Os 20 anos da morte do crítico, ensaísta e intelectual palestino Edward Saïd serão relembrados em outubro, em um seminário internacional organizado pela Cátedra Edward Saïd, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), pelo Instituto da Cultura Árabe (Icarabe) e pelo Serviço Social do Comércio em São Paulo (Sesc-SP), com patrocínio da Câmara de Comércio Árabe Brasileira. Do encontro, participarão a mulher do intelectual, Marian, sua filha, Najla, pesquisadores da sua obra e convidados especiais.
De acordo com a professora titular e ex-reitora da Unifesp (2013-2021), Soraya Smaili, a organização do seminário surgiu a partir da Cátedra, que é um órgão vinculado à Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa da Unifesp, para rememorar os 20 anos de falecimento de Saïd, analisar sua obra vista do ponto de vista atual e da herança deixada pelos seus ensaios e argumentos. “Saïd é atemporal, tem um papel quando analisa o fora do lugar, alteridade, começa com orientalismo e depois tem questões que ele trabalha, questões nacionais, discute o árabe no Ocidente”, diz Soraya.
Diretor regional do Sesc-SP, Danilo Santos de Miranda lembra que um dos objetivos do seminário é homenagear Saïd, mas também refletir sobre questões atuais que estão presentes em sua obra, como origem, identidade, exílio, artes e ciências “no âmbito da crítica à dimensão universalista e deficitária dos direitos comuns e acessíveis a todos” e que, para o Sesc SP, proporciona a oportunidade de contribuir para um debate “que está na ordem do dia”.
“Após 20 anos da morte de Edward Saïd, essas temáticas continuam presentes em nossa sociedade, em meio, por exemplo, à ampliação dos estudos pós-coloniais e decoloniais (contraposição ao colonialismo), às demandas dos movimentos identitários. Nesse sentido, este seminário propõe um aprofundamento oportuno à complexidade do pensamento de Edward Saïd, como uma forma de trazer novas perspectivas às questões do presente”, afirma Miranda.
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Saïd nasceu em 1935 em Jerusalém. Era filho de árabes cristãos e passou a infância no Cairo, no Egito, até mudar-se para os Estados Unidos na adolescência. Foi professor da Universidade de Columbia, em Nova York, cidade em que morreu em 25 de setembro de 2003 em decorrência de leucemia, doença que se manifestou a partir de 1992. É autor de diversos livros, entre os quais “Orientalismo – o Oriente como invenção do Ocidente”, “Cultura e imperialismo”, “Humanismo e crítica democrática” e “Reflexões sobre o exílio”.
Seu pensamento se baseava no conceito, e na crítica, em relação à visão e aos valores que o Ocidente imprime ao Oriente. Negava a avaliação que os críticos faziam dele, como fundador de estudos pós-coloniais, pois, na sua interpretação, o colonialismo não deixou de existir. Defensor do Estado Palestino, era um crítico dos Acordos de Oslo, uma tentativa de encerrar os conflitos na Palestina, e do ex-líder da Organização para Libertação da Palestina Yasser Arafat (1929-2004), de quem se distanciou.
Além da presença da mulher e da filha de Saïd, os dois dias de eventos trarão painéis com o escritor Milton Hatoum, com a professora emérita de Teoria Literária e Literatura Comparada da Universidade de São Paulo, Walnice Nogueira Galvão, com o poeta, tradutor e professor de Árabe na USP Michel Sleiman, com o professor de Direito Internacional e Coordenador do Centro de Direito Global e Desenvolvimento da Fundação Getúlio Vargas, Salem Nasser, com o professor de Antropologia Cultural da Universidade La Sapienza, de Roma, Massimo Cavenacci, e com o professor de Humanidades da Universidade de Minnesota e biógrafo de Saïd, Timothy Brennan, e outros intelectuais que se debruçam sobre a obra de Saïd e da cultura árabe.
“O seminário terá pesquisadores do Líbano, e do mundo árabe com trabalhos importantes pesquisando o mundo com o mundo árabe. É importante trazê-lo para o debate. Temos uma construção conjunta. Quando ele fala do diálogo e coexistência, é fazer e construir junto. Por isso sua obra é tão atemporal”, diz Smaili.
Para a vice-presidente de Marketing e Comunicação da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Silvia Antibas, o seminário é uma forma de manter em evidência os argumentos de Saïd. “Edward Saïd é cada vez mais atual, tudo o que ele dizia pode ser totalmente adaptado aos dias de hoje, em temas como a diáspora, o orientalismo, ainda hoje é muito atual”, afirma. Ela lembra também que será o momento de homenagear a professora Olgária Matos, que é coordenadora da Cátedra Edward Saïd.
O seminário será realizado em 10 e 11 de outubro, a partir das 10h30 no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo. A participação é presencial e gratuita, mas é necessário inscrever-se. Mais informações neste link.
Publicado originalmente em Anba