Centenas de famílias na Faixa de Gaza decidiram retornar das áreas meridionais e centrais do território sitiado rumo ao norte, dias após deixarem suas casas sob ordens do exército israelense, como preparativo a bombardeios indiscriminados.
Sem alternativa ou refúgio seguro, o retorno ocorre devido a condições instáveis em toda a região, após a “noite mais horrível de todas”, à medida que o exército da ocupação executa ataques ininterruptos a áreas civis.
Refugiados descreveram o retorno a áreas de risco como natural, “diante da pressão sobre serviços nas áreas centro e sul, onde não há água, luz ou combustível”.
No domingo (15), sob pressão de relações públicas, Israel bombeou brevemente alguns litros de água ao sul e centro de Gaza; porém, sem energia elétrica para levar os recursos às casas, o abastecimento foi meramente retórico.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), Israel forneceu aos palestinos de Gaza apenas 4% da água que precisam para sobreviver.
Nizar Abdel Karim (40) confirmou que ele, sua esposa e seus quatro filhos tiveram de fugir a Khan Yunis, três dias atrás, mas decidiram voltar à Cidade de Gaza devido aos bombardeios. Segundo Karim, áreas de suposto refúgio estão superlotadas e carecem de serviços.
“Prefiro morrer na minha casa do que viver sem o básico da vida”, comentou Karim. “As crianças não conseguem dormir porque não temos cama ou cobertor, em particular, nas noites frias de Gaza”.
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Samar Abdel Ghafour (38), mãe de três filhos, voltou com sua família de Deir al-Balah ao centro de Gaza. “[A região] estava sujeita a duro bombardeio nos últimos dias”, reportou Ghafour. “Sobrevivemos a diversos ataques israelenses enquanto estávamos lá”.
As crianças, reiterou a mãe, sofrem de “pânico, terror e pesadelos”.
Segundo seu relato, o local para o qual fugiu tinha cerca de 60 m² e abrigava 50 pessoas — sem privacidade ou lugar para dormir; sem água, sem luz, sem internet, com pouquíssima comida e outros insumos.
“A comida está quase acabando no sul de Gaza, assim como em toda a região”, afirmou Ghafour. “Lá, no entanto, está mais superlotado. O sul já não consegue mais absorver a pressão dos refugiados”.
Quase 2.4 milhões de palestinos sofrem um desastre humanitário sob a agressão em curso contra Gaza. O massacre deixou civis sem teto, ao privá-los de necessidades básicas, como água, comida, eletricidade e medicamentos.
Ao defender o cerco absoluto contra os palestinos de Gaza, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, os descreveu como “animais”.
Ao menos 2.808 morreram até então, incluindo 853 crianças e 636 mulheres, além de 10.850 feridas. Milhares continuam presos sob os escombros, provavelmente mortos.
Israel se recusa a abrir um corredor humanitário. As ações equivalem a genocídio, punição coletiva e crime de guerra.
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