Na manhã deste sábado (7), grupos palestinos lançaram um ataque surpresa contra Israel a partir da Faixa de Gaza, incluindo disparo de foguetes sucedido pela infiltração de tropas da resistência nos assentamentos israelenses ao redor do território sitiado.
A seguir, o que sabemos até então:
O ataque
Mohammad Deif, chefe das Brigadas al-Qassam, braço armado do movimento Hamas, confirmou o disparo de cinco mil foguetes em direção a Israel.
O exército israelense, por sua vez, divulgou o número de 2.200 projéteis.
A título de comparação, grupos da resistência palestina lançaram cerca de quatro mil foguetes nos 50 dias dos massacres israelenses a Gaza em 2014.
Combatentes palestinos também atravessaram a fronteira rumo ao território considerado Israel — ocupado durante a Nakba, ou “catástrofe”, de 1948, como os palestinos chama a criação do Estado de apartheid via limpeza étnica.
Muitos dos refugiados da Nakba foram expulsos de suas terras ancestrais a Gaza, cujas áreas civis são alvejadas por frequentes bombardeios israelenses, sobretudo desde a imposição do cerco militar israelense em 2007.
Não está claro como os palestinos cruzaram a fronteira, mas estima-se ao menos dezenas de infiltrados. O Hamas divulgou vídeos de combatentes seguindo a Israel em motocicletas por meio de um buraco na cerca de fronteira.
A imprensa israelense alegou que combatentes atravessaram a fronteira de paraquedas, então abriram os portões para dar passagem.
Vídeos não verificados que circularam online mostram o episódio. O Hamas também divulgou vídeos de seus soldados com equipamentos de paraquedismo, mas não há confirmação da data.
Richard Hecht, porta-voz do exército israelense, reportou uma “invasão coordenada, envolvendo paraquedistas, por meio de terra e mar”.
As baixas
Serviços de inteligência israelense disseram que ao menos 20 colonos foram mortos, incluindo um indivíduo morto por um foguete que caiu em Kfar Aviv.
Outros quatro assentamentos no sul do território designado Israel foram atingidos.
Segundo relatos, o prefeito de Shaar Hanegev foi morto em uma troca de tiros com os combatentes da resistência.
Paramédicos israelenses estimam 545 feridos, muitos em estado grave.
Contudo, o número de baixas pode ser maior. Fotos e vídeos viralizaram online indicando diversos soldados e colonos mortos na região.
A resposta
Israel declarou estado de guerra.
“Isso não é uma operação, estamos em guerra”, disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
“Nesta manhã, o Hamas lançou um ataque surpresa assassino [sic] contra o Estado de Israel e seus cidadãos”, alegou Netanyahu. “Instruí a evacuação das comunidades infiltradas pelos terroristas [sic] e ordenei extensiva mobilização de nossas reservas e devolveremos fogo em uma magnitude que o inimigo não conhece”.
Israel já começou a lançar bombardeios a Gaza.
Deif pediu a todos as facções nacionais palestinas que estejam prontas a reagir a Israel.
O influente movimento libanês Hezbollah, que travou sua última guerra com Israel em 2006, saudou a ofensiva.
“A resistência é a única opção diante da agressão e da ocupação e esta é uma mensagem ao mundo árabe e islâmico e à comunidade internacional, em particular, àqueles que buscam a normalização de laços com o inimigo, de que a questão palestina não morrerá até a vitória e a libertação”, declarou o Hezbollah em nota.
Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha emitiram notas de repúdio sobre o ataque.
A situação em curso
O Hamas diz ter capturado diversos reféns. Acredita-se que os prisioneiros de guerra abarcam soldados e civis. Vídeos sugerem que alguns foram levados a Gaza.
A polícia israelense estima que 60 combatentes da resistência continuam em Israel, em ao menos 14 localidades. Previamente, autoridades ocupantes disseram haver 21 “pontos de confrontação direta” no sul de Israel, incluindo o envio de forças especiais.
Em Jerusalém Oriental ocupada, civis palestinos obstruíram estradas e receberam como resposta da polícia israelense disparos de gás lacrimogêneo.
O establishment de Israel instruiu seus cidadãos a não sair de casa.
Contexto
Trata-se do maior ataque surpresa a Israel desde a guerra de 1973, lançada pelo Egito.
Hamas e Hezbollah reiteraram que a operação serve de resposta às violações israelenses contra a Mesquita de Al-Aqsa, em Jerusalém.
Nas últimas semanas, foram comemorados sucessivos feriados judaicos, usados pelo regime ocupante para expulsar fiéis palestinos do complexo religioso e escoltar centenas de colonos extremistas ao santuário islâmico. Crimes de ódio contra muçulmanos e cristãos registraram pico.
Em maio de 2021, invasões coloniais a Al-Aqsa levaram o Hamas a lançar foguetes a Israel, o que deflagrou duas semanas de bombardeios israelenses a áreas civis de Gaza, deixando ao menos 250 mortos entre os palestinos, contra 14 do lado israelense.
A crise de então foi marcada por protestos acalorados nas cidades árabes e mistas do território considerado Israel.
Este ano registra recordes de mortalidade entre os palestinos, ao menos desde a Segunda Intifada em 2005. Até então, ao menos 172 palestinos foram mortos por forças israelenses na Cisjordânia ocupada, dando razão à opção de resistência.
O direito internacional prevê a resistência à ocupação e colonização como legítima — incluindo a resistência armada.
Publicado originalmente em inglês em Middle East Eye