Na história da Palestina existem muitos grandes líderes que sacrificaram tudo para defender sua terra e sua causa. No entanto, sabemos muito pouco sobre eles e sua história quase esquecida. É claro, há muitas razões para isso: ignorância, indiferença e negligência das autoridades responsáveis. Infelizmente, em alguns casos, tamanha negligência é deliberada. Por décadas, a história de sua luta desapareceu das páginas dos livros e não obteve seus direitos de divulgação na imprensa. Portanto, como pesquisadores e profissionais de mídia, temos o dever de estudar e pesquisar a biografia desses heróis para transmitir seu legado às novas gerações e erguer um farol para a libertação da Palestina.
(Episódio 10)
Hajj Amin al-Husseini
Hajj Amin al-Husseini nasceu em Jerusalém em 1895, onde recebeu sua educação básica até ingressar na Universidade Al-Azhar, na cidade do Cairo, capital do Egito. Peregrinou a Meca com sua família em 1913 – fundamento islâmico conhecido como Hajj. Foi então que obteve o epíteto “al-Hajj”, que manteve até a sua morte.
Seu pai o enviou a Istambul em 1915, para concluir seus estudos. O jovem al-Husseini, porém, decidiu ingressar no Colégio Militar. Pouco antes do fim da Primeira Guerra Mundial, al-Husseini se juntou às fileiras da Revolução Árabe liderada pelo príncipe iraquiano Faisal. Após o advento do Mandato Britânico na Palestina, al-Husseini foi designado à escolta especial do comandante militar das forças coloniais, em 1918, cargo que renunciou em protesto a políticas favoráveis ao movimento sionista.
Neste contexto, trabalhou como professor em Jerusalém. Em seguida, foi eleito presidente do Clube Árabe de Jerusalém, primeira organização política na Palestina a se opor publicamente à Declaração Balfour – documento do então chanceler britânico em favor da criação de um estado judaico nas terras árabes. Em 1920, forças coloniais o condenaram a prisão, por liderar manifestações populares. Não obstante, al-Husseini conseguiu fugir para al-Karak e então a Damasco.
Retornou a Jerusalém pouco depois e sucedeu seu falecido irmão mais velho, Kamel, como mufti da cidade, em maio de 1921. Em janeiro seguinte, foi nomeado também chefe do Supremo Conselho Islâmico. Mais tarde, as autoridades britânicas o acusaram de orquestrar a Revolução de al-Buraq em 1929. Al-Husseini manteve ambos os cargos de destaque – além da liderança secreta do movimento nacional – até ser expulso do território palestino em 1937.
Em 1931, al-Husseini supervisionou a realização da Conferência Geral Islâmica em Jerusalém, com intuito de mobilizar o mundo islâmico contra os avanços sionistas. Como resultado, sua reputação se propagou a outros países árabes e islâmicos. Em 1933, visitou uma série de países – Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, entre outros – com a missão de pedir apoio à causa palestina.
Em 1936, chefiou o Alto Comitê Árabe, que incluía líderes de todos os partidos palestinos, e se tornou uma das figuras de destaque da greve geral daquele mesmo ano e da subsequente revolução nacional, entre 1936 e 1939. Na ocasião, ambas as mobilizações populares buscavam se opor à recomendação de partilha da Palestina pela Comissão Peel.
Após o assassinato de Louis Andrews – comandante da brigada colonial para a região da Galileia –, em setembro de 1937, o governo britânico removeu al-Husseini da presidência do Conselho Islâmico e decretou a prisão de membros do Alto Comitê Árabe, incluindo o próprio. Al-Husseini se escondeu na Mesquita de Al-Aqsa e partiu a Jaffa, no Líbano, de onde comandou a revolução a partir do exílio. Sua mobilização durou até a deflagração da Segunda Guerra Mundial, em 1939, que o obrigou a deixar o estado levantino e se refugiar novamente no Iraque, sob perseguição das autoridades coloniais francesas.
Em 1946, foi criado o Comitê Superior da Liga Árabe, cuja presidência foi preenchida por al-Husseini durante seu período de diáspora no Egito. O órgão assumiu a liderança no movimento nacional palestino durante os últimos anos do Mandato Britânico e se opôs à resolução de partilha das Nações Unidas em 1947. Al-Husseini representou a causa palestina entre 1946 e 1948, quando viajou do Cairo a Beirute e Damasco, em busca de apoio.
Al-Husseini contrapôs ainda a intervenção de forças regulares árabes na Palestina após o fim do Mandato Britânico, em meio à partilha que culminou na Nakba – ou “catástrofe”, como ficou conhecida a criação do Estado de Israel, mediante limpeza étnica, em 1948. Neste viés, seu pressuposto era de que os próprios palestinos fossem abastecidos com armas e recursos, para fortalecer comitês regionais e nacionais. Al-Husseini exigia a formação de um governo palestino próprio logo após o final do Mandato Britânico e manteve sua determinação em retornar à Palestina para supervisionar e colaborar com o processo. Contudo, a oposição dos governos do Iraque, Transjordânia e Grã-Bretanha impediu a Liga Árabe de deferir o plano.
Após a Nakba, com a anexação da Cisjordânia pela monarquia hachemita da Jordânia e da Faixa de Gaza pelo governo egípcio, o papel de al-Husseini e seu comitê passaram a minguar. Neste contexto, o veterano palestino se estabeleceu no Líbano, onde passou seus últimos anos sem jamais abandonar seus apelos por resistência armada e libertação nacional. Al-Husseini reiterou ainda a questão dos refugiados, por meio dos trabalhos de sua agência em Damasco e Beirute, além de suas viagens às mais diversas capitais do mundo.
Hajj Amin al-Husseini era um homem de opinião forte e determinação, que não recuava perante as adversidades. Desempenhou um dos mais proeminentes papeis políticos na Palestina sob o Mandato Britânico, ao manter contato com o mundo árabe e islâmico. Não obstante, não conseguiu resistir aos avanços sionistas na fase mais crítica. Faleceu no exílio, na cidade de Beirute, em 1974; foi sepultado no Cemitério dos Mártires.