As Forças Armadas da Índia foram acusadas de envolvimento na abdução da princesa Latifa, filha do governante de Dubai e premiê emiradense, Mohammed bin Rashid al-Maktoum, em março de 2018, conforme queixa registrada no Tribunal Penal Internacional (TPI), com sede em Haia, na Holanda.
Um boletim de ocorrência anexado à denúncia acusa o exército indiano de conspirar com al-Maktoum ao participar do “embarque hostil a um iate americano em águas internacionais, incluindo agressão física armada, tentativa de assassinato, ameaça à vida, roubo, trespasse, danos à propriedade, sequestro, detenção ilegal, tortura e violações de direitos humanos”.
Segundo a rede de notícias The Wire, radicada em Nova Delhi, o sheikh emiradense é citado como responsável por “crimes de lesa-humanidade no incidente do Nostromo”.
O advogado Jonathan Levy encaminhou a denúncia em nome de Hervé Jaubert, ex-oficial de inteligência da Marinha francesa e capitão da embarcação de Latifa. A princesa fugiu de sua família e pediu asilo na Índia, mas foi abduzida no iate particular Nostromo.
“Na noite de 4 de março de 2018, sem qualquer aviso, forças dos Emirados Árabes Unidos e da Índia embarcaram ilegalmente no Nostromo, ancorado em águas internacionais”, relatou a denúncia. “Soldados armados e com rostos cobertos lançaram granadas de efeito moral e exibiram armas de assalto aos tripulantes”.
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A queixa está em fase de análise preliminar, que envolve a avaliação da promotoria em Haia sobre a jurisdição e a validade das provas.
Latifa tentou deixar os Emirados em fevereiro de 2018 com sua professora de artes marciais, Tiina Jauhiainen. Ambas viajaram em um bote inflável e um jet-ski até águas internacionais, onde embarcaram no iate comandado por Jaubert.
Uma semana depois, a embarcação foi invadida por uma unidade especial dos Emirados, na costa da Índia. A dupla foi retirada de um banheiro no convés sob a mira de um fuzil.
A captura e eventual detenção de Latifa causou indignação internacional. A Organização das Nações Unidas e diversos países pressionam a monarquia do Golfo a libertá-la. Para atenuar a crise, o governo emiradense organizou um encontro entre a princesa e Mary Robinson, ex-oficial da ONU, em dezembro de 2018.
Em 2020, a Suprema Corte do Reino Unido deferiu uma série de decisões baseadas em uma investigação detalhada. Segundo evidências, al-Maktoum ordenou e orquestrou o sequestro da princesa Shamsa em 2002 e então de sua irmã, Latifa, dezesseis anos depois.
Ambas foram repatriadas aos Emirados, onde permanecem, segundo denúncias, em cárcere privado.
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