Com corredores lotados, médicos de Gaza operam sem anestesia

Os corredores do Hospital al-Shifa, maior complexo de saúde da Faixa de Gaza, no centro da Cidade de Gaza, se tornaram centros de trauma a muitos dos feridos pelos bombardeios de Israel. Médicos se veem forçados a conduzir cirurgias nos quartos e corredores, sem sequer anestesia, à medida que o estoque de remédios e equipamentos chega ao fim.

Por quase 30 dias consecutivos, o exército israelense trava uma ofensiva devastadora contra Gaza, matando e ferindo dezenas de milhares, a ampla maioria, mulheres, crianças e idosos, além dos desaparecidos. A situação humanitária é catastrófica.

Marwan Abu Saada, cirurgião e diretor de cooperação internacional do Ministério da Saúde em Gaza, observou à agência Anadolu que tais cenas se tornaram o cotidiano dos hospitais no território sitiado, incluindo al-Shifa.

“Como podem ver, este lugar se tornou uma sala de recuperação para os pacientes porque não há leitos vazios nas unidades de terapia”, declarou Abu Saada. “É muito duro para nós, diante das circunstâncias presentes, ver pacientes jogados nos corredores em condição de cirurgia, por conta da superlotação das principais salas de recuperação”.

Abu Saada reiterou que não há um único leito disponível nas alas de internação.

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“Estamos com plena capacidade nas salas de recuperação. Ao menos 800 feridos estão hoje  alocados nos leitos para tratamento”, prosseguiu. “As alas de maternidade, pré-natal, diálise e pronto-socorro também estão repletas de pacientes”.

O ministério tampouco pode dar alta a pacientes de emergência devido à deterioração das condições de segurança, à medida que Israel intensifica seus bombardeios e cada vez mais feridos entram pelas portas.

“Há uma pressão enorme sobre as equipes médicas, mas a maior pressão vem da falta de suprimentos, remédios, quartos, itens descartáveis e equipamentos de terapia intensiva”, explicou Abu Saada. “Ficar sem combustível será um desastre imenso, em particular, aos pacientes em terapia intensiva, maternidades, diálise e que demandam cirurgia”.

Segundo Abu Saada, o estoque de combustível deve chegar ao fim nas próximas horas, a menos que haja a entrada de insumos em Gaza. “Se continuarem a obstruir a entrada de combustível, o maior hospital da Palestina entrará em colapso e nossos pacientes estarão condenados a uma morte lenta”.

Abu Saada alertou que a escassez de alguns itens em particular, como antibióticos, tem impacto direto no tratamento de feridos. “Os traumas que estamos vendo são graves e contém sujeira, projéteis e queimaduras e requerem antibióticos específicos que estão indisponíveis no mercado local ou nos hospitais”.

Abu Saada confirmou sua recomendação de que pacientes sejam evacuados ao Egito, por conta da superlotação dos hospitais de Gaza e do influxo crescente.

Gaza está sob bombardeios israelenses desde 7 de outubro, em retaliação a uma operação de resistência do movimento Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados.

Os bombardeios israelenses deixaram ao menos 8.648 mortos até então — dentre os quais, 3.542 crianças e 2.187 mulheres — além de milhares de desaparecidos sob os escombros e quase 20 mil feridos. Trata-se de genocídio, punição coletiva e crime de guerra.

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