Em entrevista à rede CBS News, o embaixador palestino no Reino Unido, Husam Zomlot, descreveu o encontro entre o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e o secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, como “tenso”.
“O presidente exigiu um cessar-fogo imediato a essa agressão atroz e assassina conduzida por Israel contra nossa população civil”, relatou Zomlot. “[Abbas] destacou que esta não é uma guerra contra o Hamas. Desde o começo, está claro se tratar de uma guerra contra o nosso povo, não apenas em Gaza, mas também na Cisjordânia”.
O emissário criticou o papel dos Estados Unidos na crise, ao repudiá-lo como injusto e enviesado a favor de Israel, ao impedir um cessar-fogo e apelar ao pretexto de “pausa humanitária” — contudo, sem sequer aval das autoridades ocupantes.
Segundo o diplomata, a “pausa” proposta seria irresponsável. “Uma pausa nos crimes de lesa-humanidade? Vamos parar de matar crianças por seis horas e então voltar ao campo para matá-las?”.
Conforme o relato, Abbas declarou a Blinken: “Nos encontramos novamente em condições extremamente difíceis. Não há palavras para descrever o genocídio aos quais nosso povo é submetido em Gaza nas mãos da máquina de guerra israelense, sem nenhum respeito à lei internacional. Como podemos ficar em silêncio diante da morte de dez mil pessoas, quatro mil crianças, dezenas de milhares de feridos e ataques a infraestrutura, hospitais, abrigos e até caixas d’água?”
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Abbas advertiu ainda contra a expulsão dos palestinos de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, objetivo declarado por políticos israelenses. Segundo diplomatas, Tel Aviv trabalha para mobilizar o deslocamento dos habitantes de Gaza ao deserto do Sinai.
“O que acontece em Jerusalém e na Cisjordânia não é menos hediondo, com assassinatos e agressões coloniais, crimes de limpeza étnica, discriminação racial e até mesmo o desvio de recursos palestinos”, destacou Abbas, segundo o relato, em alusão à contenção de impostos da Autoridade Palestina por parte de Israel.
O presidente palestino também responsabilizou absolutamente o regime israelense pela escalada em curso na região.
“Soluções militares não trarão segurança a israelenses”, prosseguiu Zomlot. “Exigimos que os impeçam de cometer tais crimes imediatamente. Segurança e paz só serão possíveis ao dar fim à ocupação israelense das terras do Estado da Palestina”.
Em suma, insistiu Abbas: “A Faixa de Gaza é parte integral do Estado da Palestina, e cumpriremos nossos plenos deveres para com o panorama de uma solução política abrangente para Gaza, Cisjordânia e Jerusalém”.
Desde 7 de outubro, Israel mantém bombardeios ininterruptos a Gaza e violenta repressão na Cisjordânia e em Jerusalém. As ações são retaliação e punição coletiva por uma ação de resistência do Hamas, que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados.
Em Gaza, são 9.770 palestinos mortos até então, incluindo 4.800 crianças e 2.550 mulheres, além de mais de 30 mil feridos e milhares de desaparecidos sob os escombros.
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Na Cisjordânia ocupada, são 151 mortos em um mês — somados a recordes desde janeiro —, além de 2.080 detidos arbitrariamente, sob campanha de prisão e pogroms a cidades e aldeias, cometidos por soldados e colonos armados e radicalizados pelo regime em Israel.
Após o encontro com Blinken, membros das forças de segurança da Autoridade Palestina, que operam na Cisjordânia, deram 24 horas a Abbas para anunciar ações diretas contra o massacre em Gaza, ao prometer “desobediência” e “rebelião”.