Eu sou KS, uma jovem afegã de 14 anos de idade, mais especificamente de Cabul e contarei parte de minha história.
Meus pais se casaram durante o regime do Talibã e tiveram que migrar para o Paquistão devido ao conflito que o país passou a ter com o Talibã, que tem como representante Panjshir Ahmad Shah. Antes da chegada do Talibã no Afeganistão, a vida era normal e boa. Meninos e meninas frequentavam escolas e universidades, e todos viviam felizes.
No entanto, dia após dia, as ações do grupo em Cabul e outras partes do Afeganistão se tornaram cada vez mais caóticas e tristes. Cabul, que antes não testemunhava muitas mortes de funcionários da administração pública e outras áreas, agora estava enfrentando uma série de explosões devastadoras.
Rotina de medo e destruição
Uma delas ocorreu em uma sala de aula próximo a cidade de Cabul, resultando na morte de pelo menos 50 pessoas. Outra explosão ocorreu em Kurs Kaj e Kurs Danesh, a oeste de Cabul, onde repórteres corajosos estavam presentes, resultando em um número alarmante de vítimas.
Esses eventos trágicos deixaram muitos jornalistas preocupados com o futuro do Afeganistão e sua luta por vitórias.
O Talibã
A chegada do Talibã aconteceu depois que as tropas americanas e suas forças auxiliares voltaram para seu país.
O Talibã então começou a espalhar seu domínio em várias províncias do Afeganistão. Em Cabul, a capital, os talibãs ocuparam a cidade durante a noite, 15 horas antes do amanhecer.
O presidente do Afeganistão, Ashraf Ani, entregou o governo aos talibãs, marcando o início de um novo regime, conhecido como Emirados Islâmicos. Embora o governo da República Islâmica Democrática do Afeganistão mostrasse lealdade aos Emirados Islâmicos, eles não confiavam plenamente neles.
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Ao testemunhar a chegada do Talibã em Cabul, as pessoas ficaram chocadas e muitos correram para a Praça Jaabi em busca de segurança. Infelizmente, durante esse êxodo, ocorreu um ataque na estrada para o Aeroporto de Cabul, resultando na perda de muitas vidas, incluindo homens, mulheres e crianças.
Sobrevivendo em meio às restrições sociais e de liberdade
Por sorte, minha família e eu estávamos em casa, exceto meu irmão de oito anos que deveria fazer uma prova na escola, mas nada aconteceu com ele. Depois de obter mais informações com meu pai, fomos para casa e vimos cerca de 30 talibãs nas ruas, empunhando a bandeira tricolor do Afeganistão. Eles não causaram problemas naquele momento, mas seu poder nos lembrou das histórias sombrias do passado.
Um mês após a chegada do Talibã, eles começaram a impor lentamente a primeira lei conhecida como Emirados Islâmicos. Os chefes de família foram obrigados a aderir ao hijab islâmico, cobrindo seus rostos com máscaras e usando um bunga omã preto e um capuz em suas cabeças. No entanto, essas medidas foram recebidas com resistência por parte da população e, após alguns dias, o Talibã falhou em implementá-las efetivamente.
Mudanças na rotina escolar e na vida dos estudantes
Três meses se passaram até que o Talibã chegasse às escolas para meninos e, no início, impuseram restrições aos currículos e alteraram os materiais didáticos para as meninas. No entanto, em um curto espaço de tempo, as universidades foram fechadas e as escolas para meninos também foram difamadas e fechadas em muitas partes do país. Além disso, cantinas e restaurantes foram fechados, impactando negativamente a vida social das pessoas.
Impactos na vida das mulheres
As meninas no Afeganistão foram privadas do direito à educação
Nesse contexto, vale ressaltar que um mês após a chegada do Talibã, o Ministério dos Esportes foi inaugurado. O Talibã implementou grandes mudanças, entre elas a destituição do Ministério dos Assuntos Femininos, que foi substituído pelo Ministério da Prosperidade e Proibição em Al-Mafkar. Esse novo ministério perseguia mulheres, matando-as nas ruas.
