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Roger Waters, Charlie Chaplin e o festival Palestine Writes

Roger Waters em 29 de março de 2011 [Alterna2/Wikipedia]

Diga as palavras “Roger Waters” hoje em dia e muita gente associará sua imagem a um uniforme nazista. Waters, cujas performances possuem um histórico notável de ativismo por direitos civis e contra o racismo, vestiu um figurino de referência nazista em uma esquete antifascimo de sua recente turnês “This Is Not A Drill”.

Contudo, ideólogos sionistas buscaram explorar essa imagem para distorcer a verdade: a expressão “uniforme nazista” foi usada como código para “antissemita”, versão que a “venerável” grande imprensa adotou cegamente. A mentira serviu aos esforços para tentar silenciar um resoluto defensor dos direitos humanos do povo palestino.

Tamanha mentira foi ostentada por aqueles que tentaram em vão cancelar o brilhante festival Palestine Writes na Filadélfia, no último fim de semana, com a participação de Roger Waters. Tive a honra de participar do evento e meu nome também foi mencionado em artigos que buscavam sabotá-lo — embora Waters seja um caso distinto. Como palestrante cujo nome é conhecido pelo público geral — fundador da banda Pink Floyd, com uma carreira solo muito bem sucedida —, as mentiras sobre Waters são repetidas ad infinitum, sem qualquer pudor, pela grande mídia.

O músico britânico estava na Filadélfia pronto para subir ao palco do Auditório Irvine da Universidade da Pensilvânia como parte de uma discussão intitulada “The Cost, Reward and Urgency of Friendship”, com Gary Younge, Viet Thanh Nguyen e Rachel Holmes, como moderadora. Apenas Nguyen e Holmes estiveram presentes. Younge discursou via Zoom por causa da súbita revogação de seu visto, quando já estava no aeroporto. Waters foi descaradamente barrado de entrar no campus, em uma capitulação da reitoria a esforços de intimidação, mas manteve sua participação via Zoom de um lounge do aeroporto.

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Mais tarde, a Universidade da Pensilvânia negou ter barrado Waters — o que se comprovou uma mentira. Após tentar censurá-lo por meio de empecilhos e despesas artificiais, cujo intuito era impossibilitar sua presença, a universidade afirmou expressamente aos organizadores do evento: “Caso Waters apareça, reservamos o direito de cancelar o festival”.

Waters não inventou o uso de adereços de referência totalitária como denúncia aos horrores do fascismo. Em 1940, Charlie Chaplin também vestiu um figurino nazistóide dos pés à cabeça — completo com um bigode hitleresco — em seu filme O Grande Ditador (The Great Dictator). Merecidamente, a obra é reconhecida um clássico do cinema e uma paródia magistral contra a ascensão do fascismo e outras modalidades totalitárias — e, dentro de seu contexto de época, do antissemitismo em particular.

Ambos vestiram um figurino de referência fascista para atacar o fascismo em todas as suas manifestações. As eventuais diferenças no estilo ou na linguagem artística de Waters e Chaplin são irrelevantes no presente contexto. Se o músico se inspirou ou não pelo cineasta não importa — a abordagem teatral é idêntica em seu propósito e sua essência.

Waters também denunciou abertamente em sua turnê o racismo antijudaico. Em seu espetáculo, um telão anunciou Anne Frank entre outras vítimas, com a legenda: “Localidade: Bergen-Belsen; Crime: Ser Judia; Punição: A morte”. Ainda assim, a recordação do assassinato de Anne Frank foi distorcida por completo por ideólogos da imprensa, que alegaram “profanação” de sua memória apenas por estar ao lado de outros nomes emblemáticos de vítimas do racismo e terrorismo de Estado — dentre as quais, Shireen Abu Akleh, repórter palestino-americana executada por um franco-atirador israelense na Cisjordânia ocupada, em 11 de maio de 2022.

O antifascismo de Waters é autêntico — isto é, não é seletivo.

Tampouco penso que era seletivo o antifascismo de Charles Chaplin. Podemos imaginar: se Chaplin estivesse vivo, estaria preso em um lounge do aeroporto da Filadélfia junto de Waters, ambos palestrantes do Palestine Writes, barrados pela Universidade da Pensilvânia em capitulação à modalidade sionista do totalitarismo.

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O Conselho Sionista de Representantes dos Judeus Britânicos mostrou indignação à esquete de Waters, ao voltar a difamá-lo como “antissemita”. Curiosamente, quando em 2005 o príncipe Harry apareceu em uma festa à fantasia com um uniforme nazista — sem qualquer intenção de denúncia por trás de sua indumentária —, a resposta do mesmo grupo se resumiu a advertir para “mau gosto” — contudo, sem qualquer veemência.

Em 1967, Os Produtores (The Producers) de Mel Brooks chegou ao cinema. Seu enredo gira em torno de um roteiro absurdo de uma peça da Broadway que celebra Adolf Hitler e o nazismo, concluída com a canção “Primavera  para Hitler”. Alguns críticos de então detestaram a sátira, mas o termo “antissemita” sequer foi adotado — exceto pelo próprio diretor, que descreveu sua paródia como forma de “dar o troco” nos antissemitas.

Por que então tamanho barulho por nada sobre o festival literário na Filadélfia? O propósito não é apenas sabotar a edição deste ano do Palestine Writes, mas criar tamanho ruído e escândalo para que outras instituições se sintam intimidadas a censurar palestras associadas ao termo “Palestina”. O intuito é que, mesmo que os administradores consigam enxergar através das calúnias, não se sintam seguros em arcar com a controvérsia criada artificialmente em torno dos eventos.

Em 1943, o filósofo e físico Wolfgang Yourgrau — judeu alemão — descreveu o sionismo da seguinte maneira, à revista Orient: “O crescimento do fascismo na Palestina em um momento no qual as nações libertadas o sepultarão é uma tragicomédia”.

De fato, é o que parece.

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As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a política editorial do Middle East Monitor.

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