Em NY, Lula é aplaudido ao associar o neoliberalismo falido ao avanço do extremismo

Em uma das críticas mais incisivas ao modelo econômico imposto pelo chamado Consenso de Washington, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ao falar na abertura da Assembleia Geral da  ONU, associou as políticas extremistas que ganham espaço em diversos países às consequências de um neoliberalismo falido.

Lula dedicou seu discurso especialmente ao combate à fome e às desigualdades. Mas concentrou-se em apontar suas causas. Uma delas está no controle por poucas potencias dos instrumentos de governança e moderação internacional, representados pela ONU. E outra é o modelo econômico que drena os recursos do mundo em favor da economia dos Estados Unidos e das elites globais.

Lula afirmou que  “o neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias.” E que “seu legado é uma massa de deserdados e excluídos.”

É nesse ambiente, “em meio aos seus escombros” – apontou Lula –  que “surgem aventureiros de extrema direita que negam a política e vendem soluções tão fáceis quanto equivocadas. Muitos sucumbiram à tentação de substituir um neoliberalismo falido por um nacionalismo primitivo, conservador e autoritário”, afirmou.

A eleição de Lula é reconhecida  internacionalmente pelo significado histórico de ter vencido uma extrema direita representada pelo bolsonarismo que se organizava inclusive para uma tentativa de golpe caso tivesse um resultado desfavorável nas urnas. Por isso, a crítica de Lula, que vai além do próprio extremismo, para localizar suas causas no próprio modelo propagado pelos Estados Unidos, foi aplaudida na Assembleia Geral da ONU.

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Entre as instituições globais que, de acordo com Lula, fazem parte do problema, por reproduzirem as desigualdades, e não da solução, está o Fundo Monetário Internacional (FMI), que no ano passado “disponibilizou 160 bilhões de dólares em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas 34 bilhões para países africanos”.

A desigualdade, segundo Lula, começa pelas direções do FMI e do Banco Mundial, compostas por uma “representação desigual e distorcida”, o que, nas palavras do presidente brasileiro, “ é inaceitável”.

Como exemplo da falência da receita neoliberal, ele lembrou os excessos da desregulação dos mercados e da apologia do Estado mínimo que não foram corrigidos e as bases de uma nova governança econômica jamais lançadas. O desemprego e a precarização do trabalho minaram a confiança das pessoas em tempos melhores, em especial os jovens. Ele apontou ainda a paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC) e seu sistema de solução de controvérsias como mais uma expressão do que chamou de grave crise do multilateralismo .

A esse imobilismo ele atribuiu o surgimento dos BRICS, como ”uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes”.

A ampliação recente do grupo na Cúpula de Joanesburgo foi interpretada pela grande mídia como uma reunião sem critérios, dadas as diferenças flagrantes entre os membros, alguns fortemente  sancionados pela comunidade internacional.  Em seu discurso na ONU, Lula afirmou que a ampliação teve o sentido justamente de lutar por “uma ordem que acomode a pluralidade econômica, geográfica e política do século 21.

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