Centenas de pessoas saíram em protesto na cidade de Derna, no leste da Líbia, ao expressar sua indignação contra as autoridades e exigir justiça, uma semana após enchentes matarem milhares e varrerem bairros inteiros rumo ao mar.
As informações são da agência de notícias Reuters.
Na Mesquita Sahaba, manifestantes indicaram culpa a lideranças locais, incluindo o chefe do parlamento alternativo sediado em Benghazi, Aguila Saleh. Algumas pessoas se sentaram no telhado da mesquita, ao lado de seu domo dourado, considerado um marco de Derna.
Ao exigir união nacional em um país dividido por dois governos rivais e mais de uma década de violência e instabilidade, entoou a multidão:
“Aguila, não queremos você! Todos os líbios somos irmãos”.
O protesto desta segunda-feira (18) representa o primeiro ato de massa desde as enchentes, que causaram o rompimento de duas barragens nos arredores da cidade.
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Said Mansour, estudante que participou da manifestação, pediu investigação urgente sobre o colapso das represas, que
“ceifaram milhares de vidas de nossos entes queridos”.
Derna, a city wounded & afflicted, has experienced great tragedy with over 11K lives lost & 10K missing during recent crisis
In a powerful display of unity, the citizens of Derna goes out in massive demonstration to denounce what happened & demand ruling class in Libya step down pic.twitter.com/XQ8OyD2Prn
— Mahmud Mohammed (@MahmudM27830556) September 19, 2023
Taha Miftah, 39 anos, descreveu o ato como mensagem aos governos sobre como falharam em gerir a crise. Miftah culpou particularmente o parlamento de Benghazi e reforçou apelos por um inquérito internacional, além de “reconstrução sob supervisão global”.
Até então, não há dados definitivos sobre o número de mortos — milhares de pessoas ainda estão desaparecidas. Autoridades dão estimativas contraditórias. A Organização Mundial da Saúde (OMS) calculou 3.922 mortes.
Na última semana, Saleh buscou se evadir da responsabilidade, ao rotular a catástrofe como “desastre natural sem precedentes” e dizer que as vítimas deveriam se concentrar no futuro e não no passado.
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Observadores, contudo, trouxeram atenção a alertas prévios, incluindo um artigo acadêmico de 2022 por um hidrólogo líbio que corroborou as vulnerabilidades de Derna a enchentes e a necessidade urgente de conduzir obras em ambas as represas.
Derna está situada no leste da Líbia, parte do território controlado pelo comandante Khalifa Haftar. O governo estabelecido em Trípoli, reconhecido internacionalmente, alega monitorar a cidade, mas tem pouco alcance efetivo.