sob acusações de sedição. O presidente russo Vladimir Putin rechaçou o ensaio de insurreição de seu antigo aliado como “traição”.
LEIA: Rússia retira mercenários da Líbia em meio a reveses na invasão da Ucrânia
Prigozhin afirmou seguir a Moscou à medida que o Kremlin ampliava ações de segurança em todo o país. Segundo relatos, o chefe dos mercenários aceitou a proposta do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, para atenuar a crise.
Prigozhin ordenou meia-volta a seus comboios. O Kremlin, por sua vez, fechou o processo e concedeu o indulto ao “líder rebelde”.
“Hoje, você pode escolher entre continuar a servir a Rússia ou retornar a sua família e seus amigos, ao encerrar seu contrato com o Ministério da Defesa”, declarou Putin à televisão, na segunda-feira (26). “Se você quiser, pode ir também a Belarus”.