A ong Médicos Sem Fronteiras (MSF) alertou nesta quarta-feira (9) para os riscos de encerrar seus serviços vitais no Hospital Turco de Cartum, um dos últimos centros médicos operantes no Sudão, caso vistos a profissionais de emergência não sejam deferidos.
Em nota, a ong reiterou que solicitações de visto a membros de sua equipe, dentre os quais cirurgiões, enfermeiras e especialistas, continuam pendentes há mais de dois meses. Vistos a profissionais que administram o hospital estão prestes a expirar, acrescentou.
Deste modo, está em risco não somente a presença de voluntários da MSF no país como seu apoio ao Ministério da Saúde no hospital, que provém serviços 24 horas por dia.
“Nossa equipe trabalha incansavelmente com nossos parceiros no Ministério da Saúde para manter a instalação aberta e expandir os serviços que fornecemos”, declarou Claire Nicolet, diretora de emergência da ong no Sudão.
“Nossos voluntários permaneceram no local mesmo diante de incidentes graves, incluindo agressão, saque e ameaça de morte”, acrescentou. “Apesar de nosso firme compromisso de continuar a trabalhar no hospital, os cuidados vitais providenciados por nosso time estão em risco, à medida que não podemos trazer novos profissionais ao país”.
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Segundo o comunicado, nas seis semanas entre meados de junho e fim de julho, as equipes da ong atenderam mais de 3.800 pacientes no Hospital Turco, incluindo 1.700 consultas em seu pronto-socorro, das quais 20% dos casos abarcavam ferimentos de guerra.
No mesmo período, o hospital atendeu quase 800 pacientes que exigiram internação, entre os quais 200 crianças. A maioria dos casos pediátricos são bebês recém-nascidos com sepse, icterícia e desnutrição. A obstetrícia é também um serviço essencial do Hospital Turco, além de tratamento a doenças crônicas.
Segundo a MSF, desde que eclodiu a guerra, autoridades concentraram a emissão de vistos em Porto Sudão e deixaram de deferir autorizações de residência, de modo que estrangeiros podem permanecer no país por apenas dois meses. Para estender o período por um mês, é preciso viajar a Porto Sudão – algo particularmente difícil dada a crise de segurança.
A ong opera sobretudo na capital Cartum e na região crítica de Darfur.
A situação de saúde no país se agrava dia após dia, com 48 milhões de sudaneses sujeitos à fome e às inundações características da época. Conforme dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 40% da população sofre fome, além de “falta de medicamentos, itens de higiene, luz e água”.
Desde o início do atual conflito entre as Forças Armadas e as Forças de Suporte Rápido, em 15 de abril, organizações humanitárias se queixam dos empecilhos impostos para chegar às populações carentes, incluindo obstáculos de cunho burocrático.
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