Um grupo de cem médicos israelenses emitiu uma declaração neste domingo (6) para pedir às forças ocupantes que conduzam um bombardeio contra o Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, maior complexo de saúde do território sitiado.
O apelo contradiz o juramento e o código de ética da categoria e reforça a retórica desumanizante, em favor do genocídio, endêmica à sociedade colonial israelense.
Os médicos alegam — sem qualquer evidência — que al-Shifa se trata de uma base de “grupos palestinos armados” e que, portanto, deve ser bombardeado.
Estima-se que al-Shifa e seus arredores abrigam até 50 mil pessoas deslocadas pelos ataques ininterruptos de Israel contra a população civil da Faixa de Gaza.
Nesta madrugada, Israel anunciou um cerco à cidade homônima.
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O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu chegou a ameaçar expressamente ataques a al-Shifa, ao disseminar montagens alegando que o local abrigaria túneis utilizados pelo movimento Hamas. Suas declarações foram desmentidas.
A via de acesso a al-Shifa foi bombardeada por Israel na sexta-feira (3), deixando ao menos 13 mortos e 26 feridos entre pacientes que tentavam viajar de ambulância para a travessia de Rafah, na fronteira meridional com o Egito.
“Notificamos o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, o governo egípcio e a comunidade internacional sobre o percurso das ambulâncias carregando feridos ao Egito”, reafirmou o Ministério da Saúde do governo em Gaza. “Entretanto, a ocupação seguiu com seus crimes sem nenhum pudor”.
Nesta segunda-feira (6), aeronaves israelenses atacaram os painéis solares do complexo de saúde, última fonte de energia remanescente às operações locais, dado que as autoridades ocupantes impedem a entrada de combustível há mais de um mês.
Feridos, sobretudo crianças, se acumulam nos corredores de al-Shifa. Os médicos são forçados a realizar cirurgias no escuro, sem sequer anestesia.
Sob as regras da lei internacional, hospitais, escolas e abrigos devem ser protegidos em tempos de guerra, não importam as circunstâncias ou alegações.
Os médicos israelenses, entretanto, ecoados por um grupo de 47 rabinos extremistas, insistem que o bombardeio a al-Shifa é um “direito legítimo”.
Os ataques a al-Shifa geraram repúdio internacional. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, comentou no sábado (4): “As imagens dos corpos espalhados na rua, em frente ao hospital, são assustadoras”.
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Na última semana, Israel intensificou sua agressão por ar e terra contra a população de Gaza, em retaliação a uma operação surpresa do grupo Hamas que cruzou a fronteira e capturou colonos e soldados, em 7 de outubro.
A ofensiva israelense já matou mais de dez mil pessoas em Gaza — quase metade, crianças —, além de 30 mil feridos e milhares de desaparecidos sob os escombros — provavelmente mortos. Trata-se de punição coletiva, crime de guerra e genocídio.