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Conheça Sarah Essam, atleta egípcia e embaixadora do futebol junto de Beckham

Sarah Essam, jogadora de futebol do Egito [sarahessam64/Instagram]

Sarah Essam nunca se esquivou de trilhar seu próprio caminho. Mesmo quando criança, sua paixão pelo futebol queimava intensamente, desafiando as expectativas das outras meninas que não pareciam se interessar pelo esporte.

Em 2017, com apenas 16 anos, Sarah fez história ao se tornar a primeira egípcia a jogar no torneio feminino da Premier League britânica, ao assinar com o clube Stoke City.

Já no ano seguinte, como promessa do futebol internacional, Sarah conquistou o prestigioso título de Mulher Árabe do Ano, na categoria esportiva, consagrado pela Fundação Árabe de Londres. Em seguida, seu nome foi incluído na lista da rede da BBC de 100 Mulheres mais Influentes do Mundo — um passo superlativo na jovem, porém notável jornada de Sarah.

Aos 24 anos, Sarah assinou um contrato com a equipe de futebol Rugby Borough, em agosto deste ano, à medida que o clube busca reconquistar seu espaço no esporte britânico através de investimentos no futebol feminino.

“Comecei a jogar há alguns anos já, no Wadi Degla do Egito, que se tornou desde então um time competitivo na Liga dos Campeões da África”, recordou Sarah. “Durante meu tempo lá, conquistei quatro títulos da primeira divisão e venci quatro vezes a taça dos campeões, tudo isso antes de representar meu país, o Egito, como parte do time feminino sub-17”.

A princípio, sua família recebeu as ambições de Sarah com algum ceticismo, mas sua paixão pelo futebol permaneceu impassível.

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A virada veio quando seu irmão, ex-goleiro do Al Mokawloon — o mesmo clube que revelou Mohamed Salah ao mundo, antes de assinar com o Liverpool —, viu em Sarah seu potencial durante uma partida com amigos. Sarah não tardou em mostrar impecável controle da bola, dribles precisos e uma capacidade de finalização excepcional, o que tornou o irmão — como ela mesmo diz — seu maior fã.

“Ele e seus amigos ficaram chocados com minha coordenação, meus passes e meu drible e isso o levou a me apoiar e ajudar a minha família a enxergar meu talento também”, relatou Sarah. “Meu irmão era goleiro do Al Mokawloon e jogou junto com Mo Salah por um tempo. Nós dois éramos obcecados por futebol, é uma paixão que compartilhamos”.

Seu irmão, porém, decidiu se concentrar unicamente nos estudos de engenharia, enquanto Sarah buscou equilibrar a vida acadêmica com a carreira esportiva, uma decisão que exigiu sacrifícios imensos e impôs em seu caminho árduos desafios, para além de normas culturais das sociedades patriarcais ao redor do mundo.

“Meu irmão vivia com a pressão do vestibular e decidiu deixar o futebol para se concentrar nos estudos. Por outro lado, tentei equilibrar ambos e não foi nada fácil, pois tive de deixar de sair com os amigos, entre outras coisas, para estudar e treinar ao mesmo tempo”.

“O que tornou as coisas mais difíceis foi o jeito que algumas pessoas me olhavam nas ruas, quando me viam com uniforme de futebol: shorts, camiseta e chuteira. Foi algo que tive de superar até mesmo entre alguns amigos que não se convenciam pela minha dedicação. Mas, no fundo, sempre acreditei no meu plano, que era continuar jogando e vencendo até chegar no exterior”.

Sarah lembra da apreensão de seus pais quando ela se mudou ao Reino Unido para estudar engenharia na Universidade de Derby, enquanto perseguia também sua carreira no esporte, sem exemplos claros de mulheres no Oriente Médio que seguiram o mesmo caminho. Não obstante, não perdeu as esperanças e a confiança em si mesma, dedicando horas e horas a um treinamento intensivo para superar limites e se tornar, ela própria, pioneira.

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Sarah enfatiza a importância da gestão de tempo para chegar ao sucesso. Seu malabarismo com as horas de treino, partidas e viagens, além da vida acadêmica, se mostrou um desafio, mas — sobretudo — parte de sua jornada. Tudo valeu a pena quando Sarah conquistou uma bolsa de estudos destinada a atletas de futebol para concluir seus estudos.

Cada atleta tem seu caminho, suas experiências e seus objetivos. Para Sarah, a ideia foi gerir ativamente suas decisões de carreira, fazer ser ouvida e se manter fiel a suas crenças e seus valores. No entanto, sua relação com agentes e executivos nem sempre foi tranquila, o que encoraja a luta de Sarah por maior representação árabe e feminina no mercado da bola.

“Tive muitos problemas com agentes e tive problemas em me dar bem com eles. Deixei um agente há cerca de um mês porque é muito mais difícil para as mulheres ter alguém que as compreenda e as represente bem. É por isso que precisamos de mais profissionais árabes no mundo do futebol, para lutar pelo nosso potencial e talento. Um dia, chegaremos lá”.

A voz de Sarah realmente alcançou os palcos globais, escolhida como embaixadora oficial da Copa do Mundo FIFA no Catar, em 2022, junto de ícones do esporte, como David Beckham e o pentacampeão Cafu.

“Uma das minhas maiores conquistas foi ser escolhida como embaixadora oficial da Copa do Mundo no Catar, junto de lendas como Beckham e muitas outras. Fui a única mulher árabe deste grupo seleto, o que me deu a chance incrível de conviver com jogadores que eu vi no Playstation, quando jogava videogame com o meu irmão. A melhor parte foi dividir o campo com eles na Copa das Lendas, além de entrevistá-los. Foi um sonho que se tornou realidade e fico feliz em não ter desistido nos tempos difíceis”.

Outro marco impressionante na carreira de Sarah foi se tornar a primeira jogadora egípcia a obter o patrocínio da gigante esportiva Adidas — uma conquista não somente pessoal, mas também uma poderosa mensagem de empoderamento e representação às mulheres árabes que decidem dedicar sua vida ao esporte.

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“Ter a maior marca do planeta representando esportistas árabes é algo de que tenho muito orgulho, é algo que sequer sonhei ou pensei que era possível. A Adidas decidiu apoiar minha jornada, o que é uma honra e um privilégio. Ver meu rosto nas lojas da Adidas em meu país é algo surreal. Espero que possa inspirar outras mulheres que queiram seguir uma carreira no futebol ou qualquer outro esporte. Espero realmente me tornar um exemplo no esporte, um exemplo que tanto procurei quando era criança”.

Sarah agradece seus pais, ao reconhecer que suas conquistas são um reflexo de seu resoluto apoio, apesar das preocupações naturais que se tem com um filho.

Ao vestir a camisa do Rugby Borough na Inglaterra, Sarah continua a desafiar a si mesma e outras atletas a seguir seus sonhos. Sua jornada está longe de acabar, reafirmou Sarah. Seus olhos estão voltados a montanhas cada vez mais altas — até mesmo a eventual classificação da seleção feminina do Egito na Copa das Nações da África.

“Continuar jogando e continuar vencendo, é este meu plano”.

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