Quatro entre cada cinco crianças palestinas detidas pelas forças militares israelenses sofrem agressão física, revelou uma pesquisa da ong Save the Children. Cerca de 69% sofrem revista íntima nas mãos dos soldados da ocupação.
Cerca de 42% sofrem algum tipo de ferimento durante sua prisão, incluindo ossos quebrados e ferimentos a bala. Vítimas relatam violência de natureza sexual e muitas são transferidas a tribunais e outras penitenciárias em pequenas gaiolas.
A nova pesquisa coincide com evidências de abusos israelenses cometidos contra crianças em custódia apresentadas ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas por equipes da relatoria especial da organização internacional na Cisjordânia ocupada.
Estima-se que entre 500 e mil crianças são detidas por Israel todos os anos.
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Jason Lee, diretor nacional da Save the Children, alertou: “Não há qualquer justificativa para agredir e despir crianças, tratá-las como animais ou roubar seu futuro. Trata-se de uma crise de proteção da infância que não pode ser ignorada. Temos de dar fim a este sistema abusivo de detenção militar”.
A Save the Children e organizações parceiras consultaram 228 ex-indivíduos detidos quando ainda eram menores de idade, mantidos em custódia por um período de um a 18 meses.
Os relatos confirmam que a maioria dos menores são algemados, vendados e agredidos na ocasião da prisão. “São também interrogados em localidades desconhecidas sem presença dos pais, privadas de comer, beber ou dormir, sem qualquer acesso legal”, advertiu o estudo.
O principal “crime” pelos quais a maioria das crianças palestinas são detidas é atirar pedras, com pena de até 20 anos de prisão.
Khalil (nome fictício), preso aos 13 anos, disse não ter recebido qualquer assistência médica. “Estava ferido na perna, tinha um gesso, e tive de me arrastar para me locomover. Senti meu corpo se despedaçar. Não tinha muletas nem nada. Quando fui transferido, pedi várias vezes aos soldados para que me ajudassem, mas ninguém ajudou”.
Um soldado ameaçou me matar ao me prender uma segunda vez … Ele me disse que voltaria para me matar – dia após dia, tenho medo que ele venha.
Parte das crianças reporta ainda coação para incriminar terceiros.
Como resultado, segundo o relatório, as crianças palestinas são privadas de uma vida normal após o trauma. Comparado a 2020, o número de menores que sofrem de pesadelos subiu de 39% a 53%; casos de insônia decolaram de 47% a 73%.
Lana, mãe de Mohammed, detido aos 14 anos, comentou: “Soltaram meu filho … mas ele se recusa a sair de casa”.
A Save the Children reforçou apelos para que a ocupação israelense respeite os direitos da infância e a lei internacional. “Nenhuma criança deve passar por cortes militares ou outros tribunais sem o devido processo e padrões de justiça”, reiterou a organização.
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