Soldados israelenses invadiram o Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, maior complexo de saúde no território palestino, onde milhares de civis estão presos há dias, incluindo bebês prematuros, pacientes em estado crítico, famílias deslocadas e profissionais médicos.
As informações são da rede de notícias Middle East Eye.
As tropas romperam o muro norte do complexo, em vez de entrar pelo portão principal, no lado leste, em torno das 2h00 do horário local (00h00 GMT), na madrugada de quarta-feira (15), segundo fontes em campo, médicos e enfermeiros.
Então seguiram ao edifício principal, removendo médicos, pacientes e refugiados ao pátio para interrogá-los com brutalidade. Algumas pessoas foram despidas, vendadas e detidas, reportaram médicos à Al Jazeera em árabe.
Soldados então revistaram e vandalizaram os diversos departamentos do hospital, incluindo as alas de cuidados cardiovasculares, renais e de cirurgia especializada. A invasão prossegue 10 horas após a entrada das forças, embora tanques já não estejam presentes no perímetro.
Israel alega conduzir uma “operação precisa e calculada” contra al-Shifa, sob o pretexto de que a instalação abriga combatentes do movimento Hamas. Fontes em campo, entretanto, confirmam que civis que tentaram deixar o local foram baleados à queima-roupa.
Os líderes israelenses, todavia, se negam a apresentar qualquer evidência para suas ações contra o centro médico — que constituem crime de guerra sob a lei internacional.
Médicos relataram uso de munição real por parte dos soldados israelenses nos corredores do hospital; contudo, sem troca de tiros. Não há confirmação de baixas até então.
Sobre a propaganda israelense de ter levado incubadoras e leite aos bebês internados, Omar Zaqout, diretor do pronto-socorro de al-Shifa, contrapôs:
“O exército ocupante trouxe terror, balas e bombas, nada mais”.
A ofensiva desta madrugada sucedeu dias de cerco militar ao complexo de saúde, incluindo franco-atiradores e drones que abriram fogo indiscriminado.
Ahmed Mokhallalati, médico que até recentemente tratava doentes e feridos em al-Shifa, denunciou as alegações da ocupação como “propaganda de guerra”, ecoadas por Estados Unidos e aliados internacionais, como a imprensa corporativa ocidental.
“Não há nada no centro médico de al-Shifa”, reafirmou Mokhallalati à Al Jazeera em campo.
“Não sabemos o que vão fazer conosco. Não sabemos se apenas querem nos aterrorizar ou se vão matar a todos nós”.
Mokhallalati deixou o hospital na terça-feira (13), sob receio de que seria alvejado pessoalmente por falar à imprensa internacional.
‘Montando um cenário’
O Monitor de Direitos Humanos Euromediterrâneo alertou para a possibilidade das forças israelenses “montarem um cenário” durante sua incursão ao Hospital al-Shifa.
Segundo a ong, o impedimento de que quaisquer oficiais de saúde, imprensa ou agentes internacionais estejam presentes no centro médico durante o ataque “alimenta receios e dúvidas sobre qualquer narrativa posteriormente divulgada”.
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Em nota publicada na manhã desta quarta-feira, o Monitor Euromediterrâneo reiterou preocupação sobre “disparos esporádicos ouvidos dentro do hospital desde o início da invasão”. “Os únicos disparos relatados são de forças israelenses”, acrescentou.
“Alegações sobre o uso de al-Shifa para fins militares não demandaria tanto tempo de invasão para virem à tona”, denunciou o fórum de direitos humanos.
“O tempo em que o exército israelense permanece no hospital incita a apreensão de que se construa um cenário para um espetáculo pré-planejado e artificial”, advertiu o comunicado, ao prenunciar desinformação para encobrir crimes de guerra.
Apoio e repúdio
Em nota emitida nesta quarta-feira (15), Martin Griffiths, chefe de assuntos humanitários da Organização das Nações Unidas e coordenador de assistência emergencial, declarou choque sobre o ataque a al-Shifa.
“Estou chocado pelos relatos de invasões militares ao hospital al-Shifa”, declarou Griffiths. “A proteção de recém-nascidos, pacientes, equipes médicas e civis em geral deve superar todas as outras preocupações. Hospitais não são campo de batalha”.
O Ministério de Relações Exteriores da Jordânia rechaçou Israel por violar a lei internacional, sobretudo a Convenção de Genebra para Proteção de Indivíduos Civis em Tempos de Guerra.
A Casa Branca afirmou: “Não queremos um combate no hospital”. Contudo, se recusou a condenar a operação ou sequer pressionar no sentido contrário.
Os Estados Unidos deram apoio “incondicional” a Israel durante seu genocídio em Gaza, em retaliação a uma ação surpresa do movimento Hamas que atravessou a fronteira e capturou soldados e colonos.
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Washington aprovou um pacote de ajuda militar de US$14.5 bilhões a Israel, além de enviar mísseis e munição, incluindo projéteis voltados à mutilação dos alvos e novas tecnologias de guerra. O presidente Joe Biden — sob recordes de rejeição e sucessivos protestos, à véspera de um conturbado ano eleitoral — se recusa a reivindicar um cessar-fogo.
Israel matou mais de 11.300 pessoas em 40 dias, incluindo 4.600 crianças. Ao menos 3.500 pessoas continuam desaparecidas sob os escombros — provavelmente mortas.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.