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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Arranhões na imagem de Israel. Desta vez é diferente?

Mulher com cartaz diz "Não em meu nome". ewish Voice for Peace (JVP) [Stephen Melkisethian via Flickr]
Não em meu nome. ewish Voice for Peace (JVP) [Stephen Melkisethian via Flickr]

Como história que se repete,  Israel atua para conter as críticas negativas das recentes coberturas.   São de esperar pressões – como as que acaba de fazer ao New York Times e à BBC por críticas à matança em Jenin. Mas também acenos em direção à alquebrada Autoridade Palestina, na expectativa de total subordinação e nenhum  barulho.

Para desviar a pauta dos rumos autocráticos que vêm desiludindo novas gerações de judeus, também há o espetáculo montado de guerra ao  terror.  Para Israel, toda força externa à AP na Palestina é terrorista . Vale para o Hamas, a Jihad Islâmica, o Lion’s Den e toda resistência que pega em armas contra as armas de Israel.

Já há quem se queixe, como  o articulista israelense Lilac Sigan,  de que a cobertura de Jenin nos Estados Unidos não tenha incluido a palavra “terrorista” nas manchetes. E que os palestinos tenham sido tratados como … palestinos. Armados ou não.

Ele também se surpreende que o jornal tenha humanizado os combatentes de Jenin ao publicar que “jovens palestinos atraídos para a luta contra Israel estão escrevendo mensagens de despedida para seus entes queridos”.

A inglêsa The Economist é criticada na mídia israelense por ter falado dos combatentes do  Lion’s Den pela ótica da criatividade no uso das redes sociais e tê-los chamado de geração Z da resistência palestina, que criou marca e vende souvenirs e canecas com o logo do grupo.

No primeiro semestre de 2023, Lilac contabilizou 148 artigos sobre Israel no NYT, sendo que, desses, 67% foram negativos, 28,3% foram neutros e apenas 4,7% foram positivos, Para reverter isso, ele considera que Israel precisaria de mais  política pública.

O soft power está sendo feito. Vide a visita do presidente Isaac Herzog a um presidente Biden que mal acabava de chamar de extremista o governo de Israel. Um cumprimento na mídia vale por mil palavras. O próximo aperto de mãos deve ser com o próprio Netanyahu.

Vide também a curiosa decisão do Congresso norte-americano de declarar que o aliado “Israel não é racista e nem é apartheid”. Ora … de onde tiraram isso?   De que investigação ou tribunal sobre Israel- que ninguém deixa investigar?

Uma vez aprovada, a frase sobre Israel naturalmente foi noticiada por toda imprensa, o que não deixa de entrar na conta das citações boas contra as más. Mas é claro que o problema de fundo preocupa o sionismo e não se resolve com truques.

Sustos passados

A midia ocidental sempre foi uma fronteira aliada.  Em certas ocasĩoes, o establishment israelense precisou agir rápido para dar a volta em crises pontuais, especialmente as trazidas pela velocidade das redes sociais.

Um susto ocorreu no período da chamada primavera árabe, em 2011. Assim como os  revolucionários na Tunísia, Egito, Síria usavam o Facebook para organizar-se contra as ditaduras, uma página surgiu na rede, no início de março de 2011  convocando a Terceira Intifada Palestina, para o 15 de maio seguinte, Dia da Nakba. Em poucas horas tornou-se um enxame, com centenas de milhares de likes pedindo o fim da ocupação ilegal. O governo de Israel procurou  Mark Zuckerberg. O Facebook resmungou alguma coisas sobre liberdade de expressão mas retirou a página, a pedidos. A CNN na época disse que o governo ficou tranquilo, porque o Facebook passou a monitorar o grupo que criou a página.

Outra situação fora de controle ocorreu durante os ataques à Gaza em 2014. Milhares de  imagens inundaram as redes sociais com corpos literalmente empilhados, às vezes cinco ou seis de uma mesma família, de crianças palestinas mortas sob as bombas israelenses.

Eram mães e país de Gaza desesperados em funerais, carregando grandes fotos de seus jovens mártires com os corpos dilacerados. Outros carregavam filhos sem vida nos braços, como a pedir  um socorro tardio e inútil.  O que era recorrente  na relação de Israel com Gaza virou avalanche na chegada dos palestinos às mídias sociais.. Dois anos antes, era a foto de Jehad Mashrawi, correspondente da BBC,  levando o filho que não chegara a um ano de vida. Ou três anos antes, outro pai, outra criança entre as muitas que não se via. Mas em 2014, o pesadelo mostrou-se bem de perto e por inteiro, saindo das redes sociais para a mídia e vice-versa.

