Enchentes em Derna, na Líbia, estão entre os piores desastres do século XXI

Tempestade Daniel

Ao menos 8% da população de Derna, no leste da Líbia, foi morta ou continua desaparecida devido às enchentes que destruíram um quarto da cidade após a tempestade mediterrânea Daniel devastar o país.

Ao menos seis mil pessoas faleceram e milhares estão desaparecidas, conforme os números mais recentes.

Chuvas torrenciais atingiram Derna, Benghazi, Al-Bayda, Al-Marj e Soussa e varreram bairros inteiros rumo ao mar.

Pior que na Argélia

Em 2001, enchentes mortais varreram Argel, capital da Argélia, deixando 800 mortos dentre uma população de quatro milhões de habitantes.

As inundações de Bab el Oued são frequentemente descritas como uma das piores tragédias a atingir o Magrebe. Contudo, mal se comparam com o desastre em Derna.

Pior no século XXI

Em 2013, enchentes que tomaram o estado de Uttarakhand, no norte da Índia, mataram ao menos 5.700 pessoas, entre dez milhões de habitantes na ocasião — isto é, cinquenta vezes maior do que a população de Derna.

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Em 2022, foi a vez do Paquistão, com 1.128 vítimas fatais, vasta destruição de infraestrutura e enorme perda financeira ao Estado. Enchentes no país, no entanto, não são novidade: em 2010, cerca de 1.600 pessoas morreram.

Segundo estimativas gerais, a grande enchente de Yangtze na China, em 1931, deixou entre dois a quatro milhões de mortos — contudo, devido à fome e às doenças que se espalharam nos anos a seguir.

Catástrofe em Derna

Derna é um vale cercado pelas colinas do Monte Verde, voltado ao mar Mediterrâneo.

A cidade portuária viveu violentas inundações em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, quando estava sob controle de forças nazistas. Na época, as únicas baixas registradas foram tanques alemães que acabaram no mar, sem qualquer registro de perdas humanas.

Em 1959, outra enchente atingiu Derna — dessa vez, com centenas de mortos e feridos, de acordo com o historiador líbio Faraj Daoud al-Darnawi.

 

Em 1961, autoridades locais construíram uma barragem de 40 metros de altura, cujo intuito seria conter as chuvas. De fato, a represa conteve as enchentes em 1968 e 1969.

O governo de Muammar Gaddafi realizou operações de manutenção na barragem em 1977; novamente em 1986. Outra represa foi construída sobre o vale para auxiliar a primeira.

Em 2011, no entanto, a cidade sofreu inundações, embora as barragens tenham atenuado o impacto das chuvas torrenciais.

Isolamento e guerra

Após a queda da ditadura de Muammar Gaddafi em 2011, Derna enfrentou duro isolamento político devido à troca de controle entre grupos extremistas.

A organização terrorista Estado Islâmico (Daesh) tomou controle da cidade de 2014 a 2015, mas foi forçada a se retirar por uma aliança de grupos armados locais.

Derna vivenciou novo isolamento quando tropas de Khalifa Haftar, que comanda o governo situado em Benghazi, impuseram um cerco à cidade em 2016, passando a controlá-la desde 2018.

Anos de instabilidade deixaram a infraestrutura local sem preparo. Diante do ciclone Daniel, ambas as barragens romperam agregando volume ao dilúvio que devastou a região.

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