O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou no domingo (3) que a imigração da África constitui uma “ameaça”, ao instruir seu gabinete de extrema-direita a preparar um plano para expulsar todos os “infiltrados” do país.
Netanyahu fez seus comentários na rede social X (Twitter), um dia após anunciar a formação de um comitê especial para avaliar medidas contra “agitadores”, como descreveu refugiados eritreus que saíram em protesto por melhores condições de vida na tarde de sábado (2), na cidade de Tel Aviv.
Os protestos eclodiram após diplomatas eritreus realizarem um evento celebrando 30 anos de governo do presidente Isaias Afwerki. Ao menos 170 pessoas ficaram feridas; quarenta manifestantes foram detidos.
Segundo o premiê, a imigração de negros africanos põe em risco o caráter judaico de Israel. Em 2013, Israel ergueu um muro de 241 km na fronteira com o Egito para impedir o fluxo de migrantes na península do Sinai. Netanyahu afirma que o problema antecede a cerca e que há dezenas de milhares de “infiltrados” no país.
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O premiê insistiu ter deportado 12 mil imigrantes africanos por meio de diversas iniciativas. Netanyahu lamentou, porém, que dezenas de milhares de africanos continuem em Israel, ao acusar a Suprema Corte de obstruir “sugestões” para incentivar sua saída.
Ainda no domingo, o comitê especial aprovou a aplicação do mecanismo ilegal de detenção administrativa – sem julgamento ou sequer acusação – contra imigrantes africanos acusados de insurreição pela polícia, segundo informações da agência de notícias Maan.
A detenção administrativa é um instrumento que viola os direitos à defesa dos prisioneiros em Israel, ao omitir supostas evidências que possibilitem a prisão. De modo geral, palestinos sob ocupação militar são os maiores alvos de tais práticas.
Sobre os protestos, declarou o premiê: “Queremos ações firmes contra todos os agitadores, incluindo a deportação imediata de todos os envolvidos”.
Os ministros Yariv Levin (Justiça) e Itamar Ben-Gvir (Segurança Nacional) sugeriram ainda a transferência forçada de imigrantes africanos a bairros periféricos no norte de Tel Aviv – de modo a rememorar os bantustões criados pelo sistema de apartheid na África do Sul.
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