Em 2022, 4,59 milhões de brasileiros viviam no exterior, um aumento de 4% sobre 2021. Desse total, 2,07 milhões viviam na América do Norte, 1,49 milhão na Europa e 646,7 mil na América do Sul, as maiores comunidades no exterior. No Oriente Médio, eram 59,2 mil brasileiros e, na África, 39,6 mil, em um total de 98,8 mil pessoas. Os dados são do relatório Comunidades Brasileiras no Exterior, divulgado neste mês pelo Itamaraty.
Os motivos que levam os brasileiros a deixar o Brasil e ampliar, ano a ano, a comunidade brasileira no exterior podem variar conforme a região. De acordo com a coordenadora do Observatório das Migrações em São Paulo do Núcleo de Estudos de População da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), professora doutora Rosana Baeninger, a saída de brasileiros para o chamado Norte Global tem relação com as condições socioeconômicas.
“A emigração internacional brasileira, em especial para os países do Norte Global, está bastante atrelada às condições socioeconômicas no Brasil, mas também a processos internos que não promovem mais a mobilidade social que as migrações internas promoveram em décadas passadas no país. Assim, esta emigração compõe o cenário global das migrações internacionais onde a mobilidade do capital e da força de trabalho revelam as desigualdades existentes entre os países na divisão social do trabalho no mundo”, afirma a professora.
No documento, o Itamaraty contabiliza dados a partir de 2009, que mostram queda na quantidade de brasileiros no exterior de 2% em 2010 e de 39% em 2012, aumento de 48% em 2013 e de 11% em 2014, queda de 12% em 2015 e um aumento constante a partir de 2016 até 2022. Não há dados referentes aos anos de 2011, 2017 e 2019. No total, os brasileiros somaram 3,18 milhões em 2009 e chegaram a 4,5 milhões no ano passado.
Entre os países, as maiores comunidades de brasileiros estão nos Estados Unidos (1,9 milhão), Portugal (360 mil), Paraguai (254 mil), Reino Unido (220 mil), Japão (206.990), Espanha (165 mil), Alemanha (160 mil), Itália (157 mil), Canadá (113.170) e Guiana Francesa (91.500). Já as jurisdições que mais concentram brasileiros (e que reúnem um consulado-geral responsável por mais de uma cidade), são Nova York (500 mil), Boston (390 mil), Miami (295 mil), Lisboa (250 mil) e Londres (190 mil).
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Entre os países do Oriente Médio, as estatísticas do Itamaraty apresentam o Líbano como maior comunidade de brasileiros, com 21 mil pessoas, seguido por Israel (14 mil), Emirados Árabes Unidos (9.630), Palestina (6 mil, foto acima), Síria (3 mil), Jordânia (3 mil), Catar (1 mil), Arábia Saudita (650), Bahrein (280) e Kuwait (280). Na África, há 39,6 mil brasileiros, dos quais 27 mil em Angola, a maior comunidade no continente. Entre os países árabes da África, vivem 2.500 brasileiros no Egito, que concentra o maior contingente entre os países árabes da região.
De acordo com Rosana, o processo migratório de brasileiros para fora do país é formado por um perfil de população jovem-adulta, com escolaridade de nível médio e técnico completa e crescente presença de emigrantes com Ensino Superior. Geralmente, essa população acaba por ocupar “os mais baixos postos de trabalho da estrutura social do Norte Global, uma vez que estes países já não possuem mais jovens para suprir estas demandas de trabalho”.
Moradora da Palestina, Fátima Rashid é a presidente do Conselho dos Cidadãos Brasileiros na Palestina. Nasceu em Campo Mourão, no Paraná, depois se mudou para Corumbá, no Mato Grosso do Sul, antes de, em 1994, emigrar para a Palestina. Filha de palestinos, Fátima realizou o mesmo trajeto da maior parte de brasileiros que vive nos territórios ocupados, sobretudo Ramallah, na Cisjordânia.
“A maioria dos brasileiros que vive aqui é de origem árabe palestina. Os pais deixaram a região nos anos 1950, 1960, como os meus pais, em busca de uma vida melhor. Ficaram no Brasil por 40 anos e retornaram. Os filhos vieram desde 1994 até os anos 2000. Quando houve a criação da Autoridade Nacional Palestina, em 1994, muitos palestinos sentiram que poderiam retornar para sua pátria natal. Formaram família, abriram negócios, vieram investir em Ramallah, Jenin, Hebron. Se estabilizaram aqui, mas não deixaram seus negócios no Brasil”, afirma.
“A diferença em relação a outros fluxos de migração é que nós retornamos para a terra dos nossos ancestrais, aos nossos costumes e tradições. Há os brasileiros-palestinos que vêm para cá investir, trazer desenvolvimento econômico”, diz Fátima.
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Publicado originalmente em ANBA