Israel opera nos bastidores para mobilizar apoio internacional a seu plano de limpeza étnica em Gaza, ao expulsar os 2.4 milhões de palestinos do território costeiro ao deserto do Sinai, no Egito, reportaram seis diplomatas de alto escalão ao jornal The New York Times.
Líderes israelenses propõem a transferência compulsória — prática comum ao crime de genocídio — sob o verniz de iniciativa humanitária e provisória.
A maioria dos países, no entanto, rechaça a ideia — até mesmo Estados Unidos e Reino Unido — devido ao receio de que o deslocamento em massa seja permanente.
Diplomatas alertam que a medida desestabilizaria o Egito, ao deflagrar uma nova diáspora e uma nova crise de refugiados.
Os palestinos naturalmente condenam a ideia, ao advertir para o risco de outra expulsão em massa, no contexto da Nakba em curso — quando 800 mil palestinos nativos foram expulsos de suas terras ancestrais por milícias sionistas, para possibilitar a criação do Estado de Israel, em maio de 1948.
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O gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu declinou comentar sobre o artigo. No entanto, o próprio premiê compareceu à Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro — antes de lançar sua ofensiva contra Gaza, em 7 de outubro — com um mapa da “Grande Israel”, incluindo Gaza, Cisjordânia e mesmo áreas de países vizinhos, preconizando assim planos expansionistas.
Alguns dias depois do ataque surpresa do grupo de resistência Hamas, na manhã de 7 de outubro, o exército israelense ordenou que metade da população de Gaza — mais de 1.2 milhão de pessoas — fugisse ao sul da faixa mediterrânea. Todavia, bombardeou rotas de fuga e locais de abrigo.
O governo em Tel Aviv tampouco permitiu a abertura da travessia de Rafah, na fronteira entre Gaza e Egito, para que os palestinos deixassem a região. O Cairo — cuja gestão em Rafah é parcial, em parceria com o cerco israelense — também recusa o plano.
Um porta-voz do governo egípcio se negou a comentar o artigo, mas mencionou um discurso recente do presidente Abdel Fattah el-Sisi, no qual expressou rechaço à ideia de permitir que um enorme influxo de refugiados se assente no país.
“O Egito rejeita a liquidação da questão palestina por meios militares ou qualquer tentativa de deslocar à força os palestinos de suas terras, sobretudo às custas dos Estados da região”, observou el-Sisi. “Reafirmo, portanto, que o Egito está resoluto em sua posição de apoio ao direito legítimo do povo palestino a suas terras e à luta legítima do povo palestino”.
Desde 7 de outubro, são 9.770 palestinos mortos em Gaza, incluindo 4.800 crianças e 2.550 mulheres, além de mais de 30 mil feridos e milhares de desaparecidos sob os escombros — provavelmente mortos.
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Neste fim de semana, uma fonte de segurança israelense chegou a se vangloriar de 20 mil mortos no território sitiado.
Na Cisjordânia ocupada, são 151 mortos — somados a recordes desde janeiro — e 2.080 presos arbitrariamente, sob repressão sistêmica e sucessivos pogroms a cidades e aldeias.