Em entrevista à rádio estatal Kan, Tamir Pardo, ex-chefe do Mossad, serviço secreto de Israel, acusou o premiê Benjamin Netanyahu de desmantelar o exército e os órgãos de inteligência e “dividir a nação em duas”.
Pardo insistiu que o gabinete de Netanyahu inclui “racistas hediondos”, dentre os quais, os ministros Bezalel Smotrich (Finanças) e Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional), dos partidos Sionismo Religioso e Otzma Yehudit (Poder Judeu), respectivamente.
Ao comentar apelos de deputados israelenses para destruir a aldeia palestina de Huwara, na Cisjordânia ocupada, Pardo afirmou que os atuais aliados do premiê são “muito piores” do que a Ku Klux Klan, em alusão ao movimento supremacista branco dos Estados Unidos.
“A nação está prestes a quebrar em duas, mas ele [Netanyahu] não se importa, não pisca, e no instante seguinte à votação, a expressão de alegria dos deputados foi uma coisa horrível para mim”, afirmou Pardo, em referência à aprovação na segunda-feira (24) da chamada “lei de razoabilidade” pelo Knesset (parlamento) – primeira etapa da reforma judicial, que limita os poderes da Suprema Corte para analisar decisões de governo.
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“Pegaram a Ku Klux Klan e trouxeram ao governo, foi isso que aconteceu”, acrescentou.
O ex-diretor do Mossad também criticou o gabinete por deferir medidas que recordam “leis antissemitas” da Europa da década de 1930. Pardo argumentou que, caso legislação similar fosse aprovada por países terceiros, certamente atrairia repúdio por seu viés discriminatório e racista contra certos grupos – isto é, os palestinos.
Recentemente, o Knesset expandiu o escopo da Lei dos Comitês de Admissão, que permite a pequenas comunidades judaicas rejeitar cidadãos “inadequados” que solicitem moradia na área sob sua jurisdição. Grupos de direitos humanos, como a ong Adalah, denunciam a lei como expressão de racismo e apartheid.
Pardo alegou que relatos de que médicos e empresas de tecnologia pretendem deixar Israel, caso avance a reforma, são “ainda mais assustadores” do que a greve dos reservistas.
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O ex-diretor do Mossad corroborou as apreensões de relações públicas e investimentos, ao advertir que Israel está em perigo de perder seu status como “nação próspera”.
“Se perdermos profissionais de alta tecnologia, médicos e acadêmicos, não haverá mais um país”, declarou o ex-agente especializado em inteligência eletrônica, ao retificar em seguida que Israel poderá se tornar uma “nação de terceiro mundo”.