Membros das conversas de paz realizadas em Jeddah, com intuito de buscar uma solução à guerra russo-ucraniana, não chegaram a um consenso sobre o plano de dez passos proposto pelo presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, reportou a agência Anadolu.
Conforme Andriy Yermak, chefe do gabinete de Zelenskyy, os participantes concordaram em realizar outra reunião de assessores políticos dentro de seis semanas.
“O encontro não discutiu quaisquer iniciativas de paz exceto a iniciativa de Kiev”, confirmou Yermak a jornalistas na capital ucraniana. O assessor afirmou que todos os países presentes expressaram seu apoio à independência e integridade territorial da Ucrânia.
Segundo seu informe, um documento-base será redigido para uma próxima cúpula.
A cidade de Jeddah, na Arábia Saudita, recebeu o encontro internacional sobre a Ucrânia no domingo (6). Sua declaração final recomendou “continuação das consultas internacionais de modo que contribua para achar um terreno em comum que abra caminho para a paz”.
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A Rússia, porém, não participou do evento. Nesta segunda-feira (7), o Kremlin voltou a dizer que um acordo de paz com Kiev é “impossível” nos termos apresentados por Zelenskyy em novembro último.
Além do fim da invasão militar a seu país, o plano de Zelenskyy aborda termos de segurança nuclear, alimentar e energética. A Rússia rejeita a proposta ao insistir em não ceder nenhum território anexado à força, equivalente a aproximadamente um quinto da Ucrânia.
“Nenhum de seus dez passos tem como objetivo encontrar uma solução diplomática para a crise; em sua totalidade, é um ultimato sem sentido para a Rússia, cujo intuito é prolongar as hostilidades”, afirmou Maria Zakharova, porta-voz da chancelaria em Moscou. “Com base nisso, um acordo de paz é impossível”.
Zakharova, contudo, agradeceu as “iniciativas de mediação e ajuda humanitária” de países do Sul Global, ao reconhecer que o Kremlin acompanhou as conversas em Jeddah no fim de semana, após um encontro similar em Copenhague, no mês de junho.
Os dez passos de Zelenskyy
O presidente ucraniano, de acordo com a Al Jazeera, apresentou sua fórmula de paz em novembro de 2022, na cúpula do G20 – grupo das 20 maiores economias do mundo –, em Bali, na Indonésia.
O plano pede por:
- Segurança nuclear, com foco em restaurar a segurança em torno da maior usina nuclear da Europa, Zaporizhzhia na Ucrânia, atualmente sob ocupação russa;
- Segurança alimentar, incluindo proteção e garantias às exportações de grãos ucranianos aos países mais pobres do mundo;
- Segurança energética, incluindo teto de preço a recursos russos e ajuda na reconstrução da infraestrutura ucraniana, metade da qual danificada pela guerra;
- Libertação de todos os prisioneiros e deportados, incluindo prisioneiros de guerra e crianças enviadas à Rússia;
- Restauração da integridade territorial da Ucrânia, em reconhecimento da Carta das Nações Unidas – termo, segundo Zelenskyy, inegociável;
- Retirada das tropas russas para além das fronteiras e fim das hostilidades;
- Justiça, incluindo estabelecimento de um tribunal especial para julgar crimes de guerra;
- Prevenção ao ecocídio e proteção do meio-ambiente, incluindo desativar minas e recuperar instalações de saneamento;
- Prevenção a uma nova escalada e adoção de uma arquitetura de segurança no espaço euro-atlântico, incluindo garantias à Ucrânia;
- Confirmação do fim da guerra, incluindo documento assinado pelas partes relevantes.
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