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Eles costumavam abordar as mulheres dizendo:
“Por que você está usando roupas curtas?
Por que você não usa o hijab preto?”
Um porta-voz do Talibã declarou que as mulheres eram fonte de corrupção para os homens e, portanto, deviam ser controladas. Além disso, o Talibã forçava as meninas a se casarem com eles, assediando-as constantemente. Como resultado, muitas meninas se viram obrigadas a se casar com parentes próximos para se protegerem do assédio do Talibã. O Talibã também começou a promover o Islã como uma religião intransigente perante o mundo, introduzindo práticas religiosas e a Sharia em todos os aspectos da vida.
As mulheres que protestaram pacificamente contra essas restrições e políticas foram assediadas, ameaçadas de prisão, detidas e torturadas. Esse controle rigoroso teve um impacto devastador nos jovens afegãos, impedindo-os de continuar seus estudos e buscar conhecimento. Minha família era grande e a situação econômica no Afeganistão piorava a cada dia. Tanto as instituições governamentais quanto as organizações não governamentais não conseguiam oferecer soluções eficazes.
A emigração como recurso de sobrevivência
Nesse momento, muitas pessoas no Afeganistão depositam suas esperanças em sair do país, buscando refúgio em países como Alemanha. Para nós, ir para o Irã era uma opção temporária enquanto aguardamos essa oportunidade.
Uma nova vida no Brasil
Estou muito grata por ter tido a chance de retomar minha educação aqui no Brasil e espero sinceramente que, um dia, todos os meninos e meninas afegãos tenham a mesma oportunidade. Desejo que o Afeganistão encontre a paz novamente e que seus cidadãos possam viver em segurança e prosperidade.
Enquanto isso, no Afeganistão…
A situação hoje do Afeganistão é desafiadora e incerta
O impacto do regime do Talibã nas vidas das pessoas, especialmente das mulheres e dos jovens, é profundo e angustiante. A liberdade de expressão e os direitos humanos estão sendo restringidos, e a esperança por um futuro melhor parece cada vez mais distante.
Em meio a essa turbulência, é crucial que a comunidade internacional esteja atenta e atue em prol do povo afegão. É fundamental oferecer suporte humanitário, buscar soluções diplomáticas e pressionar por mudanças positivas. Os afegãos merecem viver em um país onde possam desfrutar de direitos básicos, como educação, liberdade e segurança.
É inspirador ver o espírito de resiliência e determinação dos afegãos, como eu, que buscam oportunidades onde quer que estejam. Embora eu esteja muito longe da minha casa, sou grata por ter a chance de continuar minha educação e preservar a esperança por um futuro melhor.
Os recursos da educação são um direito
Acredito que a educação desempenha um papel fundamental. Embora a jornada seja desafiadora, tenho esperança de que um dia o Afeganistão voltará a ser um lugar de paz, oportunidades e igualdade. Todos os meninos e meninas afegãos merecem ter a chance de realizar seus sonhos, contribuir para o progresso de sua nação e moldar um futuro brilhante.
Enquanto aguardamos melhores dias, devemos permanecer unidos em solidariedade e empatia.
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Que a história do Afeganistão seja marcada não apenas por conflitos e adversidades, mas também pela resiliência, coragem e determinação de seu povo. E que, um dia, possamos testemunhar a transformação desse belo país em um lugar onde todos possam viver em paz, liberdade e prosperidade.
Nota dos autores:
A personagem da nossa reportagem é real, estudante vivendo em situação de refúgio na cidade de São Paulo, Brasil. A sua identidade foi preservada para garantir a sua segurança.
Publicado originalmente em REVISTA Imprensa Jovem – Uma ação Educom – Metodista, em julho de 2023.