Israel intensificou seus bombardeios a toda a Faixa de Gaza, após impor um blecaute total nas comunicações, reportou a rede de notícias Al Jazeera.
O território palestino está agora sem internet ou serviço de telefonia; as últimas imagens mostram explosões e incêndios em meio a prédios no escuro, sob o rugido ensurdecedor dos aviões de guerra.
Pouco antes de cair o contato, correspondentes da Al Jazeera reportaram explosões nos arredores do hospital al-Shifa, maior complexo médico de Gaza, na cidade homônima. A instalação abriga milhares de pacientes, jornalistas e mais de 40 mil civis deslocados que buscaram refúgio após Israel bombardear suas casas.
O ataque ao hospital superlotado foi prenunciado por uma vídeo-montagem publicada pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, na rede social X (Twitter), na qual afirmou obter dados de inteligência sobre uma suposta base do grupo Hamas sob o centro de saúde.
A montagem tem como fonte o próprio regime da ocupação, sem qualquer verificação independente; portanto, propaganda de guerra, usada como pretexto para um ataque deliberado à instalação civil — isto é, crime de guerra.
Na semana passada, o exército israelense bombardeou o Hospital Baptista al-Ahli, também na Cidade de Gaza, deixando ao menos 500 mortos.
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Desde 7 de outubro de 2023, quando Israel lançou seu mais recente massacre contra a Faixa de Gaza, hospitais, escolas, mesquitas, igrejas e bairros residenciais inteiros foram alvejados regularmente e destruídos.
O Hospital Indonésio e o campo de refugiados de Breij também estão sob ataque.
O blecaute quase absoluto significa que a maioria dos 2.4 milhões de residentes de Gaza estão sem qualquer acesso a serviços emergenciais, tampouco podem contar ao mundo sobre o que está acontecendo, em meio a uma iminente madrugada de terror.
Diversas instituições humanitárias e internacionais perderam contato com suas equipes em campo, entre as quais a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) — ambas agências da Organização das Nações Unidas (ONU).
Também sem contato com seus profissionais, a ong Médicos Sem Fronteiras (MSF) destacou “profunda consternação” sobre a situação em Gaza. “Estamos particularmente preocupados com os pacientes, trabalhadores de saúde e milhares de famílias que se abrigam no hospital al-Shifa e em outras localidades”, escreveu a MSF nas redes sociais.
“Pedimos proteção inequívoca a todas as instalações médicas, equipes e civis, em toda a Faixa de Gaza”, acrescentou.
Tedros Ghebreyesus, diretor da OMS, comentou: “Este cerco me deixa profundamente preocupado com a segurança e os riscos imediatos de saúde de pacientes vulneráveis”.
Catherine Russel, diretora da Unicef, corroborou o tom: “Estou extremamente apreensiva com outra noite de horror indescritível a um milhão de crianças em Gaza”
Entre outras organizações agora incomunicáveis estão a Sociedade do Crescente Vermelho, a American Friends Service Committee, a Medical Aid for Palestinians e a Action Aid.
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O Comitê de Proteção aos Jornalistas declarou “profundo alarde” pela situação, ao alertar para “graves consequências”, incluindo desinformação. “Um blecaute nas comunicações é um blecaute no noticiário”, reafirmou.
“Nesta hora mais sombria, estamos com os jornalistas, aqueles que buscam a verdade e cujo trabalho diário nos mantém informados sobre os fatos, ilumina a condição humana e ajuda a responsabilizar as forças no poder”, declarou o comitê.
A federação beneficente Oxfam destacou estar “profundamente preocupada” com a perda de comunicação com Gaza e ressoou os apelos por um cessar-fogo imediato, em nome das vidas inocentes, sujeitas a uma situação de catástrofe.
Os ataques israelenses desde 7 de outubro contra a Faixa de Gaza sitiada equivalem a punição coletiva, genocídio e crime de guerra.