O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, concluiu nesta quarta-feira uma vista de quatro dias ao Iraque.
Ele esteve com altos funcionários do governo e representantes da sociedade civil para debater questões como o impacto das mudanças climáticas nos direitos humanos.
Calor escaldante
Ao concluir sua passagem pelo Iraque, Turk destacou à imprensa que pode observar os efeitos da mudança climática no país, que marcou temperaturas de 50ºC e sofre com secas.
Ao presenciar lugares com “calor escaldante” e ar poluído ao sul do país, o chefe dos Direitos Humanos afirmou que está evidente que “a era do superaquecimento global” começou.
Volker Turk destacou que o Iraque é um dos países mais vulneráveis a mudança climática.
Ele explica que a grave degradação ambiental é resultado de uma mistura de violência, excessos da indústria do petróleo, aquecimento global, menos chuvas e falta de gerenciamento e regulamentação eficazes da água.
Segundo Turk, o Ministro de Recursos Hídricos anunciou que os níveis de água no Iraque são os mais baixos de todos os tempos.
Ele avalia que a questão da água tem implicações regionais mais amplas e todos os países devem trabalhar para administrar o recurso como um bem público.
Liberdade de expressão
Reconhecendo os avanços do governo em endereçar a questão da água, Turk que autoridades tomaram ações que ameaçam a liberdade de expressão.
Ele cita relatos de violência, intimidação e ameaças de morte contra ativistas ambientais, sufocando o espaço aberto para discussão.
O alto comissário lembra que o Iraque tem contribuído historicamente para moldar o mundo. No entanto, o país também tem uma história recente de repressão e algumas das piores violações dos direitos humanos já testemunhados.
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Segundo ele, estimativas sugerem que até 1 milhão de pessoas desapareceram durante o regime do ex-presidente Saddam Hussein e centenas de milhares mais desde então.
Volker adiciona que isso aconteceu inclusive entre 2014 e 2017, quando o Daesh assumiu o controle de vastas áreas do território iraquiano e em operações de segurança subsequentes.
Por isso, ele elogiou o convite do governo para o Comitê da ONU sobre Desaparecimentos Forçados, que visitou o Iraque no ano passado. O chefe dos direitos humanos pediu a implementação das recomendações do Comitê e a criação de uma lei sobre desaparecimentos forçados.
Direito das mulheres
Turk também denunciou que as questões de gênero e de empoderamento feminino estão sob ataque, distorcidos e confusos no país.
Para ele, isso não faz sentido diante dos enormes desafios que o país tem e o uso desses termos não está em contradição com nenhuma cultura, religião ou tradição.
O alto comissário afirmou que todas as evidências apontam a necessidade de mais mulheres em cargos de tomada de decisão e mais medidas de proteção na lei, na política e na sociedade contra a violência contra o grupo.
Segundo Turk, a cota de 25% para mulheres no Conselho de Representantes, a legislatura do Iraque, é louvável, mas precisa ser maior.
Ele adiciona que as tentativas de proibir o uso de termos universalmente aceitos que são cruciais para alcançar a igualdade e a não discriminação são prejudiciais, assim como as ameaças e intimidações contra as mulheres que trabalham nessas questões.
20 anos do ataque à ONU em Bagdá
Ao final de seu discurso, ele lembrou que este ano marca os 20 anos do ataque à sede da ONU em Bagdá
Turk lembrou os colegas que morreram trabalhando pelo “desejo sincero de apoiar e auxiliar o povo iraquiano em suas aspirações por um futuro melhor e mais justo”.
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O alto comissário afirma que deixa o país com uma visão do progresso, esforços e conquistas do povo, mas também com a preocupação de que os ganhos permaneçam frágeis.
Assim, ele deixou um pedido às autoridades para que sejam guiadas pelos interesses e direitos humanos do povo iraquiano e combatam a corrupção, a discriminação, a impunidade, a mudança climática e os obstáculos remanescentes à estabilidade e paz duradouras.
Publicado originalmente em ONU News