Israel atacou aldeias e cidades, casas e lugares santos, colheitas e lares por décadas e décadas. O Estado ocupante e seus aliados “democratas” em todo o mundo ignoram direitos humanos e a lei internacional ao permitir que Israel aja com impunidade. Perder entes queridos e enfrentar abusos é basicamente o dia a dia da vida palestina.
Subitamente, o mundo despertou à violência na Palestina ocupada, mas somente porque, nesta ocasião, foram os palestinos que responderam a anos e anos de opressão e os israelenses são as “vítimas”. A operação de resistência conduzida pelas Brigadas al-Qassam, braço militar do grupo Hamas, expôs não apenas as vulnerabilidades militares e de inteligência, como também — mais uma vez — a hipocrisia do Ocidente. O ataque inédito e surpreendente sobre assentamentos e bases militares perto da cerca oeste de Gaza compreendeu audaciosas ofensivas sobre o quartel-general do Comando Sul das Forças Armadas de Israel, incluindo a captura de equipamentos e oficiais.
Às 6h15, combatentes palestinos romperam a cerca nominal com jipes, motocicletas e paraquedas sob a cobertura de uma artilharia de foguetes sem precedentes. Surpreendidos, o exército ocupante mal conseguiu reagir. Sem qualquer oposição efetiva, a resistência palestina se infiltrou em mais de 20 assentamentos e bases militares; capturaram tantos soldados e colonos quanto possível; e abriram fogo contra aqueles que recorreram às armas. Com nada mais que rifles de assalto e granadas de mão, os combatentes palestinos conseguiram pôr de joelhos a única potência nuclear do Oriente Médio. Analistas militares, incluindo israelenses, concordam com o enorme sucesso da operação das Brigadas al-Qassam contra as Forças Armadas e os serviços de inteligência de Israel, equipados com tecnologia e armamentos de ponta.
“Mohammad Deif [comandante das Brigadas al-Qassam] liderou uma operação que envergonhou os serviços de inteligência de Israel, que acreditavam que o Hamas não tinha intenções de escalar esforços”, comentou Carmela Menashe, correspondente militar israelense. “Mohammad Deif, que falhamos em assassinar dezenas de vezes, comanda agora uma meticulosa batalha no âmago de Israel”.
O jornalista israelense Or Heler corroborou: “As Brigadas al-Qassam foram muito bem-sucedidas em nos surpreender tanto em escala militar quanto de inteligência. Nos atacaram de mar, ar e terra”.
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Conforme o periódico em hebraico Maariv: “O ataque a Israel é um tremendo fracasso de inteligência que chocou o mundo inteiro”. O jornal Haaretz responsabilizou o premiê Benjamin Netanyahu: “O primeiro-ministro, que tanto se orgulha de sua vasta experiência e sua sabedoria insubstituível em questão de segurança, fracassou por completo em identificar os riscos aos quais conscientemente levou Israel, ao estabelecer um governo de expropriação e anexação, quando empossou Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir a ministérios estratégicos, ao abraçar uma política externa que expressamente ignora os direitos e a existência do povo palestino”.
O Estado ocupante de Israel prometeu ensinar uma lição aos palestinos por ter a audácia de reagir ao regime de apartheid. Com apoio dos governos ocidentais, começou a fazê-lo. Reservistas já foram convocados para perpetrar a punição coletiva contra os dois milhões de palestinos que vivem em uma prisão a céu aberto criada pelos 17 anos de cerco militar israelense contra a Faixa de Gaza. A tarefa, contudo, se mostra mais difícil do que esperavam os sionistas. No momento em que escrevo, a imprensa israelense reporta combates em quatro localidades perto da cerca oriental de Gaza.
O gabinete de segurança em Tel Aviv conferiu aval a Netanyahu neste domingo (8), ao proclamar novamente “guerra” contra Gaza. Husam Zomlot, embaixador palestino no Reino Unido, contudo, reiterou à rede Sky News que a “guerra” está em curso há décadas. O regime israelense jamais deixou de atacar civis palestinos, homens, mulheres e crianças, ao matá-los e destruir suas casas e sua infraestrutura.
Netanyahu ordenou aos residentes de Gaza que “saiam”, mas não há aonde ir, afinal estão sob cerco há 17 anos. Portanto, sabemos que as Forças Armadas de Israel esmagarão violentamente a comunidade civil de uma das áreas mais densamente povoadas do planeta — haverá milhares de mortos e feridos. De fato, mais de 300 palestinos já foram assassinados pela operação de “autodefesa” de Israel; outros dois mil ficaram feridos. Conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), ao menos 123.500 pessoas já sofreram novo deslocamento interno na Faixa de Gaza.
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O que fará — imagino — o notório criminoso de guerra que muitos celebram como primeiro-ministro? Chaim Levinson, articulista israelense, escreveu ao Haaretz questionando mais ou menos o mesmo: “O que quer que Israel faça daqui em diante pouco importa. Mesmo que encontre Mohammed Deif em seu bunker e o leve a julgamento, como aconteceu na Guerra de Yom Kippur, a derrota veio pelo primeiro golpe. O resto é história para os historiadores”.
Concordo. O que quer que a ocupação israelense faça terá pouco ou nenhum impacto real. Serão somente mais massacres e violações das leis e das convenções internacionais. Netanyahu não pode ir além do que já faz. É nisso que é bom o infame “exército mais moral do planeta”: bombardear e matar civis desarmados — sua única “virtude”.
Desta vez, há mais de cem prisioneiros de guerra em Gaza, não somente um punhado. Desta vez, é verdade, devemos esperar mais bombas lançadas dos céus e mares contra nossas comunidades — quem sabe, até mesmo uma invasão de infantaria. Então haverá um cessar-fogo sob mediação internacional e uma troca de prisioneiros. Haverá “calma” até que o dedo no gatilho em Tel Aviv coce novamente. Logo em seguida, mais e mais palestinos serão mortos, novas violações ocorrerão e a impunidade israelense será celebrada.
A solução — sejamos óbvios — é simples: acabar com a violenta ocupação militar de Israel. Então, a resistência contra a ocupação e a colonização — legítima, conforme o direito internacional — não será necessária. Que os palestinos vivam suas vidas em paz, sem serem molestados por soldados e colonos. É muito, muito simples. Mas Netanyahu e seus apoiadores e acólitos de extrema-direita estão firmemente comprometidos com sua busca por supremacia racial, mais e mais violência e devastação.
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