Demissões de jornalistas em alguns grandes veículos e outras medidas não deram conta de segurar a repercussão negativa e o governo de Israel ofereceu bolsas e auxílios para seus estudantes ajudarem no contra-ataque em  laboratórios de mídia universitários.

As notícias do morticínio levaram, inclusive, um grupo de brasileiros, na maioria jornalistas que participavam do Fórum Social Mundial na Tunísia, a seguir de lá em uma missão humanitária à Gaza. O grupo entrou na Palestina – à exceção de Soraya Misleh e Mohamad Kadri,  com sobrenomes árabes, barrados na fronteira por Israel– mas toda delegação foi impedida  de seguir da Cisjordânia para a Faixa arrasada e documentar a visita.

Outros ataques vieram, mas com o refinamento dos algoritmos sobre “imagens sensíveis”,  não mais se viu a mesma profusão indiscriminada de flagrantes trágicos e chocantes do sofrimento palestino. Grupos e mídias alternativas em contato com fontes do Oriente Médio assumiram coberturas por fora da narrativa do mainstream, pressionando-o. E o efeito ocorreu,  aqui e ali, na grande imprensa, o bastante para tornar-se aos poucos  um problemão para Israel.

Em maio de 2021,  na guerra por Sheikh Jarrah, e mais um massacre de palestinos,  uma capa do New York Times deu rosto às vítimas da “autodefesa” de Israel. E publicou as fotos de mais de 60 meninos e meninas com o título:  “Eram só crianças”.

 

NYT exibe as fotos de mais de 60 crianças assassinadas em Gaza pelo Estado de Israel., com o título “Eram só crianças”, também está no site do jornal. Em 29 de maio de 2021. [Capa do NYT, foto nas redes sociais]


NYT exibe as fotos de mais de 60 crianças assassinadas em Gaza pelo Estado de Israel., com o título “Eram só crianças”, também está no site do jornal. Em 29 de maio de 2021. [Capa do NYT, foto nas redes sociais]

A ilusão da democracia 

As impressões sobre Israel pioraram  com a crise da reforma judiciária. Israelenses viram contra si os dentes e as patas de cavalos que são habituais apenas contra os palestinos. E a ilusão de democracia seletiva para judeus converteu-se no medo de uma ditadura teocrática para todos.  Após anos relativizando informações indigestas, e a própria denúncia de apartheid correndo o mundo, a crise interna rompeu o dique das dúvidas de muitos  judeus do exterior sobre o que de fato se passa em Israel.

Na estrutura do Estado, avança a reforma judicial., caminha o projeto de lei para acabar com a Autoridade para os direitos das mulheres e uma iniciativa para retirar atribuições da ordem dos advogados na escolha dos juízes.  Aprovados, todos esses poderes serão concentrados no governo. E há ainda o financiamento de uma milícia controlada pelo extremista Ben GVir, livre para operar.

Se esse é o Israel para os israelenses, o  que dizer de Israel para os palestinos? Que ilusão de democracia terá permitido  a formação de um Estado teocrático, só para os judeus?

Forçar a aprovação de  leis no Exterior associando críticas a Israel a antissemitismo, voltadas especialmente contra movimentos de solidariedade aos palestinos em universidades, pode ter sido um tiro no pé porque alertou uma juventude maior do que a  ativista. Ela olha para o avanço dos assentamentos ilegais, e percebe nem a promessa de um acordo de paz para permitir dois Estados é de verdade..

Uma pesquisa entre estudantes judeus revelou que a maioria prefere um Estado único para todos, democrático, do que manter um Estado exclusivo judeu.  A mídia também está atenta a esse incômodo na opinião de seus leitores. .

Como de costume,  o sionismo buscará a contenção de danos midiáticos, enxergando e caçando antissemitismo em toda crítica, em qual quer parte.  O problema novo para o Estado autoritário e já treinado no apartheid é ter de  lidar com as críticas dentro de casa sem usar as armas e argumentos habituais. Respeito e extremismo são coisas que não combinam.  Democracia em Israel sobre a tragédia palestina também não.

As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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