A França impediu a organização Cage, radicada em Londres, de apresentar evidências sobre a perseguição estrutural do Estado contra os muçulmanos, ao impedir Muhammad Rabbani, diretor executivo da ong, de entrar no país.
Segundo relatos, uma intervenção altamente crítica de Rabbani na cúpula do último ano da Organização para Segurança e Cooperação da Europa (OSCE), na qual expôs a islamofobia do governo francês e sua Política de Obstrução Sistemática, resultou em censura.
A entidade de direitos humanos descreveu a proibição de entrada como “abuso autoritário” perpetrado por Paris. Nos anos recentes, o governo francês se tornou alvo de duras críticas por medidas opressivas e discriminatórias contra a comunidade islâmica.
Críticos ocidentais corroboraram os alertas ao afirmar que o modelo francês de secularismo não é apenas repressivo como transgride os próprios valores do Estado moderno.
A Cage monitora há anos políticas públicas no país que afetam diretamente os muçulmanos e sua liberdade de culto. A campanha encaminhou queixas e provas de perseguição religiosa a entes internacionais, dentre os quais, a União Europeia e o Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.
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O relatório da organização de 2022 sobre a França foi o primeiro a apontar para islamofobia promovida pelo Estado.
Rabbani chegou a Paris para uma visita de três dias para conversar com repórteres e líderes da sociedade civil. Pouco depois de pousar, no entanto, foi detido pela polícia e transferido a um centro de migração. Rabbani permaneceu em custódia por quase 24 horas sem acesso a seus aparelhos eletrônicos pela maior parte do tempo.
Na delegacia do aeroporto, Rabbani foi interrogado antes de receber ordens para regressar ao Reino Unido. Um agente do Ministério do Interior da França participou do interrogatório. Ao chegar em Londres, Rabbani continuou detido por um hora no aeroporto de Gatwick.
“A França proibiu minha entrada em resposta a um discurso que dei em setembro passado na OSCE, expondo sua Política de Obstrução Sistemática”, comentou Rabbani. “Nosso grupo monitora a implementação racista dessa política que alveja os muçulmanos”.
Ao denunciar violações à liberdade de expressão, a Cage sugeriu que o governo francês se sente ameaçado pelas evidências compiladas pela ong.
“Nossas intenções e críticas ecoam por todos os lados”, declarou a campanha. “Escolher um ativista de direitos humanos muçulmano como persona non grata confirma as acusações de islamofobia que aparentemente tanto ofendem a França”.