Quando a tempestade de bombas cessar, quando o rugido de morte dos tanques e canhões se aquietar, quando os prédios deixarem de queimar e de ruir, sobrará uma coisa. Quando as valas comuns de mulheres e crianças não forem mais visíveis, quando não existir mais terror nos olhos das meninas e dos meninos, quando o choro e os lamentos não forem mais ouvidos, quando os gemidos de dor se apagarem, sobrará uma coisa. Quando os generais tiverem sua sede de sangue saciada, quando as análises do realismo político e militar se apagarem na palidez dos tempos, quando a falha justiça dos homens estiver morta, quando Biden, Netanyahu, seus ministros e estrategistas virarem pó, sobrará uma coisa.
Sobrará o implacável juízo da História. Claro, a história pode ser escrita e reescrita, pode ser contada de várias maneiras, mas o seu juízo sempre tem um sentido universal. E no sentido universal deste juízo sobressai a sentença moral, pois é a perspectiva da humanidade, de sua construção e de sua opção que estará em jogo. Esta sentença moral será profundamente condenatória às decisões e às ações dos Estados Unidos e de Israel acerca do que fizeram, estão fazendo e farão em Gaza de modo particular e com os palestinos em geral.
Se olharmos para as sentenças morais da história de todos os tempos, não resta duvida de que o tirano, o dominador, o explorador, o exterminador, o genocida será condenado. Os oprimidos, os explorados, os humilhados, os espezinhados, os massacrados serão louvados, porque são as vítimas. A compaixão humana sempre triunfa sobre a impiedade, embora as vítimas quase nunca triunfem sobre a crueldade dos tiranos criminosos.
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A história condenará Estados Unidos e Israel e seus atuais governantes e renderá suas homenagens aos palestinos. Não ao Hamas, mas ao povo palestino. É o povo palestino que está sofrendo as piores aflições. O Deus de Moisés mandou que este voltasse para o Egito, libertasse os hebreus, pois eles estavam sofrendo terríveis aflições. Os palestinos de hoje são os hebreus antigos. Esperam um líder, um enviado de Deus, para que os liberte da tirania dos “faraós” de Tel Aviv e de Washington.
Ao voltar de Israel, onde foi dar apoio a Netanyahu para continuar a matança em Gaza, Biden pretendeu buscar legitimidade nos discursos fundacionais de John Winthrop. Trata-se de uma farsa: Os Estados Unidos não são mais uma cidade no alto da colina a espargir a luz da razão e da liberdade no mundo como uma lamparina. Despois da Segunda Guerra, os Estados Unidos começaram a pairar sobre o mundo como uma nuvem escura, ameaçadora da liberdade e da autodeterminação dos povos.
Agrediram o Vietnã, incendiaram inocentes, semearam fogo, mentiram para destruir o Iraque, invadiram o Afeganistão, derrubaram governos democráticos e apoiaram ditaduras. Nessas guerras todas, os Estados Unidos já foram sentenciados e condenados pela história. Além disso, foram derrotados e voltaram para casa com os ombros cobertos de vergonha. Não aprenderam essas lições da história e agora são o escudo da brutalidade praticada por Israel em Gaza.
Desde a criação do Estado de Israel, são o escudo para que Israel desobedeça as resoluções da ONU, viole as balizas originais das destinações de territórios. São o escudo para que os judeus ortodoxos roubem as terras dos palestinos, cometam massacres e deslocamentos desses deserdados da terra.
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O conceito de “dois Estados” é uma mentira que vem sendo propagada há mais de 50 anos. Os judeus têm seu Estado e isto é correto. Mas por que, até hoje, os palestinos não têm o seu? Porque Israel e os Estados Unidos não querem.
Biden comparou o Hamas a Putin. Deveria ter comparado os Estados Unidos com a Rússia e Putin com Netanyahu. A guerra de Gaza não é uma guerra da barbárie contra a democracia. É uma guerra por terra e liberdade contra grileiros e opressores.
O secretário geral da ONU, António Guterres tem razão: o terrorismo do Hamas é injustificável, mas ele não vem do vácuo. A opressão imposta aos palestinos por Israel e os Estados Unidos é a causa dessa violência. Os palestinos, há mais de 50 anos, têm suas casas invadidas, suas terras roubadas, suas fontes tomadas. Não podem cultivar seus campos, colher os frutos de suas oliveiras, videiras e romãzeiras. Não podem ter paz, não podem sonhar com a paz, não podem criar seus filhos em paz, não podem sonhar com um futuro esperançoso. É neste terreno de sofrimentos e humilhações que germina o terrorismo.
É certo que as queixas do povo palestino não justificam a violência do Hamas. Mas também é certo que o terror do Hamas não justifica o terrorismo de Estado praticado por Israel contra a população civil de Gaza. Nem o discurso do extermino do Hamas pode encobrir o massacre dos palestinos. O holocausto ensejou a criação do Estado de Israel. Mas o holocausto não legitima a história de violência que o Estado de Israel desenvolve contra os palestinos. No fundo, Netanyahu e seus ministros radicais querem exterminar os palestinos. Já vocalizaram esta intenção várias vezes.
A destruição de hospitais, mesquitas, escolas, edifícios, bairros e cidades em Gaza precisa parar. Gaza já é um campo de concentração a céu aberto. Agora, os bombardeios impiedosos, estão transformando Gaza num grande cemitério a céu aberto. São milhões de pessoas sem comida, sem água, sem remédios.
Não podemos ficar indiferentes com o que está acontecendo em Gaza. Precisamos nos indignar e agir. Milhares de pessoas estão se manifestando pelo mundo em favor dos palestinos. O senso moral dessas pessoas e sua compaixão diante do sofrimento, dor e morte, mobilizam essas pessoas nas ruas. Querem o fim da matança e querem uma solução definitiva para a causa dos palestinos.
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Só existem três medidas justas, neste momento, em relação à guerra em Gaza: a suspensão da matança, ajuda humanitária aos palestinos e a libertação dos reféns do Hamas. O resto vem depois. São medidas urgentes, desesperadas, capazes de impedir milhares de mortes. Mas Israel e os Estados Unidos não querem estas medidas. Sem escrúpulos morais, desprovidos de valores humanistas, a história os condenará.
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