Acusar o Estado de Israel de cometer crime de apartheid contra os palestinos não equivale a antissemitismo, reiterou Amos Goldberg, professor e pesquisador do Holocausto na Universidade Hebraica de Jerusalém, em resposta a comentários controversos do comissário alemão para o combate ao antissemitismo, Felix Klein.
As informações são do jornal alemão FAZ.
Durante entrevista concedida em agosto ao jornal Die Welt, Klein afirmou que recorrer às denúncias de apartheid para discutir as ações de Israel sobre os palestinos nativos representa uma “narrativa antissemita”.
Após Muriel Assenburg, pesquisadora do Oriente Médio, reconhecer que o Estado israelense comete “prima facie” crime de apartheid, o emissário alemão rechaçou o argumento ao acusá-lo de “deslegitimar o Estado judaico e ser, portanto, antissemita”.
Goldberg, por sua vez, respondeu a Klein: “Acusar Israel de apartheid não é antissemita – é descrever a realidade”. Após citá-lo nominalmente, advertiu o acadêmico: “Todos os cidadãos decentes têm de decidir de que lado da história querem estar”.
LEIA: Tribunal Administrativo Superior de Berlim-Brandemburgo
A reportagem comentou também sobre uma petição recente de coautoria de Omer Bartov, um dos principais nomes na pesquisa do Holocausto. Segundo Bartov, “não pode haver democracia aos judeus em Israel enquanto os palestinos viverem sob apartheid”.
A petição foi assinada por mais de 1.900 pesquisadores – em maioria, judeus e israelenses.
Em artigo publicado no Dia da Memória do Holocausto do ano passado, Goldberg advertiu contra a tendência de vincular o racismo antijudaico ao antissionismo – isto é, críticas legítimas à ideologia colonial sionista e suas políticas de limpeza étnica.
“Um dos fenômenos mais perturbadores das últimas duas décadas é a identificação do antissionismo e mesmo críticas mais contundentes a Israel com o antissemitismo”, comentou Goldberg em texto publicado pela rede Middle East Eye.
“Tais associações são graves porque derivam de supostas lições do Holocausto, de modo que qualquer crítica substancial a Israel e ao sionismo é tida pela opinião pública, sobretudo entre as instituições políticas e culturais, nacionais ou internacionais, como uma continuidade da mentalidade que engendrou o Holocausto”, acrescentou.
LEIA: Esqueça o discurso de liberdade: Alemanha reprime a solidariedade palestina
Golberg explicou que, como resultado, “a luta emancipatória dos palestinos por libertação e descolonização é vinculada ao Holocausto e ao nazismo”, muito embora se tratem de matérias e episódios históricos absolutamente distintos.
O pesquisador enfatizou também que alguns maiores críticos do sionismo são judeus, o que confirma a falácia das alegações de antissemitismo como ferramenta de perseguição política. “Do momento em que o sionismo emergiu na arena global, no final do século XIX, a oposição a suas ideias surgiu justamente no mundo judaico”, concluiu Goldberg.