Ao menos 15 pessoas foram mortas e 70 foram feridas por um bombardeio israelense contra uma escola das Nações Unidas, que abrigava milhares de palestinos deslocados no campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza sitiada, neste sábado (4).
“Diversos palestinos foram mortos e outros muitos foram feridos por um ataque aéreo da ocupação contra a escola de al-Fakhura, que servia de abrigo a milhares de deslocados na parte oeste de Jabalia”,reportou o Ministério do Interior do governo local.
O bombardeio coincide com incessantes ataques de Israel à infraestrutura civil, incluindo escolas, hospitais e abrigos.
Neste entremeio, a Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA) advertiu que a bandeira da entidade internacional já não basta para proteger os civis em Gaza, à medida que Israel continua a infringir todas as regras de guerra.
“Sejamos claros, no momento, não há lugar seguro em Gaza”,comentou Thomas White, diretor regional da UNRWA.
Nesta sexta-feira (3), Israel bombardeou um comboio de ambulâncias em frente ao Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, maior complexo de saúde do território sitiado, com milhares de pacientes e ao menos 20 mil pessoas refugiadas em seu interior e entorno.
Ao menos três hospitais tiveram os arredores alvejados por Israel, deixando baixas. Um reservatório de água na região de Rafah, no sul de Gaza, perto da fronteira com o Egito, também foi atingido nas últimas horas.
“O massacre em al-Fakhura cometido por Israel nesta manhã deixou 15 mortos e 70 feridos”, reiterou à imprensa Ashraf al-Qudra, porta-voz do Ministério da Saúde.
“Ao menos um disparo atingiu o pátio da escola, onde havia tendas a famílias deslocadas”, relatou a agência das Nações Unidas em comunicado. “Outro ataque atingiu o interior da escola, onde mulheres faziam pão”.
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Na quinta-feira (2), a UNRWA reportou que quatro de suas escolas, usadas como refúgio, foram danificadas por bombardeios israelenses. Estima-se 1.4 milhão de deslocados em quatro semanas, de uma população total de 2.4 milhões de habitantes.
Israel lançou sua mais recente e mais brutal ofensiva a Gaza em 7 de outubro, em retaliação a uma operação surpresa do grupo de resistência Hamas, que cruzou a fronteira e capturou soldados e colonos.
A ação de resistência decorreu de meses de escalada colonial em Jerusalém e na Cisjordânia, além de 17 anos de cerco militar a Gaza.
Em Gaza, foram mortos 9.488 palestinos até então, entre os quais 3.826 crianças e 2.405 mulheres. Ao menos 30 mil pessoas ficaram feridas, além de 2.200 desaparecidos sob os escombros, dos quais 1.250 crianças.
Reincidência
Não é a primeira vez que Israel alveja a escola de al-Fakhura.
Em 6 de janeiro de 2006, um bombardeio israelense matou 40 pessoas abrigadas no local. Tel Aviv apelou à alegação de costume de que havia militantes do Hamas dentro da escola; contudo, foi desmentido por um inquérito das Nações Unidas.
Na ocasião, a imprensa internacional prenunciou que os sucessivos ataques a estruturas civis, as imagens de al-Fakhura e a resposta da opinião pública resultariam em um recuo inevitável por parte de Israel.
O The New York Times comentou que as mortes em al-Fakhura “inevitavelmente causariam náusea em todo mundo e aumentariam a pressão por um cessar-fogo”.
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A rede Al Jazeera apontou que o incidente “acumulou pressão” às forças ocupantes para se retirarem de Gaza. O San Francisco Chronicle reportou: “Começa a correr o relógio para que Israel remova suas tropas”.
‘Nossas crianças estão famintas e sangrando’
Sobreviventes do ataque à escola al-Fakhura neste sábado, 4 de novembro de 2023, falaram à Al Jazeera do Hospital Indonésio — também alvejado no dia anterior.
“Eu estava com meus filhos tentando preparar ovos para alimentá-los”, relatou uma mãe palestina. “Estão famintos há dias. Consegui um pouco de comida e no caminho de volta mísseis atingiram a escola. Minha filha foi atingida por um estilhaço”.
Outra mulher, sentada no canto do pronto-socorro, disse: “Nossas casas foram atacadas, não tínhamos onde ir senão os prédios da ONU. Pensamos que a escola seria mais segura. Agora, ninguém está seguro. Até mesmo escolas são atingidas por mísseis”.
“Não há comida ou água, não há luz, nossas crianças estão famintas”, reiterou em pranto. “Mesmo roupas. Corremos descalços para salvar nossas vidas. Mísseis chovem sobre nós. Nossas crianças estão com fome e são mortas, estilhaçadas; outras são mutiladas. Nossas crianças estão famintas e sangrando. E o mundo inteiro está assistindo”.
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