O gigante das redes sociais TikTok está sob pressão de celebridades e influencers sionistas para reprimir vozes e conteúdos palestinos sob o pretexto de “antissemitismo”, confirmou uma reportagem do jornal americano The New York Times.
Nesta semana, executivos da empresa realizaram uma reunião privada com dezenas de celebridades pró-Israel, como Sacha Baron Cohen, Debra Messing e Amy Schumer, para debater um suposto “surto de antissemitismo” na plataforma.
Schumer é conhecida por piadas racistas e assumiu uma postura islamofóbica e beligerante desde 7 de outubro, em favor da retaliação israelense contra Gaza após militantes do grupo Hamas cruzarem a fronteira e capturarem colonos e soldados.
Registros do encontro obtidos pelo New York Times mostram, entretanto, que a cúpula do TikTok está sob pressão para cooperar com demandas para reprimir discursos de apoio ao povo palestino.
As celebridades chegaram a equiparar críticas legítimas ao Estado de Israel ao nazismo.
“Vergonha”, disse Cohen a Adam Presser, chefe de operações do TikTok, ao alegar que a plataforma “está criando o maior movimento antissemita desde o nazismo”.
LEIA: ‘Pão e circo’: Musk, Zuckerberg e a arte da distração
A acusação de Cohen contradiz, contudo, denúncias de judeus antissionistas — incluindo sobreviventes do Holocausto — que reiteram que são as ações de Israel, ao se posicionar como representante do povo judeu, que alimentam efetivamente o antissemitismo.
A preocupação das celebridades parece ignorar ainda manifestações neonazistas, incluindo bandeiras e suásticas, que proliferaram nos Estados Unidos nos últimos anos e comentários conspiratórios do bilionário Elon Musk, dono da plataforma social X — antigo Twitter.
Entre as demandas ao TikTok estão restrições ao uso da expressão “do rio ao mar”, utilizada historicamente por ativistas pela libertação da Palestina, que reivindicam um Estado único a todos que queiram viver em paz na região, democrático e secular.
A expressão tem milhares de anos, com raízes em Heródoto e outros autores da Antiguidade, ao caracterizar os limites geográficos da Palestina histórica.
Ironicamente, líderes israelenses se apropriaram da frase para promover a supremacia do Estado colonial sionista “do rio ao mar”, por meio da transferência compulsória e limpeza étnica da população palestina nativa.
Presser reiterou que a frase cabe à interpretação dos 40 mil moderadores da rede: “Caso o sentido pejorativo esteja claro, o conteúdo é deletado. Nossa abordagem até 7 de outubro continua hoje. Quando não está claro ou seu uso é casual, consideramos aceitável”.
LEIA: Facebook apaga perfil de cineasta da Al Jazeera após reportagem crítica
O encontro coincide com a pressão de lobistas que buscam suprimir conteúdo pró-Palestina nas redes sociais. Deputados americanos renovaram apelos para banir o aplicativo de raízes chinesas, ao alegar que Pequim influencia o algoritmo — contudo, sem provas.
Apesar do assédio, os executivos do TikTok assumiram um tom conciliatório. “Obviamente, parte do que disse Sacha é verdade”, afirmou Presser, ao comentar sobre a necessidade de que empresas de redes sociais sejam mais efetivas contra discursos de ódio.
Facebook e Twitter se tornaram particularmente notórios por acolher e mesmo promover grupos, usuários e postagens de grupos neonazistas ou supremacistas brancos. Criticados, Elon Musk e Mark Zuckerberg costumam recorrer à liberdade de expressão.
Neste ano, o jornal The Jerusalem Post mostrou um relance da escala repressiva de Tel Aviv contra o TikTok — demonstrando a apreensão das forças coloniais diante de uma mudança da perspectiva entre o público jovem. Israel é um dos principais países a exigir remoção ou restrição de vídeos da plataforma.
Desde 7 de outubro, Israel mantém bombardeios intensos contra a Faixa de Gaza, deixando 11.500 mortos, incluindo 4.710 crianças e 3.160 mulheres, e 30 mil feridos. Ao menos 3.500 pessoas continuam desaparecidas sob os escombros — provavelmente mortas.
LEIA: Os palestinos estão vencendo a batalha online por Gaza, enquanto Israel comete genocídio
Israel impôs ainda um cerco absoluto a Gaza — sem comida, água, eletricidade ou combustível. Ao promover suas ações, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os 2.4 milhões de habitantes de Gaza como “animais”.
Nesse entremeio, a Casa Branca do presidente Joe Biden, alicerçada pelas maiores redes da imprensa corporativa ocidental, deram apoio incondicional e assessoria a Israel.
Segundo a lei internacional, a cumplicidade com o crime de genocídio pode implicar em indiciamento não apenas a oficiais de governo, mas tambem redes de imprensa e outras corporações — como plataformas de redes sociais.
Foi o caso da Radio Rwanda, condenada por incitar o massacre contra o povo tutsi.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.