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‘Um milhão de anos de espera’, famílias recordam desaparecidos no Oriente Médio

Refugiados retornam à zona de desescalada de Idlib, na Síria, em 9 de junho de 2020 [Izzeddin Idilbi/Agência Anadolu]

Famílias de países como Líbano, Síria, Iraque e Iêmen somam coletivamente mais de um milhão de anos à espera de entes desaparecidos, anunciou a Anistia Internacional nesta quarta-feira (30) – Dia Mundial das Vítimas de Desaparecimento Forçado.

Manifestantes se reuniram em Beirute para reivindicar de seus governos que reconheçam seus direitos por verdade, justiça e reparação, durante ato convocado pela organização de direitos humanos internacional.

Segundo comunicado, em toda a região, tanto agentes de Estado quanto não-estatais, como grupos paramilitares, sequestram pessoas como forma de esmagar a dissidência, consolidar seu poder ou difundir terror entre as comunidades. A impunidade é endêmica.

“Diante da apatia e cumplicidade dos governos, famílias de todo o Oriente Médio lideram a empreitada, ano após ano, para reivindicar informações sobre seus parentes desaparecidos, assim como justiça e reparação, sob grave risco pessoal”, relatou Aya Majzoub, vice-diretora regional da Anistia sobre a matéria.

“Hoje, honramos sua resiliência e somamos nossa voz às suas ao conclamar as autoridades a investigar tais violações, responsabilizar os suspeitos e assegurar que não haja reincidência”, acrescentou Majzoub.

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Apenas no Iraque, entre 250 mil e um milhão de pessoas foram abduzidas desde o advento do regime baathista em 1968 – período que inclui a invasão militar dos Estados Unidos, em 2003, e a recente repressão do governo a protestos, em 2019.

Widad Shammari, da Fundação Al Haq para Direitos Humanos, cujo filho está desaparecido desde 2006, destacou: “Protestei sozinho por anos e anos, até conhecer muitos outros que compartilham minha luta. Formamos então uma forte coalizão que exige justiça a todos os desaparecidos na região árabe, não apenas no Iraque”.

Em abril de 2022, familiares iraquianos lançaram a campanha Dead or Alive We Want Them (Vivos ou mortos, queremos vê-los); contudo, sem resposta.

Durante a guerra civil no Líbano, de 1975 a 1990, ao menos 17.415 pessoas desapareceram. Em 2018, sob numerosos protestos, o parlamento libanês estabeleceu a Comissão Nacional para Desaparecidos e Desaparecidos Forçados; todavia, sem sequer um escritório físico, sob sucessivas demissões por parte de seus agentes.

Todos os anos, em 13 de abril – aniversário da guerra civil – famílias libanesas se reúnem sob o mantra: “Recordar para jamais repetir”

Na Síria, são mais de cem mil desaparecidos, reafirmou a Anistia. As abduções precedem a revolução de 2011 e a subsequente guerra civil, mas se intensificaram desde então. Em 29 de junho, a Assembleia Geral das Nações Unidas votou para criar uma agência global a fim de esclarecer o status dos desaparecidos do conflito.

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Fadwa Mahmoud, da organização Famílias por Liberdade, cujo marido e filho desapareceram em 2012, comentou: “Tínhamos grandes sonhos, mas pagamos um duro preço. Enfrentamos nossos medos e nos fazemos ouvir até chegar às Nações Unidas”.

No Iêmen tomado pela guerra, a ong Mwatana for Human Rights registrou 1.547 casos de desaparecidos desde 2015, em meio aos conflitos entre rebeldes houthis, ligados ao Irã, e forças intervencionistas lideradas pela Arábia Saudita.

A Associação de Mães dos Sequestrados do Iêmen destacou: “Sofremos assédio, ameaça e agressão física durante os protestos, mas não desistimos. Estamos determinados a garantir algum progresso a cada passo. Não somos mães apenas de nossos desaparecidos, mas sim de cada pessoa desaparecida na região e lutamos por verdade e justiça para todas elas”.

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