O mundo tem uma oportunidade histórica de “ajudar a encerrar permanentemente o conflito israelo-palestina”, destacou o grupo conhecido como The Elders, fundado por Nelson Mandela, líder anti-apartheid e ex-presidente sul-africano, em carta aberta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, nesta quinta-feira (16).
“À medida que aumenta a polarização, o mundo precisa que o senhor assuma uma visão pela paz”, reafirmou a entidade. “Esta visão pode dar esperanças àqueles que rejeitam o extremismo e querem que a violência acabe”.
“Destruir Gaza e matar civis não deixa seguros os israelenses. Ações como essa alimentarão mais violência em toda região e além. Não há solução militar a este conflito”, insistiu a nota. “A credibilidade dos Estados Unidos e seus interesses no mundo estão em jogo”.
“A única forma de tornar israelenses e palestinos seguros é uma solução política duradoura”, prosseguiu. “Neste sentido, é preciso cumprir as aspirações legítimas do povo palestino por seu Estado autônomo”.
O grupo criticou a chamada “solução de dois Estados”, consenso adotado pela comunidade internacional, ao apontar que os países, apesar do discurso, permitiram que uma realidade de Estado único tomasse forma, com a expansão dos assentamentos ilegais israelenses em Jerusalém e na Cisjordânia ocupada.
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Neste mesmo viés, criticou a normalização de relações entre regimes árabes e Israel, ao ignorar as demandas palestinas.
O The Elders reivindicou “duas coisas” de Biden: “Primeiro, estabelecer um plano genuíno para a paz. Segundo, ajudar a construir uma nova coalizão capaz de consolidá-lo”.
Segundo a carta, o plano deve abarcar uma gestão legítima de Gaza, fim da expropriação e anexação de terras palestinas por parte de Israel e reconhecimento de direitos iguais entre israelenses e palestinos, conforme a lei internacional.
“O avanço não será fácil, tampouco breve. Anos de desconfiança e violência deixaram os povos da região longe da mesa de negociação. Agora, no entanto, é hora de recomeçar”.
Negociações entre os grupos nacionais palestinos e Israel continuam paralisadas há anos. O regime ocupante se nega a discutir a constituição de um Estado autônomo e a libertação de presos políticos, ao ponto de rejeitar propostas para uma troca de prisioneiros.
Ao pressionar Biden por uma nova postura, concluiu: “A história jamais se esquecerá”.
The Elders é um órgão independente de líderes globais por justiça social, direitos humanos e sustentabilidade, fundado em 2007.
Desde 7 de outubro, Israel mantém bombardeios intensos contra a Faixa de Gaza, deixando 11.500 mortos, incluindo 4.710 crianças e 3.160 mulheres, e 30 mil feridos. Ao menos 3.500 pessoas continuam desaparecidas sob os escombros — provavelmente mortas.
Milhares de prédios, incluindo hospitais, escolas, mesquitas, igrejas e abrigos foram danificados ou destruídos.
Israel impôs ainda um cerco absoluto a Gaza — sem comida, água, eletricidade ou combustível. Ao promover suas ações, o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, descreveu os 2.4 milhões de habitantes de Gaza como “animais”.
Biden mantém apoio incondicional a Israel, apesar de crescente pressão doméstica e regional, às vésperas de um conturbado ano eleitoral em 2024.
As ações israelenses são punição coletiva, crime de guerra e genocídio.
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