As enchentes que varreram a Líbia trouxeram consigo uma tragédia a uma família palestina que se assentou no país após fugir da ocupação israelense sobre Gaza em 1967.
As informações são da agência de notícias Reuters.
Dois membros da família Abu Amra — pai e filho — morreram; doze desapareceram após a tempestade Daniel romper duas barragens e destruir quase um quarto da cidade de Derna, no leste da Líbia, na manhã de segunda-feira (11).
“Ficamos dois dias preocupados até saber que alguns morreram e outros estão vivos”, disse Fayez Abu Amra, 54 anos, professor de estudos islâmicos na Universidade Al-Aqsa, em uma tenda montada para familiares em luto na cidade de Deir al-Balah, na Faixa de Gaza.
Vizinhos e amigos visitaram a tenda nesta quarta-feira (13); versos do Alcorão ecoaram pelas ruas.
Fayez está entre os membros de uma família que sobreviveu a quatro ofensivas israelenses. Alguns dos parentes se mudaram à Líbia em busca de uma vida melhor, mas se viram diante das complexidades do país e, agora, de um desastre natural.
É um choque para nós. Doze pessoas de nossa família estão desaparecidas e queremos saber dos oficiais se estão vivos ou mortos.
disse Fayez à agência Reuters.
A tragédia se agrava pelas dificuldades em levar os corpos a Gaza para que sejam sepultados por seus familiares. O território costeiro vive sob cerco militar de Israel, com apoio do Egito, com graves empecilhos à entrada de pessoas e bens.
A família Abu Amra descende de palestinos que foram forçados a fugir de suas terras pelos massacres impostos por milícias sionistas durante Nakba — ou “catástrofe”, isto é, a criação do Estado de Israel via limpeza étnica planejada, em maio de 1948.
A primeira leva de refugiados acabou em Gaza, mas sofreu novo deslocamento em 1967, quando Israel ocupou o restante da Palestina histórica.
Ambas são catástrofes: a catástrofe da diáspora e a tempestade na Líbia.
comentou Fayez.
Após anos de conflitos, a Líbia continua dividida entre gestões rivais: uma na capital Trípoli, outra na cidade oriental de Benghazi. Oficiais divergem sobre o número de mortos; contudo, concordam que está na casa de milhares. Estima-se dez mil desaparecidos.
Cerca de 50 mil palestinos vivem na Líbia, um terço deles nas áreas mais atingidas, reportou Ahmed al-Deek, oficial do Ministério de Relações Exteriores da Autoridade Palestina. Vinte e três palestinos morreram devido às enchentes; outras dezenas estão desaparecidos.
Segundo al-Deek, uma equipe palestina de resposta rápida chegou à Líbia nesta quinta-feira (14), para prestar apoio às equipes nacionais e internacionais de resgate, além de assistência urgente às comunidades atingidas.
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