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Soldados israelenses em Gaza ostentam má conduta

Palestina deve ser central a relações saudita-israelenses, alertam senadores dos EUA

Da esquerda para a direita: senadores democratas dos Estados Unidos, Chris Van Hollen (Maryland), Tim Kaine (Virgínia), Ben Cardin (Maryland) e Mark Warner (Virgínia), em 4 de março de 2020 [Tom Williams/CQ-Roll Call via Getty Images]

A normalização do relacionamento entre Arábia Saudita e Israel não será bem sucedida caso o sofrimento do povo palestino seja ignorado, advertiram senadores americanos do partido Democrata, à medida que um potencial acordo tripartite entre Washington, Riad e Tel Aviv ganha tração na imprensa e nos corredores do poder.

Os senadores Chris Van Hollen (Maryland) e Tim Kaine (Virgínia) reiteraram que uma solução à ocupação na Palestina deve ter lugar de destaque em qualquer eventual tratado mediado por seu colega de partido e presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.

De olho na campanha para a reeleição em 2024, conforme relatos, o presidente americano busca assegurar um acordo entre a monarquia e a ocupação.

Biden parece disposto a arcar com um preço alto , incluindo ao oferecer à Arábia Saudita um pacto de segurança mútua em escala semelhante às garantias concedidas a países-membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Tamanho acordo pode abarcar termos de defesa em caso de ataque, venda de armamentos de última tecnologia e até mesmo aval para que Riad desenvolva seu próprio programa nuclear.

Embora os sauditas costumem dizer que a normalização com Tel Aviv poderá avançar apenas após o fim da ocupação dos territórios palestinos, não está claro se Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro e governante de facto do país, estaria disposto a ceder caso o presidente americano realmente lhe faça tais concessões históricas.

Segundo relatos, bin Salman não prioriza a questão palestina e está pronto a consentir com a Casa Branca caso suas demandas sejam cumpridas. Israel, contudo, também condicionou a normalização à exclusão dos palestinos da pauta.

Oficiais israelenses – que vivenciam uma crise política interna, após meses de protestos de massa contra a reforma judicial do governo – procuram minimizar a importância da questão palestina em um acordo futuro com a monarquia.

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De acordo com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, trata-se somente de um “ponto a ser passado”, de modo a sugerir que seus persistentes avanços coloniais não impediriam bin Salman tampouco Biden de consolidar o pacto.

No entanto, como apontaram Van Hollen e Kaine, o maior obstáculo às ambições do premiê israelense pode não repousar no Oriente Médio, mas sim no coração de seu maior parceiro internacional – isto é, no Senado americano de maioria democrata, responsável por deferir ou não qualquer acordo entre as partes.

Alguns senadores já manifestaram abertamente a importância de incorporar compromissos consideráveis à questão palestina nos acordos. Além disso, expressam receios sobre abusos sauditas de direitos humanos em casa e crimes de guerra cometidos no Iêmen, o que incita apreensões sobre concessões de guerra ou diplomacia ao reino.

“Continuamos a ouvir do governo israelense que Mohammed bin Salman não dá a mínima aos interesses palestinos, mas muitos de nós acreditamos que uma paz sustentável de longo prazo só pode ser assegurada ao tratar também das questões críticas concernentes ao povo palestino”, comentou Van Hollen.

“O príncipe herdeiro pode não se importar com os palestinos ou a solução de dois Estados, mas o Congresso certamente se importa”, acrescentou outro membro da câmara.

Outra razão pela qual a gestão de Joe Biden se apressa para normalizar relações entre Israel e Arábia Saudita é por considerar que tais avanços afastariam a coalizão de extrema-direita de Benjamin Netanyahu de esforços unilaterais de anexação dos territórios ocupados, a fim de preservar a imagem da “democracia” israelense.

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Analistas internacionais advertem que a controversa reforma judicial de Netanyahu deve ter impacto de relações públicas e investimentos ao Estado de apartheid, em uma conjuntura na qual a imagem de Israel está em baixa e o apoio entre jovens americanos, incluindo judeus, cai exponencialmente.

Para os senadores é fundamental que um acordo reconheça os direitos e as aspirações dos palestinos nativos, que anseiam por um Estado livre e independente. Neste sentido, países da comunidade internacional insistem ainda na “solução de dois Estados”, incluindo a Casa Branca, cuja abordagem oficial é condenar os assentamentos ilegais – muito embora, pouco aja para conter os avanços coloniais.

“A ausência de paz entre israelenses e palestinos se espalha por toda a região”, argumentou Kaine, ex-candidato à vice-presidência americana na chapa democrata de  Hillary Clinton em 2016. Para Kaine, um consenso árabe é essencial para alcançar a paz.

Segundo Van Hollen, condições não negociáveis incluem suspender de imediato a expansão dos assentamentos, reverter esforços israelenses de reconhecimento de postos avançados na Cisjordânia e assegurar a prosperidade nacional palestina. O senador reforçou também a necessidade de acordos vinculativos entre Washington e Tel Aviv.

Conforme avança o debate, há cada vez mais ceticismo entre as fileiras democratas, dadas as relações de atrito entre Netanyahu e o mundo islâmico, incluindo a coroa saudita. Por outro lado, os democratas temem a proximidade entre as partes e o ex-presidente republicano e possível candidato, Donald Trump.

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Trump foi responsável por firmar, em plena campanha à reeleição, os chamados Acordos de Abraão, que normalizaram laços entre o regime ocupante, por um lado, e Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Marrocos e Sudão, por outro.

Oficiais israelenses reconhecem os obstáculos em obter a aprovação do Capitólio ao pacto com os sauditas. Os Acordos de Abraão foram firmados via decreto executivo, ao contornar a tramitação parlamentar.

A única parte do tratado que requer aval do legislativo – isto é, a venda de aviões militares F-35 aos Emirados – jamais foi ratificada.

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Palestina: quatro mil anos de história
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