O vídeo da incursão militar israelense ao Hospital al-Shifa, na Cidade de Gaza, “prova que o exército mente” sobre o maior complexo de saúde do território palestino, reiterou Ibrahim al-Madhoun, escritor e analista político palestino.
“A invasão ao Hospital al-Shifa demonstra que Israel é uma entidade frágil, deveras fraca em termos de inteligência, operação e mídia”, declarou al-Madhoun à rede Quds Press.
“Este não é o mesmo Israel que planeja e executa tudo profissionalmente, que conduz operações focadas”, reiterou al-Madhoun. “Este é um exército que é arbitrário em seu pensamento, comportamento e comunicação, como se fosse Terceiro Mundo”.
“A coletiva do porta-voz militar é uma piada aos olhos da imprensa”, acrescentou.
Daniel Hagari, porta-voz do exército israelense, alegou previamente: “Encontramos armas, materiais de inteligência e tecnologia militar no hospital”.
“Parece que Israel se baseou em informações falsas, foi ludibriado ou talvez apelou a rumores antigos da presença de lideranças do Hamas e de Abu Obaida [porta-voz do movimento] em al-Shifa”, observou al-Madhoun.
Para o autor, Hagari “parecia um comediante ruim, mostrando supostas descobertas em al-Shifa após tamanha destruição, devastação e brutalidade”.
“Atacar e invadir o Hospital al-Shifa será uma desgraça marcante a Israel”, apontou a análise. “De fato, alvejar hospitais é mais uma evidência de que o inimigo perdeu sua capacidade de estimar e controlar o que faz e passou a se portar abertamente como um gângster hostil que sequer leva em consideração parâmetros morais ou a lei internacional”.
Forças israelenses invadiram o Hospital al-Shifa em torno das 2h00 (00h00 GMT), ao lançar bombas de fumaça no pronto-socorro e nos centros de internação, após seis dias de cerco.
Então revistaram e vandalizaram o pronto-socorro, salas de cirurgia e departamentos de
cuidados especializados. Pacientes, profissionais e refugiados foram rendidos, vendados,
despidos e interrogados no pátio leste.
Israel alega conduzir uma “operação precisa e calculada” contra al-Shifa, sob o pretexto de que a instalação abriga combatentes do movimento Hamas. Fontes em campo, entretanto, confirmam que civis que tentaram deixar o local foram baleados à queima-roupa.
Os líderes israelenses, todavia, se negaram a apresentar qualquer evidência para suas ações contra o centro médico — que constituem crime de guerra sob a lei internacional.
Após mais de 15 horas dentro do complexo de saúde, soldados exibiram um punhado de armas supostamente encontradas em al-Shifa, sem qualquer sinal de reféns ou líderes do Hamas — suposta justificativa da ação.
O Monitor de Direitos Humanos Euromediterrâneo advertiu para a duração incomum da operação, ao indicar risco de que as tropas coloniais estivessem “montando um cenário” para encobrir crimes de guerra.
Segundo a ong, o impedimento de que quaisquer oficiais de saúde, imprensa ou agentes internacionais estejam presentes no centro médico durante o ataque “alimenta receios e dúvidas sobre qualquer narrativa posteriormente divulgada”.
Israel matou mais de 11.500 pessoas em 40 dias, incluindo 4.710 crianças e 3.160 mulheres, além de 30 mil feridos. Ao menos 3.500 pessoas continuam desaparecidas sob os escombros — provavelmente mortas.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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