O regime sírio de Bashar al-Assad esteve diretamente envolvido na criação e paramentação de milícias conhecidas como “shabiha” no começo da guerra civil, confirmaram documentos oficiais analisados pela Comissão de Responsabilidade e Justiça Internacional (CIJA).
De acordo com as informações, figuras de alto escalão “planejaram, organizaram, instigaram e empregaram” os shabiha – termo em árabe que significa “fantasmas” – em favor de Assad e sua repressão brutal que deflagrou o duradouro conflito.
Em 2 de março de 2011, segundo os documentos, a inteligência síria instruiu autoridades locais – por meio de Comitês de Segurança administrados pelo partido governista Baath – a “mobilizar” redes de informantes e entidades colaboracionistas, para que se infiltrassem nos comitês revolucionários.
Na primavera de então, o recém-criado Comitê Central de Gestão de Crise – misto de forças de segurança, serviço de inteligência e cúpula de governo – deu uma série de instruções aos chamados Comitês Populares.
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Uma das diretrizes, de 18 de abril, previa o treinamento dos shabiha no uso de armas contra os manifestantes, além de meios para prendê-los clandestinamente e entregá-los às forças do regime.
As ações de Damasco a favor das milícias são motivo de indagação há anos; os documentos, no entanto, comprovam as suspeitas.
Conforme as evidências, o regime agiu rápido para montar sua rede de milícias do zero, a fim de evitar dependência a grupos existentes.
Devido às incontáveis violações de direitos humanos cometidas pelos shabiha – massacres, estupros, pilhagem e tortura –, acredita-se que os documentos possam ajudar a levar Assad e seus correligionários à justiça.