Israel consentiu, em tese, em permitir pausas diárias de quatro horas em seus bombardeios ao norte de Gaza, para possibilitar a fuga dos residentes palestinos, anunciou a Casa Branca, em nome do exército israelense.
John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, declarou nesta quinta-feira (9): “Os israelenses nos disseram que não haverá operações militares nessas áreas durante a pausa e que este processo começa hoje”.
Kirby alegou que as pausas são um “passo positivo” na “direção correta”, a fim de permitir “algumas horas de respiro” e supostamente atenuar a catástrofe humanitária em curso na Faixa de Gaza.
O acordo para implementar as pausas — a serem anunciadas com apenas três horas de antecedência — sucede “um engajamento intensivo da administração [americana] para tentar garantir que o socorro humanitário entre e que as pessoas saiam com segurança”, acrescentou Kirby.
A proposta de “saída”, em particular ao deserto do Sinai, no norte do Egito, equivale, no entanto, a transferência compulsória — prática de limpeza étnica que abarca o crime de genocídio.
Sob pressão interna e diplomática, insistiu o assessor da Casa Branca: “Estamos pedindo a Israel que minimize as baixas civis e faça todo o possível para reduzir os números”.
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Tel Aviv, contudo, mantém bombardeios indiscriminados contra estruturas civis, incluindo bairros residenciais, hospitais, escolas, abrigos e mesmo rotas de fuga.
As pausas contradizem propostas do Catar e Egito por um cessar-fogo humanitário de três dias, em troca da libertação de 12 prisioneiros de guerra israelenses em Gaza, capturados em 7 de outubro pelo movimento Hamas.
O cessar-fogo humanitário, confirmam oficiais, permitiria a entrada de assistência, incluindo combustível, à medida que a população de Gaza passa fome e hospitais deixam de funcionar devido aos blecautes e à falta de insumos para os geradores.
A tentativa de acordo — reportada por duas fontes egípcias à rede Associated Press, além de um oficial das Nações Unidas e um diplomata ocidental — foi discutida durante a semana no Cairo, durante a visita do diretor da Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), William Burns, junto de uma delegação israelense.
Questionado sobre as chances de um cessar-fogo em Gaza, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, respondeu a jornalistas: “Nenhuma. Nenhuma possibilidade”.
Em resposta, progressistas americanos reiteraram que não pretendem votar no candidato democrata à reeleição, à véspera de um conturbado ano eleitoral. Biden ignora chamados domésticos e globais para pressionar Israel a um cessar-fogo.
O porta-voz e tenente-coronel israelense Richard Hecht, por sua vez, corroborou que seu exército não consentiu com qualquer interrupção contínua nos bombardeios, mas poderá permitir “pausas breves”.
“Não há cessar-fogo. Eu repito, não há cessar-fogo”, reafirmou Hecht. “O que estamos fazendo, essa janela de quatro horas, é uma pausa técnica e localizada”.
Críticos destacam que, mesmo que haja acesso humanitário — sem combustível para os hospitais, no entanto — será insuficiente dada a dimensão da crise, além do fato de que Israel tem como propósito remoção demográfica e expropriação de território.
Israel mantém bombardeios ininterruptos contra Gaza desde 7 de outubro, deixando 10.812 mortos até então, entre os quais 4.412 crianças e 2.916 mulheres, além de ao menos 26.475 feridos. Milhares estão desaparecidos sob os escombros.
Na Cisjordânia ocupada, foram mortos 163 palestinos em apenas um mês, junto de uma campanha de detenção em massa que resultou em 2.280 novos prisioneiros.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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