O Comitê de Ética do Parlamento de Israel (Knesset) sancionou temporariamente dois deputados palestinos por “comentários inflamatórios” após a incursão do movimento Hamas ao território designado Israel, em 7 de outubro.
Aida Touma-Suleiman, da Frente Democrática por Paz e Igualdade, e Iman Khatib Yassin, da Lista Árabe Unida, foram banidas de registrar seus votos e sequer participar das audiências legislativas por dois meses, além de deduções salariais.
Na semana passada, o comitê suspendeu Ofer Cassif por 45 dias e reteve sua remuneração por 14 dias, após o deputado expressar “uma conexão entre o Holocausto e a atual política de governo [israelense] em tempos de guerra”.
“O Comitê de Ética me suspendeu por dois meses por criticar as ações do exército israelense em Gaza”, reiterou Touma-Suleiman na plataforma social X (Twitter). “Silenciar vozes críticas dos cidadãos palestinos e de ativistas contra a guerra está em alta hoje em dia. É preciso dar fim à guerra, a perseguição tem de acabar”.
A Frente Democrática por Paz e Igualdade e a Lista Árabe Unida condenaram a “decisão injusta” do comitê, ao descrevê-la como “perigosa escalada da perseguição política”, ao suprimir vozes eleitas ao legislativo.
Segundo ambos os partidos, o comitê está alinhado às políticas do ministro de Segurança Nacional e deputado de extrema-direita, Itamar Ben-Gvir, que busca reprimir de maneira implacável qualquer dissidência.
O bloco destacou que o chamado de Touma-Suleiman, ao reivindicar um cessar-fogo em Gaza e o fim do assassinato de civis inocentes, representa uma posição humanitária, em france contraste aos crimes perpetrados por Israel em Gaza.
A coalizão reiterou ainda que o governo israelense, junto de diversos ramos oficiais, está incitando uma turba de extrema-direita sedenta por sangue, tanto por ações quanto por discursos, como chamados de ministros por uma “nova Nakba”, em referência à limpeza étnica dos palestinos desde 1948.
Segundo o alerta, a resposta de Tel Aviv foi suprimir vozes que propõem uma solução política, em vez de uma tomada militar.
“Recebemos notícias sobre a invasão ao Hospital al-Shifa e ações de interrogatório contra os feridos. Como podemos descrever o que o exército da ocupação está fazendo ali?”, destacou o bloco. “Sanções por questionar a narrativa oficial é parte desta perseguição, que parece se intensificar contra nossos representantes, por medo de que continuem a expor a verdadeira face da ocupação, após constrangê-la e a seus líderes na arena internacional”.
Ambos os partidos expressaram apoio a seus deputados: “Declaramos apoio a todos que sofrem perseguição, seja ativistas ou representantes eleitos, e reforçamos nossa posição política em alto e bom som, apesar das tentativas de silenciar nossas vozes”.
Autoridades do apartheid israelense recentemente congelaram contas bancárias de órgãos beneficentes e humanitários ligados à Lista Árabe Unida, por prestar socorro às dezenas de milhares de órfãos em Gaza, ao acusarem o bloco de colaborar com “entidades terroristas”.
Israel mantém uma violenta ofensiva contra a Faixa de Gaza sitiada desde 7 de outubro, em retaliação a uma ação surpresa do movimento Hamas que atravessou a fronteira e capturou cerca de 240 colonos e soldados.
Israel matou mais de 11.500 pessoas em 40 dias, incluindo 4.710 crianças e 3.160 mulheres, além de 30 mil feridos. Ao menos 3.500 pessoas continuam desaparecidas sob os escombros — provavelmente mortas.
Na Cisjordânia, desde então, Israel prendeu mais de 2.650 pessoas, totalizando sete mil palestinos em custódia da ocupação — a maioria, sem julgamento ou sequer acusação; reféns, por definição.
No território designado Israel — isto é, capturado durante a Nakba ou “catástrofe”, em 1948, via limpeza étnica —, cidadãos palestinos do Estado sionista vivem sob apartheid e ditadura de facto, incluindo prisões arbitrárias nas universidades e ruas.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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