Jatos israelenses dispararam bombas de fósforo branco na área portuária a oeste de Gaza, nesta quarta-feira (11), resultando na intoxicação de centenas de civis, reportaram fontes médicas palestinas, verificadas pela organização Human Rights Watch (HRW).
Diversas vítimas foram transferidas a hospitais, outras receberam cuidados in loco.
A maioria dos feridos são crianças e idosos, sobretudo pacientes com condições respiratórias pré-existentes.
Segundo informações, uma área extensa no oeste da Faixa de Gaza sitiada foi coberta com fósforo branco, segundo um correspondente da agência Anadolu.
“O uso de fósforo branco nas operações militares de Israel na Faixa de Gaza e no território libanês põe civis em risco de ferimentos graves de longo prazo”, declarou o HRW em nota.
O HRW verificou vídeos gravados entre 10 e 11 de outubro, mostrando múltiplas explosões aéreas de fósforo branco sobre a região portuária da Cidade de Gaza e duas posições rurais na fronteira com o Líbano.
Fósforo branco pega fogo quando exposto ao oxigênio atmosférico e continua a queimar até se exaurir, causando ferimentos graves e ateando fogo a campos e estruturas civis. A reação química cria um calor intenso (cerca de 815 °C), além de fumaça asfixiante.
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Ao contactar a pele, o fósforo branco causa queimaduras térmicas e químicas, envolvendo músculo e osso, altamente solúvel em lipídios — isto é, carne humana. Além disso, agrava ferimentos abertos, invade a corrente sanguínea e causa falência dos órgãos.
Nos sobreviventes, cicatrizes extensas causam deficiência física, dores crônicas e trauma psicológico.
“O uso de fósforo branco na Faixa de Gaza, uma das áreas mais densamente povoadas do mundo, amplifica o risco a civis e viola a lei internacional”, acrescentou a ong.
“Ao ser usado em áreas civis superpovoadas, o fósforo branco representa grave risco de queimaduras excruciantes e sofrimento por toda a vida”, observou Lama Fakih, diretora regional do HRW. “Fósforo branco é ilegal pois explode indiscriminadamente sobre o céu de áreas urbanas, onde pode incendiar casas e causar danos hediondos a civis”.
Duas fontes em campo, entrevistadas pelo HRW nesta quarta-feira (11), descreveram ataques consistentes à região de al-Mina na Cidade de Gaza.
Uma das testemunhas estava na rua na ocasião; a outra estava em um prédio próximo. Ambos descreveram ofensivas aéreas antes de ver explosões no céu seguidas pelo que descreveram como “linhas brancas” em direção ao solo, além de forte odor.
Estima-se que o ataque ocorreu entre 11h30 e 13 horas locais.
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O Human Rights Watch analisou os vídeos e identificou cenário e munição: região portuária da Cidade de Gaza e projéteis de artilharia de 155mm de fósforo branco.
Outros dois vídeos gravados no dia anterior (10) foram verificados pelo HRW, de duas localidades distintas na fronteira nominal entre Israel e Líbano. A mesma artilharia foi identificada.
Projéteis de fósforo branco se propagam por um diâmetro de 125 a 250 m², a depender da altitude dos disparos, amplificando danos.
Autoridades israelenses não comentaram as evidências até então.
As denúncias coincidem com bombardeios a Gaza desde 7 de outubro, quando o movimento de resistência Hamas lançou uma ofensiva surpresa contra a ocupação, incluindo disparo de foguetes e infiltração por terra através da fronteira.
Os ataques a Gaza mataram 1.400 palestinos até então, sobretudo civis, e deslocou ao menos 338 mil pessoas.
Autoridades israelenses cortaram energia, água, comida e combustível aos 2.4 milhões de habitantes da faixa costeira, sob grave situação humanitária após 16 anos de cerco.
Ataques aéreos com armas incendiárias contra áreas civis são proibidos pela lei internacional.
“Para evitar danos civis, Israel deve suspender o uso de fósforo branco em áreas povoadas”, prosseguiu Fakih. “As partes no conflito devem fazer tudo em poder para poupar os civis de maiores sofrimentos”.
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